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Mostrando postagens de junho, 2023

O significado do imperialismo é discutido desde Marx, Lênin e Hobson até grandes historiadores contemporâneos

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Por Adelson Vidal Alves  O filme brasileiro Medida Provisória inicia com uma cena um tanto quanto utópica. Uma senhora negra indo ao banco para receber a indenização em dinheiro pelos anos de escravidão dos seus ancestrais. A ficção, no entanto, repete a iniciativa real de muitos em tentar construir uma reparação histórica em espécie para as "vítimas do imperialismo".  Em 1999 a Comissão da Verdade do Mundo Africano Para Reparaçôes e Repatriamento, reunida em Acra, aprovou a exigência de uma indenização de US$ 777 trilhões a ser paga pela Europa e todos que se beneficiaram com o comércio de escravos. Ideias esdrúxulas como essa foram incentivadas inclusive pela ONU. O imperialismo como conceito histórico surgiu no início do século XX, com a publicação de Imperialism: a Study , de J.A.Hobson. A explicação de Hobson é a que predomina até hoje nos livros didáticos. Os capitalistas precisavam de novos mercados estrangeiros, já que o capital excedente necessitava de outros locais

O tempo das grandes revoluções acabou?

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  Por Adelson Vidal Alves  14 de Julho é feriado na França. Os franceses comemoram a queda da Bastilha, prisão símbolo do absolutismo. A data também é referência histórica para a Revolução Francesa, a revolta que demoliu o Antigo regime, promoveu conquistas para a burguesia e inaugurou a Idade Contemporânea.  "Há na Revolução Francesa um caráter satânico", escreveu Joseph de Maistre em Considerações sobre a França . De Maistre foi um pensador alinhado à monarquia hereditária e defensor do poder político papal. Para ele, a agitação no país europeu destruiu elementos fundamentais da sociedade francesa e, na verdade, teria sido um castigo divino. Não foram apenas reacionários contrarrevolucionários que criticaram a Revolução Francesa. Edmund Burke, pai do moderno conservadorismo, fez robustas reflexões sobre a violência revolucionária que atingia a França. O resultado de seu pensamento está registrado em Reflexões sobre a Revolução na França,  onde é exposta a interpretação cons

Guerra Civil na Rússia? O que está acontecendo entre o Kremlin e os mercenários do Wagner?

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Por Adelson Vidal Alves  Ievguêni Prigojin é um empresário russo, fundador do grupo Wagner. O grupo Wagner é uma milícia privada ligada a ideias de extrema-direita e que atuou na Crimeia, atua no Sudão, na África e agora na Ucrania. Prigojin sempre foi aliado de Putin, mas recentemente vem cobrando mais protagonismo do seu grupo, fazendo críticas ao comportamento das forças regulares russas. É inimigo pessoal do ministro da defesa Sergei Shoigu. Depois de muito falatório parece que Prigojin resolveu ir para prática, e tudo indica, montou um poderoso motim contra o Kremlin, que acusa o Wagner de tentar um golpe de Estado. Segundo o relato dos rebeldes a cidade de Rostov-do-Don, no Sul da Rússia, foi tomada e um helicóptero das forças russas derrubado. Diante desse novo quadro, o que esperar do futuro da Guerra na Ucrânia? Uma das primeiras hipóteses levantadas seria a da derrubada de Putin por um golpe ou revolta militar. É um cenário improvável. Apesar da força dos mercenários, difícil

George Orwell, defensor das liberdades e da justiça

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Por Adelson Vidal Alves Eric Arthur Blair, o George Orwell, nasceu na Índia britânica em 25 de junho de 1903. No próximo domingo comemoraremos os 120 anos do seu nascimento. Autor de clássicos como A Revolução dos bichos e 1984,  se consagrou como um crítico dos regimes totalitários, mas sua obra vai além disso, muitas vezes sendo distorcida, difamada e usada como propaganda ideológica.  A Revolução dos bichos, sucesso de vendas, talvez seja seu mais conhecido livro. No enredo da obra a história dos animais de uma fazenda lutando contra a opressão humana. A fábula faz crítica aos rumos da Revolução russa de 1917, que desembocou em uma terrível ditadura sanguinária. O desfecho se dá com humanos opressores e porcos se misturando, sem podermos saber quem é quem.  Mas o livro sofreu uma desavergonhada tentativa de manipulação. O agente da CIA, Howard Hunt, comprou da viúva de Orwell o direito de adaptação para o cinema. Transformado em desenho animado, termina com uma nova revolta dos bi

