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Mostrando postagens de fevereiro, 2024

Luto por Volta Redonda

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Por Adelson Vidal Alves  Volta Redonda nasceu histórica. Cresceu junto à Siderúrgica criada em acordo do ditador brasileiro, Getúlio Vargas, e o governo americano, no contexto da Segunda guerra mundial. Tivemos neste palco gente como Juarez Antunes, líder operário e depois prefeito, morto em condições suspeitas. Dom Waldyr Calheiros, o bispo vermelho, combatente da democracia contra as ditaduras e as mazelas sociais que nosso país ainda enfrenta. Ficamos na história.  O cenário político de Volta Redonda é desolador. O esvaziamento operado na cidade, principalmente pela despolitização operada pelo netismo, nos fez de uma democracia pulsante com atores sociais autônomos, um apático feudo, dominado por um senhor feudal autoritário, inescrupuloso e tirano. O prefeito Neto trabalha nos bastidores da política, cooptando lideranças e movimentos sociais. Gente influente que poderia enfrentá-lo vai para dentro da Folha de pagamento da prefeitura. A imprensa está quase toda aparelhada, os partid

O Império liberal

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Por Adelson Vidal Alves  O renomado historiador escocês Niall Ferguson tem um livro que precisa ser lido e debatido de forma honesta e sem medo. Chama-se "Colosso: ascensão e queda do império americano". Sua tese central é direta e polêmica: os EUA são um império, e isso não é ruim. Apesar da maioria dos americanos e seus governantes negarem vocação imperialista, Ferguson nos convence que um imperialismo liberal americano não só não é negativo como é necessário.  A opinião pública mundial fecha em torno de um consenso dogmático: o colonialismo é malvado. Está certo que toda forma de colonização carrega consigo atrocidades e algum tipo de violência. Mas, falando particularmente do colonialismo europeu, é correto afirmar que suas colônias tiveram vidas melhores depois da descolonização? Não é o que os números dizem, nem no que toca aos indicadores sócio-econômicos e nem na política. Bem conclui Ferguson: "A descolonização (...) frequentemente levou,  não à democracia, mas,

Civilização universal?

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Por Adelson Vidal Alves  "Eu não poderia ter me tornado um escritor no mundo muçulmano; na China; no Japão (...). Eu não poderia ter me tornado o tipo de escritor que sou na Europa Oriental, na União Soviética ou na África negra", escreveu o Prêmio Nobel de literatura V.S. Naipaul em seu famoso artigo "Nossa civilização universal". Nascido em Trinidad  e Tobago, ele entendeu que sua travessia civilizacional permitiu que sua literatura florescesse. No seu ensaio, ainda, defendeu que os valores ocidentais poderiam atingir todas as culturas e povos.  Samuel Huntington, renomado analista político norte americano, morto em 2008, é autor do clássico "O choque de civilizações", onde defende que os novos conflitos mundiais se darão basicamente por agrupamentos civilizacionais, entre 5 ou 6. Ele entende que as civilizações, em níveis distintos, podem coexistir, mas não convergir. Huntington critica as pretensões universalistas do Ocidente, entendendo que fora do mu

Em matéria de política externa, os neoconservadores tem muita razão

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Por Adelson Vidal Alves  Segundo Francis Fukuyama, falando de forma resumida, o neoconservadorismo se resume em quatro pontos: 1) É importante avaliar o caráter interno de um regime político 2) Os EUA têm o dever de serem intervencionistas 3) Desconfiança com projetos de engenharia social 4) Ceticismo quanto à eficácia das leis e das instituições internacionais.  Os neoconservadores tiveram influência em pelo menos dois governos republicanos: Reagan e Bush. O primeiro era um neocon (como também são conhecidos os neoconservadores) convicto, o segundo nem tanto. A interferência das ideias neoconservadoras nestas administrações é visível, sobretudo na invasão americana ao Iraque. Para os neocons, não se tratava de uma ação de puro interesse americano, mas um ato de benefício global.  A ideia é que intervenções americanas possam impor regimes democráticos em regiões onde prevalece o eixo maligno da autocracia e do terror. Tal ideia, claro, agrada a direita republicana, e tem apelo nos seto

Teologia da Libertação, o marxismo que envenenou a Igreja católica

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Por Adelson Vidal Alves  Na juventude, enquanto católico, atuei nas CEBs (Comunidades Eclesiais de Base). Trabalhei com educação popular através do CEBI (Centro de Estudos Bíblicos) e participei de círculos de estudos bíblicos, sempre olhando os textos sagrados a partir da ótica dos pobres, compromissado com a práxis da libertação social, sem o qual seria impossível ser salvo.  Por anos fui influenciado pela Teologia da Libertação, criada pelo Padre Gustavo Gutierrez e que tinha na opção preferencial pelos pobres seu eixo fundador. São os pobres e sua realidade social o elemento estruturante desta teologia, não Cristo. Este ponto rendeu uma rigorosa crítica de um dos seus principais expoentes, o Frei Clodovis Boff. Clodovis é um teólogo renomado, irmão do ex-frei franciscano Leonardo Boff, que foi silenciado em Roma por conta de suas ideias críticas à Igreja. Depois de atuar como militante da TdL, Clodovis reviu suas posições e em 2007 escreveu um longo artigo se propondo a corrigir as

Os "brasileiros" ex-escravos que colaboraram com os colonizadores

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Por Adelson Vidal Alves  É de conhecimento nosso que reinos africanos participaram ativamente no tráfico atlântico de escravos. Tais reinos conseguiram enriquecer com o comércio de almas para o trabalho compulsório, como foi o caso do Reino de Daomé. Eles ainda obtiveram ganhos militares com a aquisição de armas que, pelo menos entre os africanos, lhes davam vantagens nas guerras.  Na América portuguesa a escravidão foi em certo ponto "democrática". Nenhum dispositivo legal impedia negros de terem escravos, e eles tiveram. Mais que isso, muitos acumularam riqueza sendo senhores de gente, tal como revelado no livro "As sinhás pretas da Bahia: suas  escravas, suas jóias" do antropólogo Antônio Risério. Para muitos, tal atitude soa incoerente e até traição, visto que eram negros escravizando negros. Mas é importante entender que na África a escravidão existia bem antes da colonização europeia, e naquele tempo não havia um sentimento de africanidade. Os africanos dos sé