Postagens

Mostrando postagens de julho, 2023

Meus colunistas favoritos

Imagem
Por Adelson Vidal Alves Gosto de ler artigos de opinião, mas sou seletivo. Evito os fanáticos e escritores de encomenda. Desprezo os bajuladores e militantes, prezo pela opinião corajosa, embasada e também pela beleza de uma boa crônica. Cito aqui os colunistas que mais aprecio. João Pereira Coutinho é um debochado e irônico escritor português. Conservador de carteirinha, seus textos não respiram moralismo fundamentalista, ao contrário, demonstram uma erudição laica absurda.  Luiz Felipe Pondé une conhecimento e filosofia maldita com seu enorme prazer em provocar. Seu tom pessimista me fascina. Na filosofia conservadora também gosto de Denis Rosenfeld, que é bem mais formal que Pondé, tendo uma coerência intelectual impecável.  Ruy Castro é aquele colunista que te faz desejar que o artigo não acabe, tamanho é o prazer da leitura de seus textos, que abordam de política a futebol. Antonio Prata é meu cronista favorito. Quando o leio rola aquela inveja de não poder escrever como ele.  Dem

Nomeação de Pochmann para o IBGE mostra que radicalismo petista tem influência

Imagem
 Por Adelson Vidal Alves  O terceiro mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva tem as abobrinhas presidenciais, encontros com ditadores, mas também tem uma surpresa: a economia. Quem temia o ministro Fernando Haddad subordinado às visões populistas e terceiromundistas de Lula se enganou feio. Quem esperava um enfrentamento programático com a ministra do Planejamento Simone Tebet também se enganou. Haddad tem se mostrado preocupado com a ordem fiscal do país, e está encaminhando uma bela reforma tributária. Seu bom alinhamento econômico com Tebet, inclusive, é demonstrado na nomeação de Márcio Pochmann para o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Ambos não queriam a indicação de Pochmann. Márcio Pochmann é um economista ligado a UNICAMP, onde atua o grupo de resistência ao liberalismo econômico que prevaleceu em todos os governos da nova República. Pochmann acumula bizarrices, como sua oposição ao PIX, tratado por ele como "neocolonial". Durante o gover

Taxar mais os ricos é uma boa ideia?

Imagem
  Por Adelson Vidal Alves  O ministro da Fazenda Fernando Haddad disse que está sendo avaliada uma taxação dos ricos no Brasil. A pesquisadora Camila Rocha trouxe pesquisa que mostra ser o povo brasileiro favorável a tal medida. "Os dados coletados no ano passado mostram que 85% dos brasileiros apoiam o aumento de impostos de pessoas muito ricas como forma de garantir educação, saúde e moradia para a população mais pobre" escreveu Camila em referência a pesquisa de 2022 realizada pela Oxfam Brasil. Esses brasileiros não estão sozinhos. Mesmo milionários e bilionários no mundo todo já pediram mais taxações sobre a riqueza. Em 2020, um grupo de ricaços se reuniu e formou o grupo "Milionários pela humanidade", para pedir mais taxação dos governos nas suas próprias rendas. Em 2022 uma carta escrita por mais de 200 milionários foi endereçada ao Fórum Econômico de Davos, onde se lia: "Os extremos são insustentáveis, muitas vezes perigosos e raramente tolerados por

O que pensam os liberais sobre a ajuda do governo aos mais pobres?

Imagem
  Por Adelson Vidal Alves  Pelos critérios do Banco Mundial, o Brasil tem por volta de 62,5 milhões de homens e mulheres (ou 29,4% da população do país) vivendo em situação de pobreza. Entre estas, 17,9 milhões (ou 8,4% da população) na extrema pobreza. Segundo a OIT (Organização Internacional do Trabalho) cerca de 190 milhões de pessoas estão sem trabalho no mundo, e para a FAO, algo em torno de 800 milhões no planeta passam fome.  A revolução industrial rompeu o ciclo malthusiano (crescimento geométrico da população e aritmético dos alimentos), multiplicando em várias vezes a capacidade de produção e oferecendo alimentos em quantidade mais que suficiente para o planeta. Ainda sim, como vimos, milhões de pessoas passam fome. O sistema capitalista é o mais dinâmico da história, e gerou riqueza em dois séculos o que nenhum outro modo de produção foi capaz de fazer. Apesar disso, a pobreza no mundo segue indecente e inaceitável. O crítico literário José Guilherme Merquior, um dos mais re

