Tese da "Grande substituição" ganha força e alimenta crescimento da extrema-direita
Por Adelson Vidal Alves
O presidente da Hungria Viktor Orban é conhecido por sua ofensiva autoritária por dentro do aparato institucional do seu país. Integrante da extrema-direita europeia, ele carrega consigo visões racistas e xenófobas, expressas em episódios como o da recente compra das seis maiores clínicas de reprodução In Vitro do seu país. Sua ideia é incentivar casais a terem filhos, com incentivos que chegam a zerar impostos pelo resto da vida aos participantes do projeto. A única exigência é que os casais não sejam imigrantes.
"Procriação, não imigração" foi o lema adotado por Orban, que acredita estar a Europa em perigo devido a grande chegada de imigrantes e a baixa taxa de natalidade entre os europeus. Nos últimos 70 anos a média de filhos nascidos de casais húngaros caiu pela metade. "Existem forças políticas na Europa que querem substituir a população", disse o autocrata, fazendo referência a uma tese xenófoba nascida no ano de 2010.
O filósofo Renaud Camus, antes integrante da esquerda cultural francesa, se converteu ao discurso anti-imigração. Ele escreveu o livro " A Grande substituição" que defende a teoria de que há uma colonização inversa acontecendo na Europa, com a chegada maciça de árabes, negros e judeus. As ideias de Camus tem influenciado fortemente grupos de supremacia branca, que trocaram a narrativa de superioridade dos brancos por um alarmismo vitimista que prega o risco de extinção das pessoas de pele clara.
O pensamento de Camus, que já teve Ronald Barthes escrevendo o prólogo de um dos seus livros, influenciou ataques terroristas, como no caso de Christchurch, na Nova Zelândia, e nos EUA. Patrick Crusius, um desses assassinos, publicou manifesto onde defendia que a invasão de hispânicos aos Estados Unidos deveria ser contida com assassinatos. E no atentado de Christchurch o autor usou de um texto intitulado "A grande substituição" em referência a tese do filósofo extremista francês. Nas manifestações racistas de Charlottesville também se via cartazes de nítida inspiração nazista, baseados nas ideias de Camus.
O sentimento anti-imigração cresce em países como a França. O Instituto francês Opinião Pública registrou em pesquisa que 70% dos franceses não querem mais imigração. O sentimento é que a cultura europeia está sendo substituída ou distorcida pela presença de negros e muçulmanos. Muito dessa opinião pública vem de textos filosóficos, históricos e literários que agem de diversas formas no espaço de debate francês e europeu. Autores maia radicais como Jean Raspail, autor do romance "O Campo dos Santos", até conservadores como o filósofo britânico Roger Scruton e o jornalista Charles Murray criticam aspectos da imigração em massa, alertando para o enfraquecimento da cultura europeia.
Criticar o processo migratório nem sempre é racismo ou xenofobia. Muitos nacionalistas conservadores só querem conservar seu estilo de vida, defendendo assimilação por parte dos recém-chegados. Mas quando tal discurso se radicaliza e cai para o campo da teoria da conspiração, como no caso da tese da "Grande substituição", o que temos é o fortalecimento de comportamentos extremistas e violentos, próprios da extrema-direita que ganha cada vez mais espaço político.
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