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Mostrando postagens de agosto, 2024

É possivel julgar a arte e a cultura objetivamente ou é tudo questão de gosto individual?

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Por Adelson Vidal Alves  Há entre o senso comum a ideia de que as culturas devem ser tratadas sem hierarquias, que tudo é arte, se assim o "artista" quer que seja. Que canções, peças de teatro e livros devem ser avaliados pelo julgamento subjetivo, ou seja, pelo "gosto" dos indivíduos. Mas será mesmo que não é possível um juízo minimamente objetivo sobre a arte? Se existe, quais os critérios? O filósofo britânico Roger Scruton é um defensor ferrenho da civilização e da cultura ocidental. Em seu livro "A cultura importa" ele defende a Alta cultura e faz críticas ao relativismo cultural. Pela sua visão, há caminhos para se fazer uma crítica da arte. Dois pontos, pelo menos, são destacados. Scruton desqualifca a "arte" que é marcada pela obscenidade. Não só por conta dos seus resultados degenerativos na moral, mas porque esta "arte" tem intrinsecamente algo a ser reprovado (me lembrei das "músicas" de funk onde se destacam o uso

O Estado babá segue infantilizando e sufocando liberdades

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Por Adelson Vidal Alves  Acabo de ler o best-seller "A geração ansiosa" do psicólogo Jonathan Haidt. Sobre o livro em si fiz resenha neste blog. Para este artigo, me interessa apenas um dos temas tratados na obra: o brincar livre. Haidt argumenta que brincar livre faz bem para a saúde mental das crianças. Eu diria mais. A liberdade de brincar faz bem para a saúde social de uma sociedade.  Em seu divertido livro "O Estado babá", David Harsanyl cita os "déspotas das pracinhas", burocratas que simplesmente proibiram a brincadeira. No Texas, balanços foram retirados de pelo menos 40 escolas infantis, sob a alegação de que eram inseguros para as crianças. Em Portland, também nos Estados Unidos, o mesmo aconteceu com escorregadores e carrosséis. A diversão e a liberdade que formam adultos autônomos e responsáveis foram proibidas em nome de uma superproteção infantilizadora que só pode formar gente medrosa e patologicamente cheia de fobias. Os fumantes talvez sej

Devemos abandonar a utopia igualitarista existente na educação

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Por Adelson Vidal Alves  Nós professores fomos formados dentro de uma concepção pedagógica igualitarista. Todos os alunos seriam iguais e mereceriam tratamentos iguais. Fora os alunos de inclusão, todos são expostos ao mesmo conteúdo e os mesmos procedimentos avaliativos. A conclusão quanto à produtividade anual respeita critério exato. Quem não consegue a pontuação exigida deve ser reprovado.  No entanto, no nosso dia a dia encontramos visivelmente a desigualdade. Há alunos brilhantes e há alunos medíocres. Pela força da natureza alguns nascem para serem cientistas, outros mal conseguirão resolver uma simples equação matemática. São fatos incômodos que não deixam de ser fatos.  É bem verdade que há outras formas de desigualdade. São desigualdades econômicas e sociais. Alunos pobres tem vidas muito mais difíceis e sobrecarregadas que alunos de classe média, sendo dever do Estado corrigir tais desigualdades produzidas no campo de um sistema social e econômico que abriga injustiças. A ig

Best-seller aponta problemas reais, mas oferece soluções simplistas e radicais

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Por Adelson Vidal Alves  O livro "A geração ansiosa", do psicólogo Jonathan Haidt, é certamente o livro mais importante do ano. Primeiro porque ele aborda o tema mais urgente envolvendo a saúde mental de jovens e adultos nos dias de hoje. Segundo porque ele vem se apresentando como um guia de solução para os problemas envolvendo a chamada "geração ansiosa". Há quem tenha abraçado as dicas de Haidt com entusiasmo, outros questionam sua validade científica. Mas vamos ao livro.  Ele trata, basicamente, da chamada geração Z, ou seja, a geração nascida depois de 1995 e que sucedeu os milennials. O autor conclui que há um significativo aumento de patologias mentais diretamente ligada ao uso intenso de celulares e redes sociais por parte das crianças. Elas seriam vítimas de uma propaganda  empresarial viciante que envolve jovens, cada vez mais trancados em casa e sem interação social cara a cara. O autor fala de uma "infância baseada no brincar", que transitou pa

E se proibíssemos os ignorantes de votar?

