Egoísmo, coletivismo e liberdade individual

 


Por Adelson Vidal Alves 

Certa vez perguntaram à escritora Bárbara Branden como os pobres seriam tratados em uma sociedade objetivista. Ela respondeu: "se você quiser ajudá-los, ninguém vai impedir". O objetivismo é a filosofia que defende a existência de uma realidade objetiva independente da consciência, e que pode ser decifrada pelo uso da razão. O principal nome dessa corrente de pensamento é a filósofa e romancista russo-americana Ayn Rand, autora do fabuloso romance A revolta de Atlas

Rand tem uma filosofia bastante polêmica. Ela parte de uma crítica feroz ao altruísmo, defendendo o que chamou de "egoísmo racional". A autora compreende que a vida e a felicidade são os objetivos e propósitos da existência racional, não podendo se admitir que o indivíduo sacrifique seu interesse próprio em favor de alguém. Um filho não teria a mínima obrigação de parar de estudar para ajudar seus pais, sacrificando seu futuro em nome de terceiros. 

Tais questões são bastante caras ao pensamento liberal clássico, e envolve, principalmente, a assistência estatal aos necessitados. É correto cobrar compulsoriamente de alguns financiamento a auxílio social do governo aos pobres? Fazer caridade com o dinheiro dos outros não seria eticamente condenável, uma violação à liberdade individual? 

De fato, a maioria dos pensadores liberais compreendem que o ideal seria a contribuição voluntária privada, de modo a conciliar liberdade e amenização da pobreza. Não à toa, o mundo anglófono, de forte influência do liberalismo, produziu uma cultura associativa filantropa mais destacada em relação ao resto do mundo. Mas e quanto aos países de baixa cultura filantrópica? 

Rand questiona a hegemonia altruísta-coletivista da ética que obriga a sociedade a se responsabilizar por todos seus membros, sendo cada um de nós responsáveis naturais pelos os mais desafortunados e de triste destino. O individualismo randiano não exige comprometimento coletivo nenhum a fim de atender os pobres. Ninguém pode ser obrigado a pagar pela infelicidade de ninguém. 

Pessoalmente, considero as interpretações liberais radicais e libertárias sobre a liberdade bastante imperfeitas. Prefiro o social-liberalismo que compreende que o exercício da liberdade exige um grau mínimo de igualdade e cidadania, cabendo ao Estado promover igualdade de oportunidades e vida digna razoável a todos. A sociedade é um pacto de vivência humana, entendendo ser o homem um ser social, que se relaciona, tem vínculos e compartilha destino comuns entre todos. Uma consciência de auxílio mútuo não é coletivismo e muito menos uma imposição ética arbitrária, mas uma constatação inteligente de sobrevivência onde todos podem sair ganhando. 

A preferência da direita pela liberdade e da esquerda pela igualdade delimita posicionamentos políticos na compreensão do papel individual. Liberais de direita optam pela absolutização das decisões pessoais, mas há quem no liberalismo que  consiga conciliar graus de liberdade individual sem ignorar questões da coletividade. No entanto, tratar como dogma a ideia de que "direitos coletivos se sobressaem ao direito do indivíduo" é coletivismo totalitário, do tipo comunista e nazista. Historicamente ambos foram um desastre.

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