Por que Dilma caiu? Culpa da Lava Jato, diz livro que acaba de sair


Por Adelson Vidal Alves 

Os petistas e seus aliados à esquerda dizem que o impeachment de Dilma Roussef tem uma explicação simples. As elites derrubaram a presidente pois não aguentavam mais perder nas urnas. As administrações populares do PT só poderiam ser interrompidas por um golpe. 

Sou adepto da explicação clássica. Havia uma profunda crise econômica, Dilma perdeu apoio político e as manifestações de ruas fecharam o pacote de elementos que ceifaram a capacidade de governar da presidente. 

O cientista político Fernando Limongi tem uma outra proposta. Em "Operação impeachment: Dilma Roussef e o Brasil da Lava Jato" o autor entende que a queda de Dilma se deu por uma uma interpretação política de que ela não seria capaz de frear o trator lavatista, que saía dos círculos petistas e ameaçava atropelar todo mundo.  

O livro de Limongi reúne os acontecimentos que terminaram no impedimento da presidente Dilma Roussef, de forma relativamente resumida usando basicamente de reportagens e de matérias que saíram na imprensa. Não se trata de uma das cartilhas petistas tentando formar a opinião pública de que o que aconteceu por aqui foi um golpe, tema que ele evita. Sua tese central liga o impedimento a uma ação orquestrada de autoproteção da classe política. 

A Operação Lava Jato deve ser objeto de análises minuciosas, pois é um assunto complexo. Ela foi capaz de amedrontar inteiros setores empresariais e partidários que historicamente comeram nas mesas fartas dos recursos estatais. Prendeu gente graúda e recuperou muito dinheiro de corrupção. Por outro lado cometeu excessos, demonizou a política e fortaleceu um ideal messiânico, de heróis ativistas do Poder judiciário. Ao ligar a política ao mal, não há dúvida que o lavajatismo preparou o terreno para a vitória de Jair Bolsonaro e seu discurso outsider.

No contexto do impeachment de Dilma há elementos lavajatistas a serem pensados, principalmente na hora das mobilizações de rua puxadas por movimentos de direita como o MBL. De minha parte, sigo pensando o impedimento como sendo feito com a repetição de coisas que já tinham derrubado Collor. Concordo com o autor, no entanto, sobre a afirmação de que Dilma não foi uma presa fácil, ela fez política. Há quem diga que com Lula seria tudo diferente, o que discordo. O ex-presidente articulou suas crises em cima de bons momentos econômicos impulsionados pelo boom das commodities. Se estivesse no poder em 2016 cairia também sem grande resistência popular, como aconteceu em sua prisão. Muita gente subestima Dilma e superestima Lula. 

O impeachment poderia ser um mecanismo democrático de destituição do poder contra aqueles que cometem crimes de responsabilidade. Porém, acaba sendo excessivamente usado como recurso parlamentarista de interrupção de governos. Com ou sem Lava Jato ele acaba sendo perigoso. Por mim, sairia da Constituição.

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