Os idiotas da Contracultura

Por Adelson Vidal Alves 

Hostilizar os valores ocidentais e a sociedade industrial é coisa antiga. O escritor Henry David Thoreau publicou em 1854 "Walden ou a vida no bosque", onde descrevia sua experiência no bosque longe da vida urbana. Porém, foi em meados do século XX que a aversão aos valores dominantes do Ocidente ganhou status de um movimento político. 

O contexto era o segundo pós-guerra e a Guerra fria. Nas décadas de 50 e 60, a juventude resolveu reivindicar seu protagonismo como um "rebelde sem causa", alguém que odiava a vida que levava, sendo necessária uma rebelião contra a moral e o modelo de produção e consumo prevalecente. 

A geração beat e os hippies compartilharam alguns ideais, ainda que com inspirações diferentes. Queriam uma vida nômade, "pé na estrada", viajando pelo mundo atrás de sexo livre e liberdade plena. As drogas serviam como "expansão da consciencia", daí o uso abusivo de LSD e cannabis. 

De onde veio a influência ideológica desta juventude? O existencialismo de Jean Paul Sartre decretava que o Ser vinha do Nada direto para o Nada. Um decreto pessimista que levou jovens para uma profunda depressão existencial. Também é evidente a influência do marxismo, particularmente na obra de um autor marxista heterodoxo. Em "o homem unidimensional" Herbert Marcuse critica o cotidiano e a tecnologia, falando em um "totalitarismo disfarçado de ideologia liberal". A solução viria da "Grande recusa", isto é, uma rejeição aos valores materiais e políticos da sociedade hegemonizada pela burguesia. 

Os hippies e sua ideologia comunitarista ganham força neste momento. Seria preciso desprezar os vínculos familiares, se desvincular da monogamia careta e experimentar novos horizontes mentais através das drogas. Comunidades hippies dividiam tudo, e pediam paz em um mundo em tensão pelas guerras. Jovens de classe média abandonaram o que consideraram monótono em suas vidas para viver a verdadeira liberdade das estradas e do sexo sem tabu. 

Mas nem tudo eram flores, rock e jazz no ativismo da Contracultura. Em outubro de 1967, Linda Fitzpatrick, jovem de classse rica, e seu namorado James Hutchinson foram encontrados mortos com sinal de espancamento em um porão de um prédio velho de Nova York. A morte do casal de aventureiros hippies logo virou símbolo dos perigos da utopia libertária da contracultura. 

O movimento da Contracultura ainda hoje é celebrado como sendo um grande exemplo de resistência aos padrões normativos das sociedades modernas. Porém, há autores como Thomas Frank que tratam o movimento apenas como um subproduto do consumismo, fruto do hedonismo e do individualismo. Em meio a propostas de vidas alternativas comunitárias, a necessidade de viver o prazer sem limites, cada corpo experimentando sem regras as melhores coisas da vida, contra o sistema que os oprimia.


A Contracultura nunca apresentou uma opção sistêmica para o mundo. O negócio era reclamar, transgredir a ordem estabelecida. No final era cada um querendo minimizar as angústias pessoais e eliminar o tédio usando discursinhos bobos contra as guerras e o capitalismo. Pobres sem perspectivas se uniram a membros entediados da classe média, que só queriam um pouco de diversão. Usar drogas e trepar sem limites, eis a tentação libertária do movimento hippie oferecida aos playboys em crise de existência. 

A Contracultura entrou em declínio na década de 70. Quando os Beatles anunciaram a dissolução, John Lennon foi claro: "O sonho acabou". No Brasil, Gilberto Gil também decretou: "O sonho acabou, e quem não dormiu no sleeping bag, nem sequer sonhou". O fato é que aqui acabava a palhaçada.

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