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Mostrando postagens de maio, 2023

Ciência na dose certa

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Por Adelson Vidal Alves  Karl Popper é um dos grandes nomes da filosofia da ciência. Em seus trabalhos ele trouxe uma questão fundamental sobre o que é o conhecimento científico: a ideia de falseabilidade. Simplificando, Popper entendia que só há ciência quando há a possibilidade de refutação. Verdades absolutas são coisas da religião, não da boa ciência. Difícil explicar isso para muita gente que costuma desqualificar conhecimentos consolidados, como vacinas e remédios, só porque novos estudos revisam a "verdade" até então estabelecida. Ao contrário de comprometer a ciência, isso atesta o que é ciência de verdade. A metodologia científica moderna pode ser encontrada até mesmo em mentes religiosas da antiguidade, mas é a revolução iluminista que lhe deu caráter secular e racionalista. A ciência foi consagrada na prática como a mãe epistemológica do mundo moderno, sendo a grande guia das decisões humanas. Nada contra a religião ou o empirismo, mas a eu só tomo um remedinho pra

Utopias para um novo colonialismo

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  Por Adelson Vidal Alves  Paul Romer foi economista chefe do Banco Mundial e um dos vencedores do Prêmio Nobel em 2018. Anos antes ele tinha trazido a ideia das charter cities , ou seja, a proposta de que nações ricas arrendassem terras desabitadas nos países pobres. Basicamente, o espaço arrendado atenderia a iniciativas econômicas e também na construção de boa governança. O professor Bruce Gilley imaginou a realização dessa utopia na Guiné-Bissau. O país tem um simbolismo aqui, pois seu processo de independência é o avesso dessa proposta, já que a luta emancipacionista de lá procurou destruir por completo a herança colonial que recebeu. A descolonização ao invés de democratizar e prosperar o país acabou por produzir terríveis retrocessos sociais e econômicos. Gilley pensou na Ilha das galinhas, território vazio onde poderia ser pensada uma nova ocupação portuguesa, por umas nove décadas mais ou menos. Os habitantes viriam do próprio país voluntariamente, e trabalhariam junto ao proj

É possível um colonialismo ser benéfico?

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Por Adelson Vidal Alves  Lorde William Bentinck, então governador geral da Índia, proibiu em 1829 a prática do sati. O costume hindu consistia na imolação de viúvas no funeral do marido. Mulheres eram cruelmente queimadas vivas. O governo do Reino Unido criminalizou essa bárbara tradição nativa. O que teria acontecido caso os indianos não estivessem debaixo de uma administração colonial de natureza liberal? Os próprios nativos encerrariam essa situação ou podemos dar créditos ao imperialismo britânico? Para grande parte das pessoas o colonialismo é sinônimo de exploração, escravidão e genocídio. Nas grades curriculares das escolas e das universidades falar em imperialismo e dominação colonial só para mostrar o quanto os europeus foram malvados e saqueadores. Eles teriam ficado ricos enquanto os dominados penavam subdesenvolvimento. Na mentalidade dominante acadêmica e popular os países da África só são pobres pois suas riquezas foram tomadas pelas potências europeias.  Bruce Gilley, pr

Por que Dilma caiu? Culpa da Lava Jato, diz livro que acaba de sair

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Por Adelson Vidal Alves  Os petistas e seus aliados à esquerda dizem que o impeachment de Dilma Roussef tem uma explicação simples. As elites derrubaram a presidente pois não aguentavam mais perder nas urnas. As administrações populares do PT só poderiam ser interrompidas por um golpe.  Sou adepto da explicação clássica. Havia uma profunda crise econômica, Dilma perdeu apoio político e as manifestações de ruas fecharam o pacote de elementos que ceifaram a capacidade de governar da presidente.  O cientista político Fernando Limongi tem uma outra proposta. Em " Operação impeachment: Dilma Roussef e o Brasil da Lava Jato" o autor entende que a queda de Dilma se deu por uma uma interpretação política de que ela não seria capaz de frear o trator lavatista, que saía dos círculos petistas e ameaçava atropelar todo mundo.   O livro de Limongi reúne os acontecimentos que terminaram no impedimento da presidente Dilma Roussef, de forma relativamente resumida usando basicamente de report

Censura de Léo Lins revela o cinismo da esquerda totalitária

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Por Adelson Vidal  Um humorista foi censurado, seu show está proibido e ele teve sua circulação restrita. Seu material foi apagado das redes sociais. Não, o caso aqui não aconteceu na Coreia do Norte ou em Cuba. Também não é uma história dos tempos da Alemanha nazista, ainda que isso aconteça e tenha acontecido nesses países. O caso é brasileiro, em pleno século XXI. O artista Léo Lins, por piadas com minorias, está proibido de vender seu peixe, em nome da moral e dos bons costumes do politicamente correto.  Há quem aplauda essa indecência ilegal e autoritária. Frear liberdades seria necessário a fim de proteger minorias da ofensa e do sofrimento. Já escrevi aqui sobre o safe space, a ideia de que se faz necessário criar ambientes seguros para os oprimidos. Em nome de reparações históricas, cercam adultos com proteções infantilizadoras. Léo Lins foi para a fogueira por supostamente trazer ofensas a grupos prejudicados. Sua piada passa a ser ilegal, coisa que jamais aconteceu quando o a

