Ciência na dose certa



Por Adelson Vidal Alves 

Karl Popper é um dos grandes nomes da filosofia da ciência. Em seus trabalhos ele trouxe uma questão fundamental sobre o que é o conhecimento científico: a ideia de falseabilidade. Simplificando, Popper entendia que só há ciência quando há a possibilidade de refutação. Verdades absolutas são coisas da religião, não da boa ciência. Difícil explicar isso para muita gente que costuma desqualificar conhecimentos consolidados, como vacinas e remédios, só porque novos estudos revisam a "verdade" até então estabelecida. Ao contrário de comprometer a ciência, isso atesta o que é ciência de verdade.

A metodologia científica moderna pode ser encontrada até mesmo em mentes religiosas da antiguidade, mas é a revolução iluminista que lhe deu caráter secular e racionalista. A ciência foi consagrada na prática como a mãe epistemológica do mundo moderno, sendo a grande guia das decisões humanas. Nada contra a religião ou o empirismo, mas a eu só tomo um remedinho pra dor de cabeça se ele tem comprovação da ciência. Entre a operação de um tumor e uma roda de oração, que venha o bisturi. Posso garantir que, apesar dos fanáticos, mesmo os religiosos optam pela ciência na hora de tomar decisões na vida. 

Mas a ciência também tem seus religiosos. Falo do positivismo em primeiro lugar, onde a deusa Razão científica ganhou até igreja, literalmente. Augusto Comte e os positivistas narraram a história da humanidade como sendo de evolução progressiva até o triunfo racional final de nossa maturidade. Esse espírito contamina muita gente séria, basta olhar os chamados "cavaleiros do apocalipse", cientistas e filósofos de saber refinado que se dedicam a promover o ateísmo. Fazem da sua falta de fé uma fé oficial. Ora, se Deus existe ele não pode e não deve ser provado cientificamente, do contrário não é Deus. Por isso optei pelo agnosticismo, e trago como lema a famosa frase de Carl Sagan: "ausência de evidência não é evidência de ausência". Deus pode existir, mas não pode ser refutado, então aprenda com Popper, caro Dawkins. 

Durante a pandemia os cientistas ganharam poder como nunca. Era cientista todo dia explicando o que deveria ser feito. Mas na verdade quem teve voz de fato foi apenas uma ciência, a ciência da biologia. As ciências sociais e econômicas foram ignoradas. É que o conhecimento científico funciona de forma diferente de acordo com  o objeto. Fala de vírus e comportamento humano, usando de meios distintos. No caso da Covid-19,  a imprensa só queria saber da ciência do vírus. Dalcolmo e Atila deitaram e rolaram.

Os tempos atuais convivem com enorme progresso tecnológico e negacionismo ao mesmo tempo. Gente que acredita na terra plana e em tratamento com homeopatia. Criacionismo bíblico chamado de ciência. Por outro lado, cientistas ganham dinheiro sem respeitar quesitos éticos, a falta de freio moral nos ameaça com inteligência artificial e armas nucleares. Há quem negue a importância científica e quem a use sem escrúpulos. O que precisamos, na verdade, é ciência na dose certa. 


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