Não importa mais ser de esquerda ou de direita, o importante é ser democrata

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Por Adelson Vidal Alves  Os termos esquerda e direita, no vocabulário político e ideológico, tem raízes na Revolução francesa, quando no lado esquerdo da Assembleia Constituinte estavam os grupos que propunham mudanças mais profundas na França, e no lado direito, os mais conservadores. Desde então, ser de esquerda é ser contestador, brigar por mudanças a favor dos de baixo, enquanto a direita defenderia a conservação de determinados modelos e estruturas socioeconômicas. Do ponto de vista conceitual, me contento com a definição mínima do filósofo italiano Norberto Bobbio, que discutiu tais conceitos no seu livro "Direita e Esquerda: Razões e Significados de uma Distinção Política ". Para Bobbio, a essência em ser de esquerda está na defesa central da busca por igualdade. A direita seria mais tolerante com as desigualdades, focando a questão da liberdade. Vale dizer que tanto esquerda quanto direita são conceitos que abrigam dentro de si variedades. Podemos falar de uma esquerd

"Língua submersa", de Manoel Herzog, narra uma terrível distopia brasileira

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Por Adelson Vidal Alves  Sou apaixonado por distopias, mas também tenho meus medos. Até porque, muito dessa literatura carrega alto grau de possibilidade de realização. A tecnologia reprodutiva do " Admirável mundo novo " de Huxley, o totalitarismo de " 1984" de George Orwell e os livros queimados de "Fahrenheit 451" de Ray Bradbury já tem muito de real no nosso presente. Mas existiria algo pior que um futuro dominado por chineses e evangélicos? Em " Língua Submersa ", de Manoel Herzog, é contada a história da Boliviana-Zumbi (de Bolívar, do indígena e Zumbi, do africano), a nação sulamericana que emerge de uma grande catástrofe ambiental. Na verdade, a inundação não foi um acidente ecológico como se conta nos livros, foi uma sabotagem chinesa. Em Boliviana se fala o portunhol (o português é proibido e amaldiçoado), a moeda é a "bênção" e o poder está nas mãos da Eclésia, o poder teocrático neopentecostal que dirige a vida e os tribuna

Tese da "Grande substituição" ganha força e alimenta crescimento da extrema-direita

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Por Adelson Vidal Alves O presidente da Hungria Viktor Orban é conhecido por sua ofensiva autoritária por dentro do aparato institucional do seu país. Integrante da extrema-direita europeia, ele carrega consigo visões racistas e xenófobas, expressas em episódios como o da recente compra das seis maiores clínicas de reprodução In Vitro do seu país. Sua ideia é incentivar casais a terem filhos, com incentivos que chegam a zerar impostos pelo resto da vida aos participantes do projeto. A única exigência é que os casais não sejam imigrantes. "Procriação, não imigração" foi o lema adotado por Orban, que acredita estar a Europa em perigo devido a grande chegada de imigrantes e a baixa taxa de natalidade entre os europeus. Nos últimos 70 anos a média de filhos nascidos de casais húngaros caiu pela metade. "Existem forças políticas na Europa que querem substituir a população", disse o autocrata, fazendo referência a uma tese xenófoba nascida no ano de 2010. O filósofo Renau

MARCO TEMPORAL DESFAZ MITOS E PROTEGE OS MAIS POBRES

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Adelson Vidal Alves A posse de Lula foi uma verdadeira micareta identitária. Com o novo presidente subiram a rampa representantes de minorias, substituindo a representação dos poderes da República. O novo governo já havia anunciado um ministério para os povos originários e nomeou a nova ministra da Cultura por critérios raciais e de gênero. A esquerda multiculturalista adentrava no espaço máximo do poder federal.  Recentemente a Câmara dos deputados aprovou o marco temporal, derrotando a posição do governo, que foi contra. A base governista votou pelo PL 490, que limita no tempo a demarcação das terras indígenas. Lula e seus aliados identitários queriam um atestado de eternidade na entrega de terras aos indígenas. Ou seja, com a justificativa de que todos os índios de hoje são a continuidade racial dos índios do passado, tenta-se, sem um prazo temporal, a possibilidade da expansão de terras indígenas, primeiro contestando e depois demarcando.  Sem o marco temporal o Estado brasileiro e

SIGNIFICADO E LEGADO DAS JORNADAS DE JUNHO DE 2013

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Por Adelson Vidal Alves  São dez anos desde o início das grandes manifestações populares de Junho de 2013. Elas tiveram início a partir de reivindicações para o transporte público, de orientação nitidamente de esquerda, a partir da ação do MPL (Movimento Passe Livre). Mas a revolta se expandiu, incorporou elementos de direita, conservadores e até reacionários; grupos que iam de anarquistas até monarquistas. No final, no entanto, prevaleceu o eixo conservador e anti-institucional, com consequências ainda nos dias de hoje. Marcos Nobre, um dos mais proféticos analistas políticos da atualidade, publicou na Folha de São Paulo um interessante balanço desses anos, fazendo uma crítica à narrativa predominante na esquerda: a de que Junho teria sido o "ovo da serpente". O Partido dos Trabalhadores, segundo Nobre, preferiu redirecionar a crítica para fora, ao invés de fazer uma análise interna. Escreve ele "A demonização de Junho vai de par com a incapacidade do PT e do campo mais