George Orwell, defensor das liberdades e da justiça


Por Adelson Vidal Alves

Eric Arthur Blair, o George Orwell, nasceu na Índia britânica em 25 de junho de 1903. No próximo domingo comemoraremos os 120 anos do seu nascimento. Autor de clássicos como A Revolução dos bichos e 1984, se consagrou como um crítico dos regimes totalitários, mas sua obra vai além disso, muitas vezes sendo distorcida, difamada e usada como propaganda ideológica. 

A Revolução dos bichos, sucesso de vendas, talvez seja seu mais conhecido livro. No enredo da obra a história dos animais de uma fazenda lutando contra a opressão humana. A fábula faz crítica aos rumos da Revolução russa de 1917, que desembocou em uma terrível ditadura sanguinária. O desfecho se dá com humanos opressores e porcos se misturando, sem podermos saber quem é quem. 

Mas o livro sofreu uma desavergonhada tentativa de manipulação. O agente da CIA, Howard Hunt, comprou da viúva de Orwell o direito de adaptação para o cinema. Transformado em desenho animado, termina com uma nova revolta dos bichos, dessa vez contra os traidores e com o triunfo da liberdade na fazenda. É um novo final, usado como pura propaganda. 

Orwell ingressou na Polícia Imperial britânica em 1922, indo para Birmânia, onde é hoje Myanmar.  Seus cinco anos de funcionário imperialista lhe renderam um ódio brutal ao colonialismo inglês, testemunhado em forma de romance, Dias na Birmânia, de narrativa crítica aos excessos britânicos naquela colônia. Recebeu proposta para  que o livro virasse filme, e respondeu com uma ironia, sugerindo um novo título. Seria chamado "O fardo do homem negro", referência ao poema de Rudyard Kipling, célebre por defender o imperialismo que Orwell passou a abominar. 

Politicamente Orwell demonstrou algumas simpatias, mas sempre fazendo ressalvas. Ele chegou a declarar : "Eu me tornei pró-socialista mais pela repugnância com a forma com que o setor mais pobres dos trabalhadores industriais eram oprimidos". No entanto, fez questão de explicar que não se tornara um adepto da teoria econômica do comunismo historico que exigia planificar a economia. Nosso autor foi vítima de ataques brutais do marxismo ortodoxo, incapaz de compreender o pensador plural que era. 

Em mais uma de suas aventuras, Orwell foi lutar na  Guerra civil espanhola, ao lado dos republicanos contra os franquistas. Antes teve que procurar uma organização internacional que o credenciasse para a Guerra. Ele recusou a indicação dos comunistas britânicos para se alistar pelas Brigadas Internacionais, ligadas à Moscou. Procurou uma dissidência do Partido Trabalhista Inglês, que na Espanha viu seu líder ser preso, torturado e morto aos olhos de agentes soviéticos. Sobre a experiência de Orwell na guerra civil vale a leitura de Lutando na Espanha. 

No ensaio Dentro da baleia está uma profunda crítica aos ilegais e corruptos Processos de Moscou, operado contra os dissidentes do totalitarismo comunista. Mais uma crítica ao regime soviético. Seu ensaio recebeu duro ataque de ilustres intelectuais marxistas da Inglaterra. Edward Thompson acusou o texto de levar a juventude inglesa para a passividade. Seria Orwell o culpado pela apatia juvenil inglesa para a revolução, não o terror de Stalin e outros.

Já Conor Cruise O'Brien, historiador irlandês, atacou A revolução dos bichos como sendo uma "nostalgia britânica pré-1914" e sentenciou: "embora condene o imperialismo britânico, ele odeia suas vítimas" em comentário sobre o romance Dias na Birmânia

Mas, afinal, quem foi George Orwell ideologicamente? 

Ele chegou a responder: "Todas as linhas de trabalho sério que escrevi desde 1936 foram escritas contra o totalitarismo e a favor do socialismo democrático". Porém, a própria definição de socialismo democrático tem uma interpretação pessoal do autor, como ele mesmo admite. 

A obra orwelliana é rica, e pode ser amada e odiada por todas as linhas políticas. Rotular Orwell seria um erro. Mas claro em seu trabalho está sua paixão pela liberdade e o ódio pela injustiça. Um autor formidável com um trabalho a ser contemplado e refletido por todos que amam ser livres e viver democraticamente.

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