As mulheres iluministas que denunciaram o machismo dentro do iluminismo

Por Adelson Vidal Alves 

O iluminismo mudou a vida da humanidade para melhor. As ideias ilustradas valorizaram soluções racionais no lugar de fanatismos e superstições. Promoveu a ciência, combateu o despotismo, defendeu o progresso e a liberdade econômica. Nada disso, no entanto, impediu que seus maiores representantes pronunciassem afirmações hoje condenáveis. 

David Hume escreveu: "Tendo a suspeitar que os negros (...) sejam naturalmente inferiores aos brancos (...) Nunca houve nação civilizada de qualquer outra compleição senão a branca". Na mesma pegada vai o alemão Immanuel Kant, para quem a diferença entre brancos e negros "parece ser tão grande em capacidade mental quanto na cor”. Voltaire demonstrou antissemitismo ao falar sobre os judeus: "todos eles nascem com fanatismo desvairado em seus corações”. Alem disso, John Locke, o grande pensador inglês, era sócio de uma empresa de escravos. 

Os iluministas defendiam a igualdade entre os homens, mas apenas entre os machos. Para Jean-Jacques Rousseau as mulheres deveriam se resumir a educar os filhos e servir os maridos, devendo ser totalmente privadas de direitos políticos. Mesmo assim, apesar desse discurso, surgiu no ambiente da ilustração várias intelectuais a defender, naquele tempo, a igualdade de gênero. 

Escrevendo ao diplomata francês Talleyrand-Perigord em sua obra "Reivindicação dos direitos da mulher", a filósofa inglesa Mary Woolstonecraft diz que o preconceito contra as mulheres é "argumentação de tiranos" e questiona: "Quem fez do homem o juiz exclusivo, se a mulher compartilha com a ele o dom da razão?"

A escritora francesa Olympe de Gouges declarou que "todos as cidadãs e cidadãos, sendo iguais frente a ela [a lei] devem ser igualmente admitidos a todas as dignidades, postos e empregos públicos". Outra francesa, Louise d'Epinay, afirmou abertamente que "É bem evidente que os homens e as mulheres tem a mesma natureza" 

Essas pensadoras integraram o patrimônio intelectual das luzes, mas sem aceitar a inferiorização imposta pelos representantes masculinos do iluminismo. Fizeram história, não só por atuarem em um movimento progressista de grande impacto no mundo, mas principalmente por defenderem todas as mulheres do machismo e do discurso preconceituoso presente naquele grupo.

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