Fiasco sindical e a oportunidade liberal


Por Adelson Vidal Alves 

Era um dia ensolarado, propício para um 1 de maio com multidões e festa. Mas em São Paulo, onde Lula esperava os trabalhadores, menos de 2 mil pessoas estavam presentes, segundo monitoria da USP. O presidente, em meio a crimes eleitorais pedindo votos para Boulos, percebeu o fiasco e soltou: "O ato está mal convocado. Não fizemos o esforço necessário para levar quantidade de gente que precisa levar".

A impressão é que Lula vive com a cabeça nas décadas de 70 e 80, tempos de ouro do sindicalismo de enfrentamento. Não percebeu as mutações no mundo do trabalho, que praticamente feriram de morte esta versão sindical. Aliás, a ideia de sindicalismo que funcionou nos tempos fordistas está morta. A convivência e os conflitos entre trabalhadores e patrões devem ser mediados por ferramentas mais modernas, e por concepções sindicais mais alinhadas à negociação e o jogo democrático. 

O Brasil tem no seu DNA um patológico corporativismo, sobretudo no setor público. Ninguém aceita sacrificar privilégios na parte de cima do funcionamento do Estado. Super salários e benefícios em excesso desmontam o orçamento e fabricam uma máquina de ineficiência. Quando aparece oportunidade para a realização de reformas, o que vemos é uma guerra corporativa sanguinária. Nosso país não consegue emplacar um ciclo reformista decente, capaz de quebrar os males do patrimonialismo que assolam nossa nação. 

A última rodada de reformas econômicas aconteceu durante o breve governo Temer. As esquerdas montaram uma barricada contra qualquer possibilidade de mudança nas regras trabalhistas, que remontam ao período varguista e tem inspiração da Carta Del Lavoro do fascismo italiano. A CLT (Consolidação das Leis do Trabalho) foi chamada por Lula de "AI 5 dos trabalhadores". 

A enorme Constituição de 1988 oferece direitos sociais e trabalhistas aos montes. No papel, somos um Estado de Bem estar social. A questão é que tantos benefícios não cabem no orçamento público, e a produção de déficits e consequentemente de inflação e desemprego mostram que boa vontade e generosidade não são suficientes para melhorar um país. No entanto, a cultura dos direitos e da pouca responsabilidade que caracteriza todo o nosso Brasil parece estar definitivamente entranhada em nossa índole. 

Estudo realizado por pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP) e do Insper aponta redução da taxa de desemprego de 1,7% depois da tímida reforma trabalhista realizada no governo Temer. A reforma, ainda, reduziu as reclamações trabalhistas de 2,63 milhões para 1,73 milhão. O que isso significa? Com a nova regra custeando os trabalhadores pelo processo, as aventuras judiciais pararam. Apenas os trabalhadores verdadeiramente lesados entraram na justiça. Os que tratavam indenizações trabalhistas como prêmio de loteria resolveram não se arriscar tanto. 

Sei que ingenuidade da minha parte imaginar que o Congresso Nacional e as corporações sindicais irão ceder para um processo reformista focado na redução do Estado, na livre negociação e na formação de uma alma impessoal na sociedade brasileira. O liberalismo que aqui formamos é débil para enfrentar os séculos de formação nacional ibérica. Nossos liberais, em sua maioria, são caricaturas retrógradas e elitistas. Porém, o fracasso do sindicalismo de enfrentamento e o seu desastrado aparelhamento pelo governo do PT nos trazem a esperança de que algo novo pode aparecer. É uma oportunidade liberal.

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