A degeneração moral dos intelectuais continua

Por Adelson Vidal Alves 

"O comunismo é a primeira religião de intelectuais bem sucedida", escreveu Raymond Aron em seu clássico "O ópio dos intelectuais". Para Aron, o marxismo se convertera no ópio daqueles que tem como ofício o pensamento, modificando a ideia de Marx, para quem a religião era o ópio.

O espanto de Aron se dava diante do comportamento de muitos intelectuais que optaram por defender e legitimar regimes tirânicos e combater as democracias liberais que garantiam seu direito de pensar. A visão do comunismo como uma "religião secular" mostra o quanto, mesmo sem Deus, ideologias políticas podem religiosamente fanatizar e paralisar o processo civilizatório em nome de utopias revolucionárias. Como bem observou Michelet: "A revolução não adotou nenhuma religião. Por que não? Por que era, ela mesma, uma igreja".

Escrito na década de 50 do século XX, "O ópio dos intelectuais" aponta o marxismo como a perigosa seita a degenerar a inteligência europeia, colocando a luta contra o capitalismo como o único paradigma moral a ser observado. A URSS, mesmo com os gulags e a máquina de morte que promoveu contra dissidentes, simbolizava a religião dos oprimidos contra o mundo dos opressores, basicamente o mundo representado pelo Ocidente liberal. Jean Paul Sarte não se preocupou em mentir, afirmando que "A liberdade de criticar é total na URSS", quando lá, sabemos, o pensamento era controlado por burocracias disciplinadas pelos dogmas do partido. Expressar uma opinião poderia custar vidas  na "Pátria do socialismo". 

Mas não foi só o marxismo a força a mobilizar degeneração moral entre os intelectuais. Situações inusitadas aconteceram, como no caso do hoje papa do identitarismo, o francês Michel Foucault. Ele acompanhou a revolução iraniana de perto, e se entusiasmou com o martírio  e a pregação pré-moderna dos fundamentalistas revolucionários. O autor de "Vigiar e punir" se alegrou com o processo político que instaurou uma teocracia homofóbica que matava integrantes de minorias sexuais, como era o próprio Foucault.

Nos nossos tempos, vemos universidades se curvando ou tolerando discursos antissemitas. A causa palestina justa só pode ser a de dois Estados, mas nos campis universitários americanos o discurso é "A Palestina será dos palestinos do Rio ao Mar", o lema do Hamas que prega a destruição do Estado de Israel. 

No Brasil, figuras como o desprezível Breno Altman, ligado ao PT, compara judeus aos ratos, repetindo os nazistas. Ele ainda faz saudações a grupos terroristas, tratados como companheiros de luta. Mesmo no Planalto há ideólogos a orientar o governo para dentro da esfera das autocracias e do terror. Celso Amorim, principal assessor internacional do presidente Lula, tem relações amigáveis com Putin, o neoczarista russo que promove uma guerra de conquista na Ucrânia. Além disso, escreveu no prefácio de um livro que o Hamas pode "desempenhar um papel central na restauração dos direitos palestinos“, legitimando as ações de um grupo terrorista. 

A verdade é que a adesão da intelectualidade europeia para dentro de tiranias, como nos tempos de Aron, segue acontecendo. No seio da esquerda instala-se uma seita ideológica que cria um mal absoluto a ser vencido: o Ocidente, liderado pelos EUA. Todos que comungam com essa fé são bem vindos, de tiranos imperialistas a religiosos fanáticos que cortam cabeças dos ditos infiéis.

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