No futuro viveremos em uma economia de mercado com robôs trabalhando em nosso lugar

 

Por Adelson Vidal Alves 

Herbert Marcuse (1898-1979) estava desiludido com o potencial emancipador da classe trabalhadora. Ele analisou o que chamou de "Capitalismo avançado" como sendo uma organização social altamente vigilante e autoritária. O autor de "O homem unidimensional" viu a racionalidade tecnológica como um instrumento de controle social, que integrava a política e a cultura para dentro de um sistema de dominação, impedindo movimentos de negação sistêmica. Marcuse não negava a dialética e as contradições que ainda operavam no seio do progresso, porém viu dificuldades na elaboração de uma luta libertadora. O capitalismo tecnológico dominaria tudo. 

Nas décadas de 60 e 70 já se questionava quem seria o sujeito revolucionário do comunismo. Marcuse, que sofreu influências marxistas, era fortemente desconfiado da força proletária, que estaria bem adaptada ao capitalismo industrial. Sobrariam os setores marginalizados, como desempregados e estudantes, que passariam a assumir a missão redentora contra a ordem do capital. 

De fato, a segunda metade do século XIX foi de pouca confiança no perfil revolucionário da classe trabalhadora. Ao contrário do que previu Marx, o capitalismo não criou um profundo antagonismo social entre as classes. Pelo contrário, produziu classes médias e melhorou a vida dos trabalhadores. O cenário explosivo com enormes áreas de miséria não aconteceu, e a ordem produtiva se reestruturou. O fordismo cedeu ao toyotismo, e novas práticas de gerenciamento foram adotadas. Os trabalhadores viraram "colaboradores". A metamorfose capitalista atingiu a "consciência de classe", e mais do que nunca o marxismo ficou sem salvador. Habermas chegou a dizer que a centralidade do trabalho havia cedido para a centralidade da comunicação, e André Gorz deu adeus ao proletariado. O pensamento marxiano clássico perdia sua capacidade analítica. Com o fim da URSS, o golpe não vinha só da filosofia, mas da história também.

Em 1989, Francis Fukuyama achou que o capitalismo tinha vencido. O muro de Berlim em pedaços era o decreto final do triunfo da economia de mercado. O futuro era liberal e capitalista.

No fim, nem o pessimismo de Marcuse, nem o otimismo de Fukuyama. A sociedade industrial e tecnológica que tanto incomodou o filósofo alemão ainda existe, mas é besteira tratá-la como totalitária, como se vivêssemos uma versão capitalista do Big Brother de George Orwell. A "Grande recusa" e a rebeldia estudantil são coisas do passado. O capitalismo venceu, mas é questionado. A história não acabou. Ambientalistas ganham voz e pedem mais cuidado com a natureza, e são ouvidos. Democracia política e capitalismo andam juntos, reduzindo a miséria e a caminho de vencer a fome. Só que no lugar do liberalismo pleno se pergunta sobre quanto de regulamentação precisamos. 

No sistema econômico do futuro teremos I.A e novas matrizes energéticas. O Estado nacional não vai ceder para a aldeia global, e as utopias revolucionárias vão morrer junto com a fábula do deus mercado.

O capitalismo do futuro irá ceder ao ócio sonhado por Marcuse, que via nele a consagração da plena autonomia individual. Mas o mercado não vai acabar, ao contrário, ficará pra sempre. Ponto para Fukuyama. 

Lá pelos anos 50 do século XXI viveremos numa enorme economia de mercado, com robôs trabalhando em nosso lugar.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Os brancos cristãos escravizados por muçulmanos que a historiografia esqueceu

O identitarismo está construindo uma nova história do Brasil

VILA AMERICANA: POR QUE VOTO NA CHAPA 2