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Mostrando postagens de janeiro, 2023

Negras e mulatas obtiveram ascensão social no Brasil escravista

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Por Adelson Vidal Alves  Chica da Silva é uma personagem conhecida no Brasil. Mulata escravizada que se relacionou com um contratador de diamantes, tendo com ele treze filhos. Foi alforriada, ficou rica, teve escravos e tratamento de respeito na região onde morava. Sua história não é exceção no Brasil escravista. Muitas negras e mestiças não só conseguiram liberdade como acumularam poder e riqueza, é o que conta As sinhás pretas da Bahia: suas escravas, suas joias,  do antropólogo Antonio Risério.  O livro causou polêmica quando lançado, principalmente a partir de uma resenha assinada pelo então colunista da Folha de São Paulo, Leandro Narloch. Os críticos esqueceram a verdadeira autoria da obra e centraram fogo no resenhista. Thiago Amparo, um dos principais nomes da patrulha identitária na imprensa, acusou o texto de racista e responsabilizou o jornal, dizendo "eu me reservo a dignidade derradeira de dizer com todas as letras que a coluna de Leandro Narloch é racista; que public

Cinquenta anos de um livro que mantém vivo o debate sobre história e linguagem

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  Por Adelson Vidal Alves  No século XVIII, a historiografia iluminista envolveu o tempo histórico nas suas perspectivas de progresso. Seu otimismo operado a partir do racionalismo, guia toda a sua narrativa histórica, incapaz, a seu próprio ver, de revelar precisamente o "reino dos fatos". A descrição da história, assim, se dá em meio à fantasia, sátira e ironia. No século XIX, autores diversificados como Leopold Von Ranke, Jules Michelet, Hegel e Karl Marx, irão trazer novas questões no que toca à teoria da história. Nesta trilha segue Hayden White em sua obra que completa esse ano meio século de existência. Meta-história: a imaginação histórica do século XIX  foi publicada originalmente em 1973 e desde então provoca calorosos debates sobre a relação da história como ciência e o seu relato. Hayden V. White nasceu em 12 de Julho de 1928, nos Estados Unidos, sendo um dos principais nomes da chamada "virada linguística". Sua principal contribuição acadêmica se deu na

Liberalismo e democracia são sinônimos?

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Por Adelson Vidal Alves  Quem deve ter o poder de decisão? Se sua resposta for "um soberano", é monarquia. Se disser "só alguns" então é oligarquia. Mas se você prefere que o poder fique nas mãos do povo, você defende a democracia.  Benjamin Constant em seu famoso discurso " A   liberdade dos antigos comparadas  a dos modernos" explica a antiga liberdade como sendo o exercício público e direto da escolha popular. Entre os modernos, prevalece a liberdade dos indivíduos para acumular. Nas democracias liberais, há um feliz casamento entre o sufrágio universal e os direitos individuais. Mas isso não significa que democracia e liberalismo sejam sinônimos. Se um regime político permite a eleição democrática de tiranos que atacam direitos dos indivíduos, tal democracia não é liberal.  Nem todo liberal é democrata. Basta lembrar a grande obra de Alex de Tocquevile, " Da democracia na América". O autor compreendeu que a democracia pode promover uma &quo

Esclarecendo algumas mentiras que contam sobre o liberalismo

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Por Adelson Vidal Alves  OS LIBERAIS APOIAM OS RICOS CONTRA OS POBRES  O liberalismo não é uma ideologia que defende uma classe, como é o marxismo. O que se defende é geração de riqueza para toda a sociedade, de modo que todo liberal apoia um modelo social de livre troca, de cooperação voluntária. Não apoiamos guerra de classes, apostamos na harmonia social gerada pelo livre mercado. O ESTADO É MAU E NÃO SERVE PARA NADA  Comunistas e anarquistas querem o fim do Estado, não os liberais. Sabemos que a iniciativa privada é mais eficiente na geração de riqueza, por isso defendemos uma sociedade onde a maior parte da produção fique em mãos privadas. Mas a existência de um Estado capaz de mediar conflitos é importante. Além disso, muitos teóricos liberais consideram essencial a assistência social pública, como a bela proposta de Milton Friedman em "Capitalismo e Liberdade". O MERCADO SOLUCIONA TUDO  Há pensadores do liberalismo clássico que, de fato, apostam na "mão invisível

