O Brasil precisa de uma esquerda democrática

 

Por Adelson Vidal Alves 

Vamos definir esquerda como o amplo campo político interessado em igualdade e justiça social. Esse campo acolhe todos os interessados em mudanças estruturais no país. Divisão de renda, abolição da fome e da pobreza e fim das grandes desigualdades unem todos os que se dizem de esquerda. Como chegaremos a essas conquistas? Aqui começam as divisões. 

Comunistas e socialistas desejam destruir o capitalismo por meio de uma revolução. Acabar com a propriedade privada é o programa máximo dos primeiros. A trilha revolucionária geralmente é pensada pelo uso da violência dos de baixo, e o formato do novo Estado assume feições de ditadura de classe. O capital é golpeado finalmente. 

A concepção revolucionarista da esquerda é puro fracasso na história brasileira. Não só pela intentona de 35, que pelo próprio nome já entendemos seu significado. Mas o revolucionarismo de nossa terra em si jamais foi capaz de formular e executar uma revolução de sucesso, pelo menos não suficiente para alterar drasticamente estruturas econômicas e sociais. A abolição da escravatura foi a única revolução social a triunfar. 

Desde a década de 40 que o Brasil está inserido no Ocidente. Nossa modernização por cima construiu um processo periférico de ocidentalização, mas ainda assim ganhamos traços ocidentais. Transformar nosso país, desde então, só é possível e seguro andando por dentro das instituições. Qualquer esquerda que pretenda atalhos se torna anacrônica. A esquerda que pensamos construir deve ser acima de tudo democrática e constitucionalista. Isto é, seu programa é a Constituição Federal de  1988. 

A esquerda democrática que o Brasil tanto precisa é naturalmente reformista. É preciso operar reformas no seio do Estado brasileiro de modo a democratizá-lo, abrí-lo ainda mais para as demandas subalternas, elaborando pactos de modernização e eficiência no funcionamento da máquina pública. 

O PT embrionariamente se propôs a ser partido, institucionalmente falando, mas sempre dialogando com as organizações da sociedade civil. Inicialmente foi movimentista, depois se adequou ao jogo eleitoral, antes visto como burguês. A democracia ganhou importância na prática do partido, ainda que seu líder maior declaradamente a trate como relativa. Só que o Partido dos Trabalhadores perdeu a energia  reformista que um dia ameaçou empregar nos seus governos. Seu "reformismo fraco" age subalternamente aos interesses de poder. Ou seja, o PT já não é capaz de ser o polo aglutinador de uma esquerda democrática nos termos aqui propostos. 

A falência do PT engolido pelo lulismo nos provoca a reflexão para uma nova frente política, de esquerda e democrática. Cabem comunistas, socialistas, liberais, sociais-democratas e outros grupos que aceitem a direção da Carta Magna e acolham a democracia como valor universal. Unidos em torno desses pilares é possível pensar um futuro para o Brasil, mais justo e livre. 


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