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Mostrando postagens de maio, 2024

Olavo tinha razão

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  Por Adelson Vidal Alves  O insuspeito Francisco Bosco, um legítimo intelectual público, termo que ele mesmo usa para si, chocou recentemente ao afirmar que Olavo de Carvalho tinha razão. Ao jornal Estado de São Paulo, afirmou: "Eu estudo, por exemplo, um autor de direita que fez uma verificação nos bancos do CNPq e mostrou que alguns dos autores conservadores mais importantes do mundo praticamente não são mencionados nas teses de ciências humanas do Brasil. A pessoa que talvez primeiro tenha falado sobre isso, e nem sempre da melhor maneira, foi o Olavo de Carvalho".  Olavo foi um astrólogo que se auto-intitulava filósofo, sem ter feito o curso de graduação em filosofia. Se promoveu pelas redes sociais, falando de diferentes temas, sempre com uma performance chucra, tagarelando sobre Platão, Sócrates e até supostos fetos que seriam usados para adoçar os refrigerantes da Pepsi-cola. Com um cigarro na mão e palavrões excessivos, ele arrebanhou uma pequena multidão para seus c

Terapias e psicólogos são confiáveis?

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Por Adelson Vidal Alves  Estou entre as milhões de pessoas que sofrem com doenças da mente. Crises de ansiedade são comuns na minha vida há pelo menos 10 anos. Como as controlo? Com medicamentos. São eles, e exclusivamente eles, os responsáveis pela minha sobrevivência. "Mas você nunca tentou uma terapia?", pode perguntar alguém. Respondo: "não tentei e não tentarei por enquanto. Tenho para mim que elas não funcionam". "Nossa dívida para com o aperfeiçoamento do sistema de esgotos é incomparavelmente maior do que para com a psicologia", escreveu o psiquiatra e escritor Theodore Dalrymple, autor do livro "Evasivas Admiráveis: como a psicologia subverte a moralidade". Dalrymple é um crítico feroz de Freud, de sua vida e seu método. "As reivindicações de Freud de que foi um cientista não resistem ao escrutínio e seus escritos são tão pouco convincentes que sua aceitação chega a ser um enigma histórico", afirmou.  Li Freud pela primeira vez

O identitarismo está construindo uma nova história do Brasil

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Por Adelson Vidal Alves  Carl Friedrich Philipp von Martius publicou "Como se deve escrever a história do Brasil". Nasce aqui os primeiros esforços de se construir uma historiografia oficial brasileira. É no IHGB (Instituto Geográfico e Histórico Brasileiro) que se hospedará a produção institucional da nossa história, onde se destacará o nome de Francisco Adolfo de Varnhagen.  Estrangeiros e descendentes de estrangeiros são os primeiros responsáveis por contar a realidade histórica do Brasil. Varnhagen concentra sua narrativa em torno do trono, a monarquia como elemento de unidade nacional. Também se pensava em um futuro branco para o país. No IHGB residiu, ainda, uma leitura romântica indianista, aos moldes rousseaunianos.  Sabemos das deficiência técnicas da produção historiográfica de Francisco Adolfo de Varnhagen, que escreveu meio que por encomenda, a partir de suas convicções, sem apego ao rigor científico. Mesmo assim, veio dele o norte que influenciou o trabalho histo

QUEREMOS SER COLONIZADOS

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Por Adelson Vidal Alves  A prosperidade econômica de Hong Kong é mais um exemplo dos benefícios da colonização britânica. De volta para as mãos de Pequim, o que se vê por lá é puro temor diante da cultura totalitária chinesa.  Em 2019, milhares de manifestantes foram às ruas de Hong Kong protestar contra uma lei de extradição para a China. Os protestos atacavam um governo que estaria subordinado aos interesses da ditadura chinesa. Entre os manifestantes uma curiosidade. Eles erguiam a bandeira da Grã-Bretanha, o antigo colonizador. Não é estranho que a bandeira do colonizador malvado seja erguida pelos colonizados?  Em 1881, um grupo de monarcas africanos dirigiu uma carta ao primeiro-ministro britânico William Gladstone, onde pediam: "Queremos estar sob o controle de Sua Majestade. Queremos que nosso país seja governado pelo Governo Britânico. Estamos cansados de governar este país nós mesmos; cada disputa leva à guerra e muitas vezes a grandes perdas de vidas. Estamos completame

Os alunos tem todo o direito de odiar a escola

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  Por Adelson Vidal Alves  Toca o sinal da entrada. As crianças, arrastadas por mochilas maiores que seus corpos, vão deprimidas e sonolentas para as suas salas de aula, onde ficarão, devidamente vigiadas, pelas próximas 5 ou 6 horas. De 50 em 50 minutos berra o sinal. Hora de trocar o carcereiro. Passadas algumas horas, é hora do banho de sol. O lazer e a alimentação são cronometrados, até que outro sinal escandaloso toque. É hora de voltar para a cela, com a escolta dos agentes penitenciários, chamados virtuosamente de disciplinarios. Quando a penitência acaba, a celebração é geral. A escola tradicional é um inferno, e deveria acabar. Os alunos a odeiam, e eles têm razão. O ritual escolar é uma combinação de tortura e burrice. O sofrimento das nossas crianças não vale a pena, pois ninguém aprende nada. Que sentido tem a fórmula de Bhaskara? Por que aprender sobre faraós e rainhas? Em que muda minha vida a existência do encontro consonantal? São perguntas justas, que nós educadores nã

O socialismo liberal de Bobbio e o marxismo

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  Por Adelson Vidal Alves  Oa dogmáticos estão por toda parte. O dogmatismo foi capaz de atingir até mesmo um intelectual marxista sofisticado como Nelson Werneck Sodré, que identificou uma fase feudal na história do Brasil, a fim de atender o esquema etapista da terceira internacional. Também liberais se converteram ao fundamentalismo de mercado que não vê salvação fora da auto-regulação do mercado.  Foram poucas as vezes onde pudemos ver um diálogo saudável e civilizado entre marxistas e liberais. Uma destas vezes aconteceu no amplo debate entre os gramscianos Leandro Konder e Carlos Nelson Coutinho e o social-liberal José Guilherme Merquior.  Norberto Bobbio, um dos grandes nomes da história da teoria política, também foi capaz de estabelecer uma conversa crítica com Marx, sendo ele um liberal democrata. Reivindicou, assim, um socialismo liberal.  Para Bobbio, a filosofia da história em Marx é simplista. A visão de progresso marxiana, de fato, apresenta uma teleologia altamente anac

Fiasco sindical e a oportunidade liberal

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Por Adelson Vidal Alves  Era um dia ensolarado, propício para um 1 de maio com multidões e festa. Mas em São Paulo, onde Lula esperava os trabalhadores, menos de 2 mil pessoas estavam presentes, segundo monitoria da USP. O presidente, em meio a crimes eleitorais pedindo votos para Boulos, percebeu o fiasco e soltou: "O ato está mal convocado. Não fizemos o esforço necessário para levar quantidade de gente que precisa levar". A impressão é que Lula vive com a cabeça nas décadas de 70 e 80, tempos de ouro do sindicalismo de enfrentamento. Não percebeu as mutações no mundo do trabalho, que praticamente feriram de morte esta versão sindical. Aliás, a ideia de sindicalismo que funcionou nos tempos fordistas está morta. A convivência e os conflitos entre trabalhadores e patrões devem ser mediados por ferramentas mais modernas, e por concepções sindicais mais alinhadas à negociação e o jogo democrático.  O Brasil tem no seu DNA um patológico corporativismo, sobretudo no setor públic