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Mostrando postagens de junho, 2024

Plano Real: FHC, o estadista. Lula, o cínico

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Por Adelson Vidal Alves Ainda na ditadura militar o Brasil entrou em crise econômica, depois de muito exaltar o “milagre” do regime. Paralelo aos problemas financeiros, corria o processo pactuado de transição democrática, que de forma indireta interrompeu o ciclo de presidentes militares elegendo um político moderado com um ex-presidente da ARENA, partido da ditadura, na vice-presidência. Por uma dessas fatalidades da vida, Tancredo Neves não chegou a sequer tomar posse, vindo Sarney, ex-apoiador do regime autoritário, conduzir o primeiro governo civil da redemocratização.               Diante do grave quadro econômico, a nova administração apresentou o Plano Cruzado, em 1986, onde foram congelados preços, tarifas e salários. A inflação recuou, mas por pouco tempo, já que com o aumento do consumo sem medidas estruturais austeras, os preços voltaram a subir.  A partir das eleições diretas, o Brasil escolheu Fernando Collor de Mello para substituir Sarney, onde foram aplicadas medidas de

Deveria eu amar de novo?

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Por Adelson Vidal Alves "O progresso destrói o amor", dizia Nelson Rodrigues. De fato, o mundo iluminista, capitalista e racional nada tem a ver com o apego aos sentimentos que vigorova no mundo medieval, de onde vieram as primeiras formas literárias do amor romântico. Já eu, sou um iluminista irremediável, agarrado à ciência e à razão como norteadoras das minhas decisões individuais.  Assim, meio que de forma espontânea, tomei a decisão racionalista de resistir à "doença da alma" (termo como os mais antigos tratavam o amor). Optei por pensar antes de sentir.  O amor romântico é próprio da mentalidade simples e rural da Idade Média. O mundo burguês é racional demais, apegado ao dinheiro. O romantismo que impera entre nós só pode obedecer à lógica do lucro. Quem lucra com o amor é a rede Globo com a novela das nove, a indústria do cinema e os comerciantes no dia dos namorados. A consciência obedece às estruturas, disse um filósofo barbudo do século XIX.  Outro filóso

No futuro viveremos em uma economia de mercado com robôs trabalhando em nosso lugar

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  Por Adelson Vidal Alves  Herbert Marcuse (1898-1979) estava desiludido com o potencial emancipador da classe trabalhadora. Ele analisou o que chamou de "Capitalismo avançado" como sendo uma organização social altamente vigilante e autoritária. O autor de "O homem unidimensional" viu a racionalidade tecnológica como um instrumento de controle social, que integrava a política e a cultura para dentro de um sistema de dominação, impedindo movimentos de negação sistêmica. Marcuse não negava a dialética e as contradições que ainda operavam no seio do progresso, porém viu dificuldades na elaboração de uma luta libertadora. O capitalismo tecnológico dominaria tudo.  Nas décadas de 60 e 70 já se questionava quem seria o sujeito revolucionário do comunismo. Marcuse, que sofreu influências marxistas, era fortemente desconfiado da força proletária, que estaria bem adaptada ao capitalismo industrial. Sobrariam os setores marginalizados, como desempregados e estudantes, que pas

Os idiotas da Contracultura

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Por Adelson Vidal Alves  Hostilizar os valores ocidentais e a sociedade industrial é coisa antiga. O escritor Henry David Thoreau publicou em 1854 "Walden ou a vida no bosque", onde descrevia sua experiência no bosque longe da vida urbana. Porém, foi em meados do século XX que a aversão aos valores dominantes do Ocidente ganhou status de um movimento político.  O contexto era o segundo pós-guerra e a Guerra fria. Nas décadas de 50 e 60, a juventude resolveu reivindicar seu protagonismo como um "rebelde sem causa", alguém que odiava a vida que levava, sendo necessária uma rebelião contra a moral e o modelo de produção e consumo prevalecente.  A geração beat e os hippies compartilharam alguns ideais, ainda que com inspirações diferentes. Queriam uma vida nômade, "pé na estrada", viajando pelo mundo atrás de sexo livre e liberdade plena. As drogas serviam como "expansão da consciencia", daí o uso abusivo de LSD e cannabis.  De onde veio a influência

A "Rússia oriental" que quer destruir o Ocidente

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Por Adelson Vidal Alves  Robert Kagan foi um dos que alertaram para o renascer da Rússia, quando o mundo achava que ela era carta fora do baralho. A leitura do seu livro "O retorno da história" nos leva para dentro de uma dimensão profética. De fato, a humilhação da desintegração da URSS hoje  está convertida em um sentimento de revanchismo imperialista. Vladimir Putin, o autocrata que dirige a nação euro-asiática, já disse que o fim da União Soviética foi "a maior catástrofe geopolítica do século XX" e cada vez mais demonstra intenções restauracionistas baseadas em sua concepção neoczarista de poder. Ele quer uma Rússia grande de novo, pelo uso das armas, com intensa chantagem nuclear.  A Rússia nasceu na região de Kiev (hoje Ucrânia), no final do primeiro milênio. Mas o Estado russo foi invadido e ocupado pelos mongóis de forma devastadora, em uma ocupação que durou cerca de 250 anos. Para muitos analistas começa aqui a identificação russa com a cultura asiática,

PRECISAMOS DO ESTADO?