Identitários falsificam a história nas salas de aula

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Por Adelson Vidal Alves  Era novembro e os professores se mobilizavam para a "Semana da Consciência Negra". Cada docente deveria trabalhar um tema em sua disciplina. Em artes: a beleza das danças africanas. Em língua portuguesa: a variedade dos dialetos africanos. Em geografia: a constituição do território africano. Também era necessário mostrar as personalidades negras que obtiveram destaque e sucesso, a fim de "resgatar a autoestima das crianças e dos adolescentes negros e negras". Os professores  trabalhavam de forma dedicada a fim de celebrar o orgulho racial negro.  Fui fazer minha parte. Abordei em minhas aulas a origem da data comemorativa, e resolvi problematizar o quilombo que dera origem à comemoração do 20 de novembro. É que meus alunos tinham aprendido que Palmares foi uma sociedade igualitária, democrática, sem hierarquia e que combatia o sistema escravista. Um mito produzido por identitaristas catequistas que falsificam a história por puro interesse id

Uma Casa de Cultura em Volta Redonda

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Por Adelson Vidal Alves  Imaginem um espaço de cultura em Volta Redonda disponível ao debate e à confraternização cultural das várias formas artísticas e de vivência existentes em nossa cidade. Esse é meu sonho.  As políticas culturais da cidade do aço tem sido basicamente o suprimento de iniciativas individuais dos artistas e também de eventualidades de cultura ou do entretenimento. Não tenho conseguido vislumbrar por aqui ações grandiosas e duradouras capazes de colocar a dimensão cultural para além de meras expressões pontuais e temporais. Falta a consciência de que pela política de cultura é possível estabelecer bases de sustentação para a civilidade, o exercício da liberdade, da tolerância e da cidadania.  Quando falo em uma Casa de Cultura, falo literalmente de um espaço físico, portando biblioteca, salas de apresentação e oficinas, auditório, museu, ambiente de pesquisa. Seria onde os cérebros pensantes debateriam nossa cidade, fornecendo, inclusive, subsídios para o poder públi

Chamar os vândalos que quebraram Brasília de terroristas é um erro conceitual e jurídico

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Por Adelson Vidal Alves  O grande Ariano Suassuna certa vez leu uma crítica no jornal que tratava o guitarrista do Calypso, Chimbinha, como "gênio". Em palestra, comentando o assunto, ele disse: "se eu tratar Chimbinha como gênio, que palavra sobra para eu tratar o Mozart?".  A banalização dos termos políticos tem sido um erro constante da esquerda. Chamar todo mundo de fascista, criticar Bolsonaro como genocida são hipérboles compreensíveis em certos momentos e ambientes, mas não podem haver sistematização por pessoas do poder institucional e até mesmo na imprensa. Representantes dos poderes da República usaram o termo "terrorista" para classificar os golpistas do dia 8, mas tal conceito não cabe, nem no nosso direito nem na maioria das conceituações políticas da academia.  O terrorismo é uma estratégia utilizada por forças em desvantagem na luta por uma causa. Como não podem enfrentar de frente aparatos militares mais poderosos, o recurso do terror é uti

