O Império liberal

Por Adelson Vidal Alves 

O renomado historiador escocês Niall Ferguson tem um livro que precisa ser lido e debatido de forma honesta e sem medo. Chama-se "Colosso: ascensão e queda do império americano". Sua tese central é direta e polêmica: os EUA são um império, e isso não é ruim. Apesar da maioria dos americanos e seus governantes negarem vocação imperialista, Ferguson nos convence que um imperialismo liberal americano não só não é negativo como é necessário. 

A opinião pública mundial fecha em torno de um consenso dogmático: o colonialismo é malvado. Está certo que toda forma de colonização carrega consigo atrocidades e algum tipo de violência. Mas, falando particularmente do colonialismo europeu, é correto afirmar que suas colônias tiveram vidas melhores depois da descolonização? Não é o que os números dizem, nem no que toca aos indicadores sócio-econômicos e nem na política. Bem conclui Ferguson: "A descolonização (...) frequentemente levou,  não à democracia, mas, depois de um brevíssimo interlúdio, à ditadura nativa". As novas realidades pós-coloniais se apresentaram "mais corruptas, mais sem leis, mais violentas". 

Nações imaturas assumindo sozinhas o autogoverno não teriam como caminhar para o desenvolvimento. Como o Banco Desenvolvimento da África declarou em relatório de 2003: "mais de quatro décadas de independência deveriam ter sido tempo suficiente para resolver o legado colonial e avançar". Porém, não avançou. Estava com razão Herbert Morrison, ex-secretário de Estado do Reino Unido, quando disse: "Seria um absurdo ignorante e perigoso falar em concessões de governo próprio a muitos dos territórios dependentes (...) seria como dar a uma criança de dez anos a chave de casa, uma conta no banco e uma arma". 

O mundo contemporâneo herda, de certa forma, os problemas oriundos da forma apressada e atabalhoada como se deu o processo de descolonização. A queda no número de regimes democráticos, as guerras bárbaras que renascem e as imensas desigualdades regionais refletem a falta de padronização mundial em torno de instituições e valores civilizatorios que nasceram e se consolidaram na geografia ocidental. Há uma nova missão libertadora a ser cumprida pelo Ocidente. Mais do que isso: não basta libertar, são necessárias interferências estrangeiras temporárias como forma de edificação de regimes liberais-democráticos onde imperam tiranias selvagens. É o que tenho chamado de "Novo imperialismo". Apenas uma nação tem condições de aceitar e implementar com sucesso esta empreitada: os Estados Unidos da América. 

Além de Ferguson, outros autores e correntes políticas reconhecem o caráter imperial e benevolente da política externa americana. Irving Kristol é certeiro quando diz que esse apelo por imperialismo veio das necessidades objetivas, não por uma ambição particular dos EUA. Escreve ele sobre o imperialismo americano: "O mundo quis que isso acontecesse, precisou que isso acontecesse, e sinalizou isso por meio de uma longa série de crises relativamente menores que não poderiam ser resolvidas sem algum envolvimento norte-americano". 

Mas a ação imperialista americana tem se mostrado parcial e incompleta. As missões militares dos EUA, sozinhos ou por intermédio da OTAN, são válidas quando o assunto são questões humanitárias, tal como aconteceu na Guerra da Bósnia. Porém, são insufientes quando a tarefa é a construção de regimes benevolentes. Estão aí os fracassos no Iraque e no Afeganistão. 

O imperialismo americano deve ser assumido como projeto consciente, mobilizando forças do início ao fim. Não como queria o ex-presidente George W. Bush,  somente com tarefas de libertação, mas implementando processos completos de transição. Na prática, trata-se de ocupações longas e integrais até que democracias liberais substituam autocracias sanguinárias. Este é o papel de um império liberal. 










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