Bolsonarismo sem Bolsonaro
Por Adelson Vidal Alves
O dia 8 de Janeiro de 2023 entra para a história do Brasil, como o 6 de Janeiro entrou para a história americana, ambos como capítulos trágicos. Arruaceiros golpistas repetiram o Capitólio trumpista, destruindo patrimônio público e promovendo terror na capital Federal brasileira. Lá, nos nossos vizinhos do Norte, o presidente derrotado emitiu voz favorável ao vandalismo, aqui o que se ouviu foi silêncio, no máximo uma nota discreta de Bolsonaro.
Me pergunto se os tais acampamentos que se ergueram após a vitória de Lula seriam montados caso Bolsonaro tivesse reconhecido o resultado legítimo das eleições. Penso que muito pouca coisa mudaria. Claro que a falta de reconhecimento das urnas por parte do derrotado alimenta o ímpeto golpista dessa gente arruaceira, mas questiono o poder da liderança de Bolsonaro. O papel real do ex-presidente na mobilização de extremistas não me parece claro.
Penso que o bolsonarismo como movimento de massas não surgiu a partir da força criativa da narrativa de Bolsonaro. O Brasil viu desde 2013 crescer uma crise no interior da democracia representativa brasileira, com as instituições democráticas sendo abertamente questionadas por inteiros setores da sociedade. Se na Nova República o PSDB foi capaz de canalizar a energia conservadora para dentro da institucionalidade democrática, o momento atual radicalizou a expectativa direitista no país. Sem uma direita democrática, a solução dos conservadores brasileiros foi o extremismo, que encontrou Bolsonaro, não sendo criado por ele.
Além disso, não superestimo Bolsonaro. Não há nada de carismático em sua figura, ao contrário. Trata-se de um perfil tosco, bizarro e pateticamente caricatural. Falta, ainda, capacidade de liderança. Quem perde uma eleição e foge não pode liderar nada.
Resumindo: minha tese é de que se apronta um "bolsonarismo sem Bolsonaro". Isto é, os valores bárbaros cultivados pelo ex-presidente povoando setores minoritários da sociedade, mesmo sem protagonismo de Bolsonaro. Devemos nos perguntar se o caminho para resolver tal questão é a força ou um processo de redirecionamento desse fôlego golpista para agrupamentos moderados da direita. Acho que as duas coisas devem ser pensadas juntas.
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