Os alunos tem todo o direito de odiar a escola

 

Por Adelson Vidal Alves 

Toca o sinal da entrada. As crianças, arrastadas por mochilas maiores que seus corpos, vão deprimidas e sonolentas para as suas salas de aula, onde ficarão, devidamente vigiadas, pelas próximas 5 ou 6 horas. De 50 em 50 minutos berra o sinal. Hora de trocar o carcereiro. Passadas algumas horas, é hora do banho de sol. O lazer e a alimentação são cronometrados, até que outro sinal escandaloso toque. É hora de voltar para a cela, com a escolta dos agentes penitenciários, chamados virtuosamente de disciplinarios. Quando a penitência acaba, a celebração é geral.

A escola tradicional é um inferno, e deveria acabar. Os alunos a odeiam, e eles têm razão. O ritual escolar é uma combinação de tortura e burrice. O sofrimento das nossas crianças não vale a pena, pois ninguém aprende nada. Que sentido tem a fórmula de Bhaskara? Por que aprender sobre faraós e rainhas? Em que muda minha vida a existência do encontro consonantal? São perguntas justas, que nós educadores não sabemos responder. 

Crianças são felizes por natureza. Ainda não sofrem o peso de responsabilidades estressantes, não penam o peso de refletir o sentido existencial. Só querem brincar, fazer o que dá prazer. Pode ser? Não. A escola existe para acabar com tanto regozijo. Os pequeninos precisam sofrer, ora essa. 

É verdade que existem belas experiências educacionais. Em Portugal, a Escola da Ponte foca no prazer da aprendizagem. Alunos curiosos retém o que aprendem, pois aprendem satisfazendo questões voluntárias. Não estão amarrados a currículos absurdos elaborados por burocratas que não conhecem bulhufas sobre o que é ser criança. 

Na Escola da Ponte não há professores, há facilitadores. Quem cuida da escola são os alunos, são eles que decidem como e o que aprender. Se engana quem acha que a vida escolar irá se resumir à bagunça. Longe da estupidez tradicional, os alunos despertam para a maravilha que é o conhecimento. 

A educação brasileira é um absoluto fracasso, ainda que o volume de dinheiro para investimento aumente cada vez mais. A pedagogia remonta ao período da revolução industrial, onde a meta era fabricar gente obediente. 

Torço por reformas educacionais, mas tenho pouca esperança. Parece que todos nós estamos satisfeitos com a pedagogia bancária, o aluno como receptor, não como agente. Ficou cômodo para o governo, a família e até para os educadores.

O saldo final todos conhecem, mas mudanças não estão no horizonte. Os alunos, então, reagem com indisciplina. Logo são tratados como problema. Os seus gritos não são ouvidos. São os gritos de ódio, um ódio que eles tem direito a ter.

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