Olavo tinha razão

 

Por Adelson Vidal Alves 

O insuspeito Francisco Bosco, um legítimo intelectual público, termo que ele mesmo usa para si, chocou recentemente ao afirmar que Olavo de Carvalho tinha razão. Ao jornal Estado de São Paulo, afirmou: "Eu estudo, por exemplo, um autor de direita que fez uma verificação nos bancos do CNPq e mostrou que alguns dos autores conservadores mais importantes do mundo praticamente não são mencionados nas teses de ciências humanas do Brasil. A pessoa que talvez primeiro tenha falado sobre isso, e nem sempre da melhor maneira, foi o Olavo de Carvalho". 

Olavo foi um astrólogo que se auto-intitulava filósofo, sem ter feito o curso de graduação em filosofia. Se promoveu pelas redes sociais, falando de diferentes temas, sempre com uma performance chucra, tagarelando sobre Platão, Sócrates e até supostos fetos que seriam usados para adoçar os refrigerantes da Pepsi-cola. Com um cigarro na mão e palavrões excessivos, ele arrebanhou uma pequena multidão para seus cursos online. Em um tempo relativamente curto já tinha entre seus alunos o filho do presidente, sendo capaz de indicar o ministro da educação e construir uma ala ideológica dentro do Planalto. 

Mas deixemos um pouco a figura de Olavo de lado e olhemos para a afirmação de Bosco. O guru do bolsonarismo estava mesmo certo ao acusar aa universidades de boicotar o pensamento conservador?

De fato, há inúmeras denúncias da perseguição promovida pelo campo progressista nas universidades. Acadêmicos conservadores têm pouca chance de publicar, e a bibliografia, dizem os entendidos como Bosco, são mesmo direcionadas para teóricos da esquerda, sobretudo no curso de humanas. Os estudantes, como bem observou Joel Pinheiro da Fonseca em seu recente artigo na Folha, tendem sim para o ativismo progressista. 

É dever constitucional das universidades velarem pelo pluralismo ideológico, permitindo a livre circulação de ideias. Porém, a imprensa noticia constantemente professores sendo atacados, caluniados e até agredidos por conta de suas posições políticas. Há uma milícia identitária que patrulha o pensamento universitário, escoltada por professores que adotaram como tática de poder encurralar minorias filosóficas, principalmente o conservadorismo, mas também o liberalismo.

O resultado disso é a migração destes grupos para instituições culturais privadas e think tanks. Lá eles conseguem falar e atrair até mais gente do que no ambiente universitário. Com uma fala simples, respaldada no cotidiano popular, os intelectuais públicos do conservadorismo, do liberalismo e até do reacionarismo ganham adeptos para os seus rebanhos, enquanto a universidade prega para convertidos. Estrategicamente, a inteligência progressista não está sendo inteligente. 

Olavo não quis só denunciar a realidade universitária do debate de ideias, mas também produziu uma crítica desqualificadora. A Universidade, para os seguidores de Olavo, não ensinam nada de produtivo, apenas catequizam. O ambiente acadêmico brasileiro que nunca foi lá perto do povo vira um ET na cabeça da maioria do povão. Mais uma derrota para a esquerda. 

Novamente citando Joel: "Um dos jeitos de recuperar a confiança da população é ser capaz de mostrar que em seus quadros há pessoas de variadas ideologias, e que fomenta nos estudantes não o radicalismo da vez, e sim a disposição de pensar por si mesmos". Não é isso que está acontecendo.

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