Terapias e psicólogos são confiáveis?


Por Adelson Vidal Alves 

Estou entre as milhões de pessoas que sofrem com doenças da mente. Crises de ansiedade são comuns na minha vida há pelo menos 10 anos. Como as controlo? Com medicamentos. São eles, e exclusivamente eles, os responsáveis pela minha sobrevivência. "Mas você nunca tentou uma terapia?", pode perguntar alguém. Respondo: "não tentei e não tentarei por enquanto. Tenho para mim que elas não funcionam".

"Nossa dívida para com o aperfeiçoamento do sistema de esgotos é incomparavelmente maior do que para com a psicologia", escreveu o psiquiatra e escritor Theodore Dalrymple, autor do livro "Evasivas Admiráveis: como a psicologia subverte a moralidade". Dalrymple é um crítico feroz de Freud, de sua vida e seu método. "As reivindicações de Freud de que foi um cientista não resistem ao escrutínio e seus escritos são tão pouco convincentes que sua aceitação chega a ser um enigma histórico", afirmou. 

Li Freud pela primeira vez na faculdade, e me apaixonei. Mesmo entre seus críticos há um consenso de que o austríaco era um talentoso escritor. Seja em "O mal estar da civilização" ou "O futuro de uma ilusão" é evidente a qualidade da escrita. No entanto, as dezenas de livros de Freud são no máximo metáforas ou impressões sociológicas de um atento observador da realidade. Não há nada de ciência nas terapias freudianas e nenhuma comprovação de seus conceitos terapêuticos. 

"Só quem tem pouco bom senso levaria hoje a sério a maioria das idéias de Freud”, diz a psicóloga Sophie Freud, nada mais nada menos que a neta do pai da psicanálise. Sophie é uma cética quanto à eficácia das terapias inspiradas nas teses de seu avô. Ela, por algumas vezes, veio a público fazer suas críticas a tais teses.

A microbiologista Natália Pasternak e o jornalista Carlos Orsi incluíram a psicanálise no grupo das pseudociências no seu mais recente e polêmico livro. Eles tentaram demonstrar que a psicologia precisa passar por testes críticos como qualquer outro campo de conhecimento, e neste aspecto, a psicanálise fracassa feio. 

"Não se trata de uma crítica a Freud, trata-se de reconhecer que os modelos da psicanálise não se encaixam com o que sabemos hoje sobre o funcionamento do cérebro”, diz o neurocientista Ivan Izquierdo. Para ele, os conhecimentos da neurociência moderna desautorizam levar a sério Freud e suas teses, pelo menos no que diz respeito ao tratamento contra os sofrimentos da mente. 

Freud foi certeiro ao afirmar que a civilização só sobrevive com repressão aos nossos instintos naturais. Até certo ponto é óbvio que, ao nos entregarmos à nossa natureza modelada pela evolução, não haveria como conseguirmos manter de pé uma sociedade civilizada. Seu argumento, no entanto, foi alem, capaz de provocar adaptações filosóficas provocadoras, como a de Herbert Marcuse. Freud inquestionavelmente é um habilidoso homem da literatura.

Não digo que todos os psicólogos são picaretas, nem tenho autoridade sobre o assunto pra dizer que nada nas terapias pode ser salvo. Há muita gente séria que atesta efeitos positivos de seus encontros no divã. Também é bom entendermos que há várias abordagens psicológicas. Não há uma psicologia, há psicologias. 

Para mim, como bom iluminista que sou, falta a segurança científica necessária nas terapias que conheço. Se para alguns faz bem, também há relatos que os diálogos terapêuticos produziram traumas terríveis nos pacientes, como relata Pasternack no seu livro. 

Por minha conta, não frequento terapias. Sigo com os comprimidos.

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