Utopias para um novo colonialismo

 

Por Adelson Vidal Alves 

Paul Romer foi economista chefe do Banco Mundial e um dos vencedores do Prêmio Nobel em 2018. Anos antes ele tinha trazido a ideia das charter cities, ou seja, a proposta de que nações ricas arrendassem terras desabitadas nos países pobres. Basicamente, o espaço arrendado atenderia a iniciativas econômicas e também na construção de boa governança.

O professor Bruce Gilley imaginou a realização dessa utopia na Guiné-Bissau. O país tem um simbolismo aqui, pois seu processo de independência é o avesso dessa proposta, já que a luta emancipacionista de lá procurou destruir por completo a herança colonial que recebeu. A descolonização ao invés de democratizar e prosperar o país acabou por produzir terríveis retrocessos sociais e econômicos. Gilley pensou na Ilha das galinhas, território vazio onde poderia ser pensada uma nova ocupação portuguesa, por umas nove décadas mais ou menos. Os habitantes viriam do próprio país voluntariamente, e trabalhariam junto ao projeto na construção de instituições de sucesso, capazes de serem erguidas numa situação semelhante a uma tábula rasa. Caso desse certo, o empreendimento poderia servir como exemplo e influenciar outras iniciativas ao redor.

A fundação da Sociedade Americana de Colonização desembocou no "Projeto Libéria", que teve apoio de escravistas, e se realizou com a criação do país em 1826, tendo como capital a Monróvia, uma homenagem ao presidente americano James Monroe, apoiador da ideia e proprietário de escravos. A Libéria nasceu de um ideal racista e segregacionista, tendo os EUA como principal promotor. "Se há um país na África pelo qual os Estados Unidos tem responsabilidade esse país é a Libéria", escreveu o consagrado historiador escocês Niall Ferguson, para quem a potência do Norte deveria liderar uma nova empreitada imperial no mundo. A Libéria está entre os países mais pobres do planeta, e assim se fez dentro de uma perspectiva descolonizadora de levar os negros para a África. Ele é exemplo do fracasso anticolonalista, e merece intervenção e reparação americana.

A utopia de uma nova ofensiva colonialista se dá em meio a preocupações com inteiras regiões do planeta abandonadas e pobres, sem poderem contar com instituições capazes de operar desenvolvimento e estabilidade. Só nações fortes e ricas podem auxiliar tais povos no caminho do sucesso e do autogoverno. O novo colonialismo carrega uma missão moral de cooperação e tutela temporária, mas também está aberto a outras propostas. O importante é que o mundo avançado ajude os Estados fracassados a saírem de suas condições. 

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Os brancos cristãos escravizados por muçulmanos que a historiografia esqueceu

O identitarismo está construindo uma nova história do Brasil

VILA AMERICANA: POR QUE VOTO NA CHAPA 2