É possivel julgar a arte e a cultura objetivamente ou é tudo questão de gosto individual?

Por Adelson Vidal Alves 

Há entre o senso comum a ideia de que as culturas devem ser tratadas sem hierarquias, que tudo é arte, se assim o "artista" quer que seja. Que canções, peças de teatro e livros devem ser avaliados pelo julgamento subjetivo, ou seja, pelo "gosto" dos indivíduos. Mas será mesmo que não é possível um juízo minimamente objetivo sobre a arte? Se existe, quais os critérios?

O filósofo britânico Roger Scruton é um defensor ferrenho da civilização e da cultura ocidental. Em seu livro "A cultura importa" ele defende a Alta cultura e faz críticas ao relativismo cultural. Pela sua visão, há caminhos para se fazer uma crítica da arte. Dois pontos, pelo menos, são destacados.

Scruton desqualifca a "arte" que é marcada pela obscenidade. Não só por conta dos seus resultados degenerativos na moral, mas porque esta "arte" tem intrinsecamente algo a ser reprovado (me lembrei das "músicas" de funk onde se destacam o uso de palavrões, sexualidade e humilhação das mulheres). Outro aspecto a ser analisado é o sentimentalismo. A encenação artificial do sentimento esvazia o sentido cultural (lembrei-me da choradeira sertaneja das novas duplas pop). 

O autor, de assumida inclinação conservadora, explica a possibilidade do julgamento objetivo das artes. Ele usa piadas e comédias como analogia. Existem piadas que tem graça, julgadas pelo nosso riso, da mesma forma que há a arte que provoca contemplação e a admiração porque ela é boa, e há outra arte que é ruim, assim como há as piadas sem graça ou de mau gosto.

Pelo esquerda, a Escola de Frankfurt, de orientação marxista, de certa forma também criou classificação da cultura, rejeitando o relativismo pós-moderno. Em autores como Walter Benjamin, Theodor Adorno e Max Horkheimer a cultura ganha um status de indústria. O conceito de cultura de massas indica uma cultura padronizada e pobre indicada para o consumo massificado, obedecendo à lógica do mercado. Há um conteúdo quase uniforme que se espalha e ganha consumidores pela intensa propaganda da indústria cultural, a fabricante de lucro e mediocridade pelo ataque ao senso crítico que ela promove.

Bourdieu, outro marxista, entendia que o "gosto musical" é reproduzido por instituições como a família e a escola. Assim como na indústria cultural, a autonomia do indivíduo em sua escolha é afetada por fatores externos, com o julgamento dirigido e transmitido, falseando o livre juízo individual. Devemos, no entanto, diferenciar cultura de massa e cultura popular. A última emerge da expressão espontânea ds vivência de um grupo ou classe social.

A arte e a cultura se tornam irrelevantes quando esvaziadas da crítica e do julgamento estético e moral. Se tudo é arte, nada é arte. Aspectos como o refinamento, a capacidade reflexiva e contemplativa que se provoca, a técnica, a simetria, a moral e a erudição separa a arte boa da arte ruim, criam uma cultura superior e inferior. Apesar do protesto multiculturalista, não dá pra tratar Anitta e Bach como objetos iguais que só se diferem pelo gosto individual. Objetivamente há um mar de diferença entre uma "artista" vulgar e medíocre de um gênio.

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