É possível um colonialismo ser benéfico?


Por Adelson Vidal Alves 

Lorde William Bentinck, então governador geral da Índia, proibiu em 1829 a prática do sati. O costume hindu consistia na imolação de viúvas no funeral do marido. Mulheres eram cruelmente queimadas vivas. O governo do Reino Unido criminalizou essa bárbara tradição nativa. O que teria acontecido caso os indianos não estivessem debaixo de uma administração colonial de natureza liberal? Os próprios nativos encerrariam essa situação ou podemos dar créditos ao imperialismo britânico?

Para grande parte das pessoas o colonialismo é sinônimo de exploração, escravidão e genocídio. Nas grades curriculares das escolas e das universidades falar em imperialismo e dominação colonial só para mostrar o quanto os europeus foram malvados e saqueadores. Eles teriam ficado ricos enquanto os dominados penavam subdesenvolvimento. Na mentalidade dominante acadêmica e popular os países da África só são pobres pois suas riquezas foram tomadas pelas potências europeias. 

Bruce Gilley, professor da Universidade Estadual de Portland,  escreveu no seu famoso ensaio The case for colonialism que "o colonialismo ocidental foi, em regra, tanto objectivamente benéfico como subjectivamente legítimo na maior parte dos lugares onde ocorreu". O benefício estaria visível na infraestrutura que chegava às colônias, na ciência transportada que substituía a feitiçaria tribal presente em países como os da África, na construção de valores e instituições responsáveis pelo progresso moral e econômico nas metrópoles. A legitimidade, segundo Gilley, seria percebida no consentimento dado pelos próprios colonizados. De fato, poucos soldados dominavam vastos territórios e populações, algo impossível se não houvesse um mínimo de consenso estabelecido.

O imperialismo britânico, é inegável, levou benefícios às suas colônias. A maior potência econômica e militar dos nossos tempos se formou na América inglesa. Ainda que atrocidades tenham acontecido, a cultura inglesa de liberdade, representatividade e direito de propriedade onde chegou e se desenvolveu operou desenvolvimento. O grande pensador utilitarista John Stuart Mill certa vez tratou o império britânico na Índia como  "o mais benéfico em ato jamais visto pela humanidade". 

O sociólogo pernambucano Gilberto Freyre, de certa forma, defendeu o império colonial português. O conceito de lusotropicalismo vem dele, e faz referência ao suposto modo colonial lusitano, igualitário e pacífico, de lidar com os indígenas. A "portugalidade" mestiça construída na mistura com mouros e celtas influenciaria positivamente na cultura de miscigenação e trocas culturais nas colônias portuguesas. Freyre viu clara distinção entre a forma colonial ibérica e anglo-saxônica, que teria feito grande diferença no futuro das colônias. Nessa linha foram outros grandes estudiosos brasileiros, como Sérgio Buarque de Hollanda e Raimundo Faoro. 

As diferenças entre as formas de colonizar existem e precisam ser discutidas, a fim de que possamos entender a realidade atual e refletir melhor sobre o futuro. É visível os benefícios do colonialismo europeu diante de outras formas de domínio imperial. Há uma distância entre o imperialismo ocidental e os imperialismos russo, chinês e árabe. 

Uma das grandes fraudes do discurso hegemônico atual é o de responsabilizar o colonialismo pela pobreza de inteiras regiões do mundo. Antigas colônias como a Austrália, Canadá, Hong Kong e EUA hoje são lugares prósperos. Afeganistão e Nepal que nunca foram colonizados sofrem o mais profundo atraso. O Haiti, primeiro país da América a se tornar independente, é hoje pura miséria. O sonho da descolonização não melhorou a vida da maior parte das colônias. Pelo contrário, vivem hoje pior que no passado. 

Não trato o colonialismo europeu como perfeito e paradisíaco, muito menos advogo sua reedição nos tempos presentes. No entanto, como exercício histórico, é honesto perguntar como seria o mundo sem ele. O que teria acontecido aos países onde houve colonização ocidental? Eu respondo: conheceriam uma dominação de elites nativas corruptas ou sofreriam o poder de alguma outra forma de poder imperial, bem pior que o que veio do Ocidente.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Os brancos cristãos escravizados por muçulmanos que a historiografia esqueceu

O identitarismo está construindo uma nova história do Brasil

VILA AMERICANA: POR QUE VOTO NA CHAPA 2