Best-seller aponta problemas reais, mas oferece soluções simplistas e radicais

Por Adelson Vidal Alves 

O livro "A geração ansiosa", do psicólogo Jonathan Haidt, é certamente o livro mais importante do ano. Primeiro porque ele aborda o tema mais urgente envolvendo a saúde mental de jovens e adultos nos dias de hoje. Segundo porque ele vem se apresentando como um guia de solução para os problemas envolvendo a chamada "geração ansiosa". Há quem tenha abraçado as dicas de Haidt com entusiasmo, outros questionam sua validade científica. Mas vamos ao livro. 

Ele trata, basicamente, da chamada geração Z, ou seja, a geração nascida depois de 1995 e que sucedeu os milennials. O autor conclui que há um significativo aumento de patologias mentais diretamente ligada ao uso intenso de celulares e redes sociais por parte das crianças. Elas seriam vítimas de uma propaganda  empresarial viciante que envolve jovens, cada vez mais trancados em casa e sem interação social cara a cara. O autor fala de uma "infância baseada no brincar", que transitou para uma "infância baseada no celular". É a "Grande reconfiguração da infância".

Brincar de forma livre sempre foi uma forma de amadurecer. Os riscos das brincadeiras da vida real nos faziam mais preparados para enfrentar a vida, a resolver conflitos e sermos mais autônomos. Segundo o livro, o final dos anos 80 marcou o declínio dessa fase, chegando a 2010, quando adolescentes passaram a ter seus próprios smartphones. 

Haidt apresenta outro grande causador da ansiosidade da geração Z. Trata-se da superproteção. Com a chegada dos celulares, os pais acharam ter encontrado uma forma mais segura dos filhos se relacionarem, sem os riscos da rua. Além disso, crianças paralisadas frente a uma tela de celular não dão trabalho, ficam silenciosas e entretidas com as tantas ofertas oferecidas pelo mundo virtual. Proteger os filhos é um aspecto natural da nossa espécie, mas proteger demais leva a uma perpétua infantilização, que veta a transição para a vida adulta independente. Cria-se a síndrome de Peter Pan. 

As soluções apontadas na obra são, resumidamente: nenhum celular antes dos 14 anos, nenhuma rede social antes dos 16 anos, proibição de celulares na escola e uma infância com mais brincadeiras reais. 

As críticas às teses do autor vão em várias direções. Desde falta de evidências cientificas para o diagnóstico de Haidt, até a necessidade de se pensar em formas educativas de se lidar com as novas tecnologias. Pessoalmente considero o livro uma grande iniciativa para que possamos lidar com problemas evidentes que nos assolam. Todos estamos de acordo que algum mal esses bichinhos eletrônicos traz, mas me parece que as medidas proibitivas são simplistas e utópicas. Bom seria aceitarmos a realidade das redes e apostar em medidas paliativas e investimento pesado na conscientização para o uso. O livro de Haidt trata melhor da identificação da doença do que da cura.

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