O socialismo liberal de Bobbio e o marxismo

 


Por Adelson Vidal Alves 

Oa dogmáticos estão por toda parte. O dogmatismo foi capaz de atingir até mesmo um intelectual marxista sofisticado como Nelson Werneck Sodré, que identificou uma fase feudal na história do Brasil, a fim de atender o esquema etapista da terceira internacional. Também liberais se converteram ao fundamentalismo de mercado que não vê salvação fora da auto-regulação do mercado. 

Foram poucas as vezes onde pudemos ver um diálogo saudável e civilizado entre marxistas e liberais. Uma destas vezes aconteceu no amplo debate entre os gramscianos Leandro Konder e Carlos Nelson Coutinho e o social-liberal José Guilherme Merquior. 

Norberto Bobbio, um dos grandes nomes da história da teoria política, também foi capaz de estabelecer uma conversa crítica com Marx, sendo ele um liberal democrata. Reivindicou, assim, um socialismo liberal. 

Para Bobbio, a filosofia da história em Marx é simplista. A visão de progresso marxiana, de fato, apresenta uma teleologia altamente anacrônica nos dias de hoje. A pretensão científica do marxismo se deu em torno da narrativa ambiciosa de que o socialismo seria um caminho inevitável das leis da história, com a abolição do Estado e da sociedade de classes. O socialismo liberal de Bobbio encontra aqui sua principal crítica.

O socialismo não é invenção do filósofo alemão. A utopia de uma sociedade igualitária remonta a tempos antigos, até mesmo nas primeiras comunidades cristãs. As reflexões de Marx tentaram racionalizar os ideais igualitários para dentro de uma teoria. O autor encontrou na propriedade privada a fonte das desigualdades (neste aspecto, Rousseau foi um precursor do comunismo). A existência das classes e do Estado seriam as expressões materiais da desigualdade, cabendo, então, a uma classe universal, o proletariado, o papel de fazer desaparecer o Estado e as classes. 

Bobbio, porém, vê um erro na doutrina marxista, "A meta fundamental do homem não é a sociedade sem classes: o problema do homem é um só, é o problema da liberdade". Aqui, o grande pensador italiano demarca o processo histórico como o acúmulo de luta por libertação. Na prática, o marxismo rejeitou as liberdades individuais em nome de um coletivismo totalitário. 

"Nós dizemos, portanto, socialismo, mas socialismo em função de uma maior liberdade; a meta final não é o socialismo, mas a liberdade", escreveu Bobbio. É a constatação de que a liberdade como valor universal é o foco da dinâmica histórica civilizatória. Não é o comunismo o fim da história, mas a consagração da liberdade. "Isto quer dizer, em essência, socialismo liberal", finalizou Bobbio.

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