O Estado babá segue infantilizando e sufocando liberdades
Por Adelson Vidal Alves
Acabo de ler o best-seller "A geração ansiosa" do psicólogo Jonathan Haidt. Sobre o livro em si fiz resenha neste blog. Para este artigo, me interessa apenas um dos temas tratados na obra: o brincar livre. Haidt argumenta que brincar livre faz bem para a saúde mental das crianças. Eu diria mais. A liberdade de brincar faz bem para a saúde social de uma sociedade.
Em seu divertido livro "O Estado babá", David Harsanyl cita os "déspotas das pracinhas", burocratas que simplesmente proibiram a brincadeira. No Texas, balanços foram retirados de pelo menos 40 escolas infantis, sob a alegação de que eram inseguros para as crianças. Em Portland, também nos Estados Unidos, o mesmo aconteceu com escorregadores e carrosséis. A diversão e a liberdade que formam adultos autônomos e responsáveis foram proibidas em nome de uma superproteção infantilizadora que só pode formar gente medrosa e patologicamente cheia de fobias.
Os fumantes talvez sejam as maiores vítimas do proibicionismo paternalista. O governo de Portugal propôs um amplo pacote de medidas que restringia a venda de cigarros e proibia fumar em vários ambientes. A ideia era criar "uma geração livre de tabaco até 2040". Uma geração purificada do maldito vício através da força intimidadora do Estado protetor. Fumar até mesmo em ar livre passava a ser crime, e nas varandas e terraços dos bares também era vetado a fumaça dos cigarros, assim como em frente a estes estabelecimentos. Na Nova Zelândia algo semelhante foi proposto, assim como no Butão e no próprio Estados Unidos.
Concordo que quando comportamentos individuais afetam a saúde de terceiros é necessário algum tipo de regulação do Estado, como aconteceu na pandemia de Covid-19. Máscaras e vacinas obrigatórias protegeram a população daqueles que se recusavam a aceitar medidas de controle da doença. Diferente é o cigarro, que afeta somente quem fuma. Como bem escreveu o colunista da Folha, João Pereira Coutinho, a preocupação com a saúde não pode sufocar às liberdades.
Uma sociedade verdadeiramente liberal garante aos indivíduos o direito de decidir questões relacionadas à sua vida. Desde que não prejudiquem a outros, as pessoas podem fazer o que quiserem. Quando governantes acham que adultos são crianças carecendo de proteção, ou quando burocratas acreditam que são mais competentes que os próprios indivíduos nas decisões relacionadas às suas vidas, o que temos é um ambiente infantilizador que produz gente dependente e mimada.
É preciso promover um ambiente livre onde as decisões individuais sejam verdadeiras pedagogias na formação de pessoas responsáveis e independentes. O Estado babá é péssimo quando o assunto é construir sociedades livres e maduras.
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