Freyre e Smith são exemplos de autores vítimas das rotulações

Imagem
  Por Adelson Vidal Alves  "Há um discurso ainda corrente na academia de que o racismo na obra do pernambucano Gilberto Freyre (1900-1987) seria uma espécie de mal-entendido sociológico, embora o autor de "Casa-Grande & Senzala" tenha dado os fundamentos teóricos para aquilo que convencionou-se chamar de "democracia racial", escreveu o sociólogo Wagner Miquéias Damasceno (FSP, 26/12/2022). O artigo termina da seguinte forma: "A verdade é que as críticas a Freyre (...) são ainda pequenas quando comparadas ao alcance de suas ideias. De fato, ainda vigora uma espécie de pacto de silêncio sobre o conteúdo de suas obras." A acusação contra a Freyre é de que o sociólogo pernambucano teria criado e desenvolvido o conceito de democracia racial, ou seja, uma suposta realidade de convivência cordial entre as raças no Brasil, reduzindo a gravidade do racismo e a violência da escravidão na América portuguesa. Intelectuais como a antropóloga Lilia Schwarcz tra

Alguém aí quer voltar para a Idade Média?

Imagem
  Por Adelson Vidal Alves  "Havia, em uma palavra, por trás de toda vida social, um fundo de primitividade (...) A mortalidade infantil não deixou de endurecer os sentimentos locais em relação a lutos quase normais. Quanto a vida dos adultos , ela era, até mesmo independentemente dos acidentes de guerra, relativamente curta (...) Entre tantas mortes prematuras, muitas se deviam a grandes epidemias (...) Associadas às violências diárias, essas catástrofes davam à existência como que um gosto de precariedade perpétua" O cenário descrito acima faz referência à vida na sociedade feudal da Idade Média. As palavras são do historiador francês Marc Bloch no seu clássico "A sociedade Feudal".  A servidão, a inquisição, a péssima infraestrutura, a precariedade sanitária e o obscurantismo completam esse ambiente tenebroso medieval. Bloch termina: "Deve-se acrescentar a insegurança, aumentada pelo despovoamento que ela própria havia, em parte, provocado (...) Comparada ao

Jari, seja nosso prefeito

Imagem
Por Adelson Vidal Alves  Sei que prometi pra mim mesmo não me envolver nas eleições do ano que vem. Farei o possível para isso. No entanto, ficar indiferente à dinâmica política não é coisa de democrata responsável, ainda mais quando a própria democracia sofre ataques.  Volta Redonda, minha cidade, recebeu ontem uma verdadeira caravana da barbárie. Entre os integrantes estava o general Pazuello, aquele senhor responsável pela omissão criminosa do governo Bolsonaro durante a pandemia. Ele veio dar as bênçãos para a criação do PL no município, o partido que abriga os protofascistas brasileiros. A legenda pretende ganhar a prefeitura da cidade do aço e encher o Palácio 17 de Julho de adoradores da Cloroquina. Já pensou? Eles miram o prefeito Neto, acreditam que podem vencer toda a máquina de poder do netismo usando da paixão sectária dos seguidores do "mito". Não vai ser só paixão, claro, muito dinheiro dos empresários cairá na candidatura da extrema-direita. Neto, Cláudio Castr

Os liberais devem apoiar o governo Lula?