As ideias da Rússia reacionária que desafiam o Ocidente

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  Por Adelson Vidal Alves  Petr Yakovlevich Chaadayev, ou Peter Chadaev, escreveu em francês as oito " Cartas filosóficas", que causaram barulho no meio da inteligência russa do início do século XIX. Nestes manuscritos havia uma crítica ácida ao passado russo e a fé ortodoxa, vistos como pontos de atraso frente aos elementos avançados da cultura europeia. Antes de Chaadaev, Pedro, o Grande, já tentara inserir a Rússia no mundo moderno, a partir de influências ocidentais. Contra tais ideias e movimentos modernizadores surgiram os eslavófilos. Os chamados eslavófilos se opunham aos ocidentalizantes russos. Estes últimos pensaram a história a partir da ótica do progresso e da laicidade. Os primeiros queriam uma Rússia simples, ancorada no imaginário das comunidades. O eslavofilismo, que tinha nomes como Aleksei Khomiakov, preferia o ideal comunitarista de beleza e simplicidade, preso a um certo conservadorismo religioso. Os adeptos do ocidentalismo se apegaram ao modelo evoluci

A maior revolução social da nossa história, mas que deixou dívidas

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Por Adelson Vidal Alves  Das 12 milhões de almas que atravessaram o Atlântico em navios tumbeiros (assim chamados porque se assemelhavam a verdadeiras tumbas), 4,9 milhões tiveram como destino o Brasil. Na terrível travessia, com a incerteza de para onde iriam, muitos dos negros e negras sequestrados de sua terra temiam em suas mentes o canibalismo dos novos povos que supostamente encontrariam. Sem alimentação decente e em lugares insalubres, contraíam doenças e eram esmagados pela lotação das embarcações negreiras. Mortos, tinham seus corpos atirados ao mar. Chegando à América Portuguesa, longe de seu povo, dos seus costumes e da sua cultura, conheceriam o trabalho compulsório e o cotidiano do castigo. As negociações para o comércio escravocrata envolviam os europeus, traficantes e mesmo os próprios reinos africanos, alguns destes alcançando prosperidade e centralização politica à custa da caça e da captura de sua própria gente.   No Brasil, a escravidão não se fundou prioritariamente

Marx, 205 anos

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Por Adelson Vidal Alves Na minha juventude fiz parte da ala esquerda da Igreja Católica, a chamada teologia da libertação. Com os evangelhos, a denúncia dos profetas, o Vaticano II e a Doutrina Social da Igreja, encontrei minha indignação ética com a pobreza e as grandes desigualdades que assolam o mundo. Pelos livros de Leonardo Boff, Frei Betto e principalmente com os ensinamentos do Cristo, entendi que não poderia ser cristão sem abraçar uma militância contra as injustiças sociais. Foi quando ingressei em movimentos sociais e mais tarde no Partido Comunista do Brasil.  Mas além do meu ativismo eu precisava entender algumas coisas. Como em uma sociedade rica e produtiva tinha gente que ainda morria de fome? Foi ai que encontrei Marx. O filósofo alemão parecia ter construído uma teoria que explicava a miséria e a prosperidade convivendo juntas. Para Marx, são os patrões ambiciosos que exploram seus trabalhadores. Ficam ricos para que eles sejam pobres. Meu dever, então, só poderia ser

Sou contra o PL 2630 (PL das Fake News)

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  Por Adelson Vidal Alves  Como em todo bom liberal, a palavra "regulação" me causa frio na espinha. Claro, regular algumas atividades é importante, mas na maioria das vezes acaba em intervencionismo e autoritarismo, outras duas palavras que assombram os que se guiam pelos princípios do liberalismo. Tramita na Câmara dos deputados o PL 2630, conhecido como PL das Fake News. O nome do projeto é bonito: Lei Brasileira de Liberdade, Responsabilidade e Transparência na Internet. No entanto, na prática, traz questões bastante complicadas.  A intenção é das melhores. Quem não gostaria de viver em um mundo onde as informações que circulam sejam verdadeiras, seja lá o que isso signifique? Só que as vias para essa "purificação" nem sempre são virtuosas, e quase todas as vezes desembocam em medidas inaplicáveis. No PL aqui, fica a cargo do Executivo estabelecer o que é notícia falsa e o que não é. Que órgão terá o poder de decidir o que é verdade? Há quem ache ser possível cr