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  Por Adelson Vidal Alves  Imagine que você esteja em um avião quando o piloto sofre um infarto. Para substituir a direção da nave a que método você recorre? Faz uma eleição para eleger o novo piloto ou procura alguém entre os passageiros que seja habilitado para a tarefa? Imagino que todos nós optaremos pela segunda opção. Então agora pense que esse avião seja o Estado. Não seria melhor colocarmos os especialistas para nos governar ao invés de fazermos eleições? Este tipo de raciocínio "antidemocrático" vem pelo menos dos tempos de Platão. O filósofo grego, autor de "A República" defendia que nem todo mundo estava à altura do ato de governar. Por isso, propôs em seus escritos uma forma de governo aristocrática, onde os sábios filósofos assumiriam o poder.  A versão mais recente desta tese platônica vem do cientista político Jason Brennan, autor de "Contra a democracia". Para Brennan "A maioria dos eleitores está sistematicamente desinformada sobre fa

O liberalismo fracassou?

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  Por Adelson Vidal Alves  O liberalismo está sendo questionado. Se há trinta anos ele aparecia como o possível grande vencedor da corrida histórica, hoje há quem decrete seu fracasso, como faz o cientista político Patrick Dennen, autor de "Por que o liberalismo fracassou?", best-seller que já chegou a ser indicado até mesmo pelo ex-presidente Barack Obama, por supostamente tentar explicar as crises do nosso tempo. Dennen é um escritor conservador que vem ganhando notoriedade, já que é considerado o guru de J.D. Vance, o escolhido para ser candidato a vice-presidente na chapa de Donald Trump.  Pode soar estranho que uma das principais críticas do autor seja a desigualdade econômica, por ser ele considerado um intelectual da direita americana. Mas é que sua posição não pertence ao que aqui no Brasil tratariamos como a direita tradicional, economicamente liberal e assim disposta a aceitar a desigualdade social em nome do progresso. Dennen ataca o liberalismo pelo ângulo do que

A era Putin completa 25 anos com uma Rússia bárbara e retrógrada

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Por Adelson Vidal Alves  A URSS foi o último grande império formal. A dissolução do bloco, no início da década de 90, significou o fim da experiência do socialismo real e a perda de relevância geopolítica da Rússia. O triunfo solitário do capitalismo e da democracia liberal fez Francis Fukuyama decretar o fim da história.  Os anos pós-Guerra fria inauguraram a hegemonia unipolar de uma superpotência liberal, os Estados Unidos. O país do norte dominou o mundo na economia, militarmente, na moda, nas artes, na política e nos valores. Mas o que parecia o domínio definitivo da ordem internacional debaixo do guarda-chuva americano começou a ser questionado, e hoje há pelo menos dois grandes desafios: a China e a Rússia. Esta última completa 25 anos de uma era que rejeitou a transição liberal e resgatou valores tradicionais e autocráticos do país do leste europeu. Quando a segunda grande guerra acabou, o mundo estava assustado diante de tanta destruição e horror. Foi erguida, então, uma ordem

Por que o capitalismo fez a humanidade progredir tanto?

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Por Adelson Vidal Alves  O economista John Maynard Keynes foi feliz quando disse que um trabalhador moderno tem uma vida melhor que a dos antigos reis. O progresso, acelerado nos últimos dois séculos, nos trouxe vantagens e conforto em todas áreas. A medicina prolonga e salva vidas, a produção no trabalho se multiplicou, o transporte e a comunicação obtiveram avanços extraordinários.  Na Pré-história nossos antepassados obtiveram conquistas maravilhosas. O controle do fogo, a agricultura, a confecção de ferramentas e a metalurgia permitiram saltos significativos na história, assim como mais tarde  o uso de algumas formas de transporte com animais. Mas a velocidade destas transformações não se compara aos nossos tempos. Apesar do progresso ser algo próprio da nossa espécie, foi um sistema econômico particular que impulsionou nossas grandes vitórias tecnológicas.  A revolução industrial abriu uma era de várias revoluções. No século XVI, dizem alguns autores, começou a globalização, com a

Quatro revoluções do passado e as virtudes do liberalismo

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Por Adelson Vidal Alves  A história testemunha incontáveis revoluções. Algumas desembocaram em tiranias sanguinárias, casos de Cuba, Nicarágua e o Irã; outras deixaram legados positivos para os lugares onde aconteceu e também para o mundo. Em "Era das revoluções", Fareed Zakaria analisa quatro revoluções do passado, onde três delas, todas liberais, teriam trazido benefícios para o mundo (holandesa, inglesa e industrial) e uma outra que traiu seus ideais originários (francesa). Por volta dos séculos XVI e XVII, os Países Baixos conheceram uma onda de desenvolvimento e prosperidade. Criatividade, empreendedorismo, eleições e concorrência são alguns dos fatores que fizeram a República Holandesa revolucionar sua história e a história do mundo. Uma revolução puritana colocou fim ao domínio espanhol, com a ética calvinista favorecendo  o progresso, conforme analisaria o sociólogo Max Weber. A experiência dos Países Baixos só foi vencida em 1672 com a invasão da Holanda pela França