QUEREMOS SER COLONIZADOS

Por Adelson Vidal Alves 

A prosperidade econômica de Hong Kong é mais um exemplo dos benefícios da colonização britânica. De volta para as mãos de Pequim, o que se vê por lá é puro temor diante da cultura totalitária chinesa. 

Em 2019, milhares de manifestantes foram às ruas de Hong Kong protestar contra uma lei de extradição para a China. Os protestos atacavam um governo que estaria subordinado aos interesses da ditadura chinesa. Entre os manifestantes uma curiosidade. Eles erguiam a bandeira da Grã-Bretanha, o antigo colonizador. Não é estranho que a bandeira do colonizador malvado seja erguida pelos colonizados? 

Em 1881, um grupo de monarcas africanos dirigiu uma carta ao primeiro-ministro britânico William Gladstone, onde pediam:

"Queremos estar sob o controle de Sua Majestade. Queremos que nosso país seja governado pelo Governo Britânico. Estamos cansados de governar este país nós mesmos; cada disputa leva à guerra e muitas vezes a grandes perdas de vidas. Estamos completamente dispostos a abolir todos os nossos costumes pagãos. Sem dúvida, Deus os abençoará por trazer luz ao nosso país".

Tanto os manifestantes de Hong Kong quanto os reis da África admitiram que estavam melhores sob a colonização europeia. Como eles, pensavam milhões de colonizados, que entendiam estar melhores com as administrações britânicas, alemãs ou francesas do que debaixo da tirania das elites locais. Antes da chegada dos europeus não eram a paz e a prosperidade que se destacavam nas regiões colonizadas, mas sim a perversidade dos chefes tribais e os eternos conflitos entre as gangues nativas.

O reconhecimento desta realidade é testemunhado nas palavras de um renomado romancista que fala pelo lado das ex-colônias. Considerado pai da literatura nigeriana moderna, Chinua Achebe escreveu: "Os britânicos governaram sua colônia na Nigéria com cuidado considerável (...) Ninguém era consumido pelo medo de sequestro ou assalto a mão armada. Tinha-se muita confiança e fé nas instituições britânicas. Agora, tudo isso mudou"

O mundo acadêmico, hegemonizado pelo pensamento anti-colonial e identitário, cancelou o debate sobre o legado do colonialismo ocidental. Aplica-se um veto moral a um episódio importante da história, que deveria passar pela investigação científica, não ser demonizado por narrativas ideológicas. A militância woke caça os pesquisadores que não foram contaminados pelo sentimento de culpa que atinge a inteligência europeia.

O professor Bruce Gilley, da  Portland State University, foi obrigado a retirar seu artigo "O caso do colonialismo" de uma importante revista científica, mesmo depois de sua revisão por pares. O editor chefe que publicou o ensaio recebeu ameaças de morte. Os colegas acadêmicos de Gilley, ainda, resolveram por limitar sua voz, colocando condições sobre sua atividade como docente e pesquisador universitário. Sua liberdade acadêmica foi cassada, do tipo como faz instituições como a Igreja Católica, através de seus tribunais inquisidores. 

A ideia dominante nos círculos culturais e do senso comum é de demonização do colonialismo ocidental. Afirmam que o mundo seria melhor caso as potências imperiais europeias jamais conseguissem entrar na Ásia, África e América, ainda que os números mostrem outra realidade. Absolvem o imperialismo árabe, russo e africano, sendo apenas o europeu aquele que deve prestar contas à história. 

Difícil para essa gente admitir que os colonizados podem pedir proteção do colonizador. Mas isso aconteceu e acontece, quando se descobre que a ilusão da soberania ou determinadas formas de domínio só lhe trazem dor e sofrimento. Os manifestantes de Hong Kong e milhões de colonizados assim entenderam, e por isso prestam saudação aos bons colonizadores. Querem o direito de serem colonizados.

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