Ideias de alguns liberais que considero equivocadas

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 Por Adelson Vidal Alves  "Quando se toma um táxi em uma rua de Londres, é surpreendente observar com quanta frequência a porta é aberta por um homem que espera ganhar algo por seus problemas", escreveu Herbert Spencer em O individuo   contra o Estado.  Segue ele: "A surpresa diminui, se virmos o grande número dos que estão ao redor dos botequins (...) Elas são pessoas simplesmente boas para nada, que de algum modo ou de outro vivem de algumas coisas que encontram -vagabundos e vadios". Essas duras palavras vieram do autor que emprestou a Charles Darwin a frase "Os mais aptos sobrevivem". Darwin e Spencer eram liberais. Adrian Desmond e James Moore, dois dos mais interessados biógrafos do naturalista inglês, o entenderam como alguém que defendia o "individualismo competitivo" e "odiava o socialismo". De fato, Darwin organizou seu pensamento dentro de seu tempo, com a influência malthusiana de que os seres vivos competiam pelos recursos

Bolsonarismo sem Bolsonaro

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  Por Adelson Vidal Alves  O dia 8 de Janeiro de 2023 entra para a história do Brasil, como o 6 de Janeiro entrou para a história americana, ambos como capítulos trágicos. Arruaceiros golpistas repetiram o Capitólio trumpista, destruindo patrimônio público e promovendo terror na capital Federal brasileira. Lá, nos nossos vizinhos do Norte, o presidente derrotado emitiu voz favorável ao vandalismo, aqui o que se ouviu foi silêncio, no máximo uma nota discreta de Bolsonaro.  Me pergunto se os tais acampamentos que se ergueram após a vitória de Lula seriam montados caso Bolsonaro tivesse reconhecido o resultado legítimo das eleições. Penso que muito pouca coisa mudaria. Claro que a falta de reconhecimento das urnas por parte do derrotado alimenta o ímpeto golpista dessa gente arruaceira, mas questiono o poder da liderança de Bolsonaro. O papel real do ex-presidente na mobilização de extremistas não me parece claro.  Penso que o bolsonarismo como movimento de massas não surgiu a partir da

Primeiros erros

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  Por Adelson Vidal Alves  Bolsonaro foi derrotado....ufa! Gostaria muito de esquecê-lo, mas ele tem 400 mil mortes e uma terra arrasada para responder, nos nossos tribunais e no da vida vindoura. Que seja preso e arda no fogo eterno, são meus sinceros desejos de 2023. Dito Isso, falemos de Lula.  O novo presidente já tomou posse. Não me venha com o papo de "deixe o homem trabalhar". Qualquer cidadão consciente será vigilante desde o primeiro dia de governo, criticando e apoiando, assim é a democracia. Desta forma, deixo meus elogios aos acertos de Lula com Marina Silva no Ministério do Meio ambiente, Simone Tebet no Planejamento, e Nisia Trindade na Saude. Três grandes mulheres. Marina uma referência ambiental no mundo, Tebet tem ideias econômicas modernas, e Nísia retomou o caráter científico do seu ministério. Registro, ainda, minha satisfação em ver um homem como Gabriel Galípolo na equipe do Ministério da Fazenda. Será um nome importante para defender a agenda liberal na

Egoísmo, coletivismo e liberdade individual

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  Por Adelson Vidal Alves  Certa vez perguntaram à escritora Bárbara Branden como os pobres seriam tratados em uma sociedade objetivista. Ela respondeu: "se você quiser ajudá-los, ninguém vai impedir". O objetivismo é a filosofia que defende a existência de uma realidade objetiva independente da consciência, e que pode ser decifrada pelo uso da razão. O principal nome dessa corrente de pensamento é a filósofa e romancista russo-americana Ayn Rand, autora do fabuloso romance A revolta de Atlas .  Rand tem uma filosofia bastante polêmica. Ela parte de uma crítica feroz ao altruísmo, defendendo o que chamou de "egoísmo racional". A autora compreende que a vida e a felicidade são os objetivos e propósitos da existência racional, não podendo se admitir que o indivíduo sacrifique seu interesse próprio em favor de alguém. Um filho não teria a mínima obrigação de parar de estudar para ajudar seus pais, sacrificando seu futuro em nome de terceiros.  Tais questões são bastant