O liberalismo fracassou?

 


Por Adelson Vidal Alves 

O liberalismo está sendo questionado. Se há trinta anos ele aparecia como o possível grande vencedor da corrida histórica, hoje há quem decrete seu fracasso, como faz o cientista político Patrick Dennen, autor de "Por que o liberalismo fracassou?", best-seller que já chegou a ser indicado até mesmo pelo ex-presidente Barack Obama, por supostamente tentar explicar as crises do nosso tempo.

Dennen é um escritor conservador que vem ganhando notoriedade, já que é considerado o guru de J.D. Vance, o escolhido para ser candidato a vice-presidente na chapa de Donald Trump. 

Pode soar estranho que uma das principais críticas do autor seja a desigualdade econômica, por ser ele considerado um intelectual da direita americana. Mas é que sua posição não pertence ao que aqui no Brasil tratariamos como a direita tradicional, economicamente liberal e assim disposta a aceitar a desigualdade social em nome do progresso. Dennen ataca o liberalismo pelo ângulo do que eu chamaria de "conservadorismo reacionário", onde são detectadas e criticadas elites globalistas corruptas e socialmente insensíveis, em um discurso próprio da nova direita populista-iliberal.

O liberalismo é uma doutrina naturalmente cosmopolita, patrocinadora do processo de globalização, acelerado nas últimas décadas ou séculos. O pensamento liberal foca no individualismo, na capacidade de conquistas individuais que se espalham e beneficiam toda a sociedade. O liberalismo não é igualitarista, mas em sua face social-progressista advoga responsabilidade coletiva e estatal quanto ao bem estar mínimo de todos. Dennen, sem explicar muito bem qual é a sua alternativa ao "fracasso do liberalismo" se prende a defender instituições tradicionais, valores religiosos como a durabilidade do casamento e a castidade pré-nupcial, assim como se apega à vida comunitária dos vilarejos e a restauração do papel exclusivo da mulher como dona de casa. 

Stuart Mill, autor criticado duramente no livro, dizia que os costumes limitavam a capacidade criativa humana. O indivíduo, livre dos costumes, poderia exercer com autonomia sua força inovadora. Dennen, claro, acha isso um absurdo, e ataca o liberalismo por ter lutado contra as antigas aristocracias enquanto agora cria outra, em um sistema de "vencedores e derrotados". Melhor seria olhar o passado, onde as tradições e suas identidades coletivas e comunitárias pensavam no todo, não no triunfo de pequenas grupos. 

Dennen se junta aos críticos do liberalismo pela direita, os que enxergam na doutrina liberal uma força progressista de desenraizamento e destruição dos laços locais.  Está unido à esquerda em seu apelo anti-individualista,  no seu ataque aos resultados excludentes da globalização neoliberal e na defesa de mais igualdade econômica. 

Apesar de confuso, o livro de Dennen faz alertas para os liberais quanto a alguns aspectos da sua atual crise filosófica. Traz elementos provocadores que indicam a necessidade de se realizar reformas atualizadoras na forma do liberalismo agir na materialização de seus princípios.

No entanto, os liberais precisam reafirmar suas bases de sucesso, pois seus inimigos não pensam em remodelar as diretrizes que até agora funcionaram, mas sim acabar com o sistema político internacional e a economia de mercado. Nisso Dennen não está sozinho, seu candidato Trump, o presidente da Hungria, Victor Orban, e o ditador da Venezuela Nicolas Maduro estão juntos. Querem fazer do liberalismo, que tanto ofertou ao mundo em matéria de desenvolvimento e civilidade, a última grande ideologia do século XX, depois das mortes do fascismo e do comunismo. O que colocar no lugar pouo se diz, nem se apresenta possibilidades sistêmicas superiores. O objetivo é único: convencer a todos que o liberalismo fracassou e assim precisa ser destruido.

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