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Por Adelson Vidal Alves  O que é Estado? Minha resposta seria: organização de poder sobre um território que reúne um centro administrativo, exército e sistema de cobrança de impostos. Mas e a Costa Rica que não tem forças armadas? Bom, para evitar polêmicas acompanho os clássicos, de Gaetano Mosca e Max Weber até Karl Marx. O Estado é aquele negócio que detém o monopólio legal da coerção.  A existência do Estado é para nós, membros da democracia liberal, algo normal e que parece eterno. Mas há controvérsias. Para começar, o Estado teve um início e um sentido de existir. Além disso, há quem o considere um mal a ser abolido. Não se apresse em pensar que são os liberais que odeiam o Estado. Como bem alertava Norberto Bobbio, os liberais consideram o Estado um mal necessário. Comunistas, anarquistas e libertários de direita, estes sim, querem acabar com ele. Mas dá para viver sem um Estado? Vamos tentar entender um pouco a história da organização política humana. Adianto que não acompanho

A extrema-direita ameaça nossas maiores conquistas

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Por Adelson Vidal Alves  "Penso que o desenvolvimento da história europeia atingiu sua última fase com a democracia liberal. Não se pode ir mais longe. Podemos somente melhorá-la: a liberdade pode ainda ser explorada e desenvolvida em muitas direções", disse a filósofa húngara Ágnes Heller, que era discípula do pensador marxista  György Lukács. Heller vai além ao afirmar que "Nossa única chance de sobreviver é preservar a democracia liberal". As democracias liberais se caracterizam, basicamente, pela existência de eleições permanentes, mecanismos de controle do poder, pluripartidarismo, liberdade individual, de crença e expressão. Tais elementos se reúnem de forma distinta, dependendo do país. Brasil e EUA são democracias liberais, porém com modelos distintos.  O que faz uma democracia liberal se desfazer? Olhem para a Hungria de Orban, a Venezuela de Maduro e a Rússia de Putin. Tais nações conservam eleições, mas as liberdades já foram sufocadas. É o que se chama h

É saudável sonhar com um "Novo Fim da História" ainda mais liberal

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Por Adelson Vidal Alves  Era o ano de 1989 quando Francis Fukuyama publicou o artigo "O Fim da História" (primeiro em formato de ensaio depois ampliado em livro). No ensaio, a tese de Fukuyama era direta: a história acabou, tendo como vitoriosos definitivos o capitalismo e a democracia liberal.  Já naquele momento as críticas foram duras ao texto. No entanto, ninguém pode negar que a derrocada da URSS poderia promover alguma empolgação entre os defensores da democracia liberal. E hoje, ainda faz sentido pensar em fim da história? E se ela caminha para o fim, quem serão os vencedores? A tese do "Fim da história" não é propriamente original de Fukuyama. Outros teóricos pensaram o desenrolar histórico como um processo objetivo, de Cournot a Marx. O comunista alemão compreendeu a sociedade sem classes como o ponto final dos conflitos classistas, o advento da "História" contra os tempos da "Pré-história".  Mas voltando a Fukuyama, o último a se arrisc

A degeneração moral dos intelectuais continua

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Por Adelson Vidal Alves  "O comunismo é a primeira religião de intelectuais bem sucedida", escreveu Raymond Aron em seu clássico "O ópio dos intelectuais". Para Aron, o marxismo se convertera no ópio daqueles que tem como ofício o pensamento, modificando a ideia de Marx, para quem a religião era o ópio. O espanto de Aron se dava diante do comportamento de muitos intelectuais que optaram por defender e legitimar regimes tirânicos e combater as democracias liberais que garantiam seu direito de pensar. A visão do comunismo como uma "religião secular" mostra o quanto, mesmo sem Deus, ideologias políticas podem religiosamente fanatizar e paralisar o processo civilizatório em nome de utopias revolucionárias. Como bem observou Michelet: "A revolução não adotou nenhuma religião. Por que não? Por que era, ela mesma, uma igreja". Escrito na década de 50 do século XX, "O ópio dos intelectuais" aponta o marxismo como a perigosa seita a degenerar a