Imagem
  Por Adelson Vidal Alves  Não são justas as críticas do crítico literário Roberto Schwarz ao liberalismo brasileiro no seu famoso ensaio "As ideias fora do Lugar", já escrevi sobre isso aqui. Schwarz atacou a convivência de muitos liberais do Brasil com a escravidão. Pensou, logo, numa relação paradoxal entre a estrutura da realidade nacional e o desenvolvimento das ideias liberais. Um equívoco, se percebermos que mesmo nas democracias mais desenvolvidas as ideias do liberalismo avançaram ao lado do cativeiro.  Mas se as críticas do grande intelectual brasileiro vão para o lado errado, é correto interpretar um certo desconforto do liberalismo na formação do Brasil. Triunfou em nossas terras uma herança ibérica que priorizou o Estado patrimonial no lugar do mercado e da impessoalidade. Até hoje estamos debaixo de um gigantismo estatal paternalista, ao invés de passarmos para uma fase de mais responsabilidade individual e empreendedorismo. Isso tudo produziu um ambiente hostil

Como saber se sou um conservador?

Imagem
  Por Adelson Vidal Alves* Nos últimos anos temos presenciado uma "febre conservadora". Os eleitores de Bolsonaro batem no peito orgulhosos de serem patriotas e defensores da família, contra a ameaça dos "globalistas"e da "ideologia de gênero". A alguns destes perguntei se já tinham ouvido falar de Russell Kirk, Roger Scruton ou T.S. Eliot. A maioria respondeu: quem?  O conservadorismo filosófico é pouco conhecido nos meios populares brasileiros. O cristianismo e a religião em geral acabam sendo a principal diretriz do comportamento dos ditos conservadores. Mas, afinal, como saber se sou um conservador?  Vou deixar de lado debates mais profundos quanto as raízes e localizar a gênese moderna desta filosofia em um livro bastante importante: Reflexões sobre a revolução na França, do britânico Edmund Burke. Nele, o autor faz críticas fortes à revolução francesa, vindo a exaltar a tradição britânica. O jacobinismo, o terror, a guilhotina seriam tão somente a ba

As mulheres iluministas que denunciaram o machismo dentro do iluminismo

Imagem
Por Adelson Vidal Alves  O iluminismo mudou a vida da humanidade para melhor. As ideias ilustradas valorizaram soluções racionais no lugar de fanatismos e superstições. Promoveu a ciência, combateu o despotismo, defendeu o progresso e a liberdade econômica. Nada disso, no entanto, impediu que seus maiores representantes pronunciassem afirmações hoje condenáveis.  David Hume escreveu: "Tendo a suspeitar que os negros (...) sejam naturalmente inferiores aos brancos (...) Nunca houve nação civilizada de qualquer outra compleição senão a branca". Na mesma pegada vai o alemão Immanuel Kant, para quem a diferença entre brancos e negros "parece ser tão grande em capacidade mental quanto na cor”. Voltaire demonstrou antissemitismo ao falar sobre os judeus: "todos eles nascem com fanatismo desvairado em seus corações”. Alem disso, John Locke, o grande pensador inglês, era sócio de uma empresa de escravos.  Os iluministas defendiam a igualdade entre os homens, mas apenas entr

O Brasil precisa de uma esquerda democrática

Imagem
  Por Adelson Vidal Alves  Vamos definir esquerda como o amplo campo político interessado em igualdade e justiça social. Esse campo acolhe todos os interessados em mudanças estruturais no país. Divisão de renda, abolição da fome e da pobreza e fim das grandes desigualdades unem todos os que se dizem de esquerda. Como chegaremos a essas conquistas? Aqui começam as divisões.  Comunistas e socialistas desejam destruir o capitalismo por meio de uma revolução. Acabar com a propriedade privada é o programa máximo dos primeiros. A trilha revolucionária geralmente é pensada pelo uso da violência dos de baixo, e o formato do novo Estado assume feições de ditadura de classe. O capital é golpeado finalmente.  A concepção revolucionarista da esquerda é puro fracasso na história brasileira. Não só pela intentona de 35, que pelo próprio nome já entendemos seu significado. Mas o revolucionarismo de nossa terra em si jamais foi capaz de formular e executar uma revolução de sucesso, pelo menos não sufi