A era Putin completa 25 anos com uma Rússia bárbara e retrógrada

Por Adelson Vidal Alves 

A URSS foi o último grande império formal. A dissolução do bloco, no início da década de 90, significou o fim da experiência do socialismo real e a perda de relevância geopolítica da Rússia. O triunfo solitário do capitalismo e da democracia liberal fez Francis Fukuyama decretar o fim da história. 

Os anos pós-Guerra fria inauguraram a hegemonia unipolar de uma superpotência liberal, os Estados Unidos. O país do norte dominou o mundo na economia, militarmente, na moda, nas artes, na política e nos valores. Mas o que parecia o domínio definitivo da ordem internacional debaixo do guarda-chuva americano começou a ser questionado, e hoje há pelo menos dois grandes desafios: a China e a Rússia. Esta última completa 25 anos de uma era que rejeitou a transição liberal e resgatou valores tradicionais e autocráticos do país do leste europeu.

Quando a segunda grande guerra acabou, o mundo estava assustado diante de tanta destruição e horror. Foi erguida, então, uma ordem internacional basicamente fundada em regras e instituições que teriam o papel, teoricamente, de evitar grandes conflitos no mundo. De certa forma, a nova organização planetária deu certo. Guerras de conquista, ou seja, de anexação de territórios, desapareceram, pelo menos até 2014, quando Vladimir Putin desafiou as leis internacionais e anexou ilegalmente a Crimeia, dando início à guerra contra a Ucrânia. 

Em 2022, a Rússia de Putin invadiu oficialmente o território ucraniano. As desculpas iniciais eram ridículas, iam de uma suposta desnazificação da Ucrânia até uma ação de libertação de regiões onde russos seriam oprimidos. Os especialistas mais independentes logo entenderam que o que Putin queria, e quer, é na verdade restaurar o poder russo pela via das armas. A barbárie de outros tempos, que pensávamos estar abolida, permaneceu viva na alma russa. 

Por trás das ambições geopolíticas, a Rússia putinista recupera uma tradição anti-Ocidente. A democracia liberal, os direitos humanos, o individualismo, o globalismo, a diversidade de sexo e gênero soam como decadência para uma cultura que se pretende presa aos ideias da comunidade e do homem simples, da virilidade masculina, do nacionalismo e da religião. Os russos se veem como a terceira Roma, que substitui os impérios romanos do Ocidente e do Oriente. A Igreja Ortodoxa representaria a nova guardiã da verdadeira cristandade.

A Rússia opera uma guerra civilizacional contra o Ocidente. Putin e seus ideólogos acreditam que sua nação não pertence nem a Europa e nem integralmente à Ásia, mas sim a uma particular civilização: a Eurásia. O principal teórico desta ideia é Alexander Dugin, para quem a Rússia implementa hoje na Ucrânia uma guerra espiritual do bem contra o mal representado pelo Ocidente. Em uma das suas mais delirantes formulações, o possível guru de Putin tenta unir comunismo e nazismo em uma nova síntese anti-liberal. 

Vladimir Putin promove hoje um regime autocrático onde opositores são presos e assassinados. Manifestações públicas são proibidas e a liberdade de expressão não existe. Chamar a guerra da Ucrânia de guerra pode render alguns anos de cadeia. Expressões de afetividade gay são criminalizadas, e o ativismo LGBTQIA é proibido. A homossexualidade é tratada como um mal ocidental. 

No campo de batalha a Rússia conserva comportamento bárbaro, e ameaça o mundo com bombas nucleares. O próprio Putin é alvo de um mandado de prisão emitindo pelo Tribunal Penal Internacional, por conta de um de seus inúmeros crimes de guerra. A nação autocrática do Oriente usa sua força militar para tentar recuperar seu prestígio dos tempos imperiais. Uma forma bárbara e selvagem de se obter poder, que parecia ter ficado no passado, mas não para a Rússia de Putin.

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