Luto por Volta Redonda



Por Adelson Vidal Alves 

Volta Redonda nasceu histórica. Cresceu junto à Siderúrgica criada em acordo do ditador brasileiro, Getúlio Vargas, e o governo americano, no contexto da Segunda guerra mundial. Tivemos neste palco gente como Juarez Antunes, líder operário e depois prefeito, morto em condições suspeitas. Dom Waldyr Calheiros, o bispo vermelho, combatente da democracia contra as ditaduras e as mazelas sociais que nosso país ainda enfrenta. Ficamos na história. 

O cenário político de Volta Redonda é desolador. O esvaziamento operado na cidade, principalmente pela despolitização operada pelo netismo, nos fez de uma democracia pulsante com atores sociais autônomos, um apático feudo, dominado por um senhor feudal autoritário, inescrupuloso e tirano. O prefeito Neto trabalha nos bastidores da política, cooptando lideranças e movimentos sociais. Gente influente que poderia enfrentá-lo vai para dentro da Folha de pagamento da prefeitura. A imprensa está quase toda aparelhada, os partidos e seus donos o servem como vassalos de lealdade canina. A Câmara municipal apenas carimba as decisões do prefeito imperador, e em seu cotidiano expõe uma deprimente miséria de ideias, se reproduzindo pela compra indireta de votos. 

Para as eleições deste ano as alternativas são medonhas. O atual prefeito quer a reeleição, e é muito provável que consiga. Para isso, começou a minar seu principal adversário, o empresário bolsonarista Mauro Campos. Mas Neto também tem ligações naturais com a mentalidade bolsonarista, no autoritarismo e no patrimonialismo. Não é à toa que almoçou com uma bancada do PL e encaminhou a filiação do seu vice ao partido do ex-presidente Bolsonaro. A chapa da reeleição agora tem a marca do bolsonarismo. Mauro Campos teve que sair, mas não mudou muito, foi para o NOVO, partido que cada vez mais se alinha ao moralismo da direita bolsonarista, entregando a ela um discurso liberista, como diria Zé Guilherme Merquior, ou seja, um fundamentalismo de mercado socialmente insensivel. A esquerda lulista apresentou seu candidato: professor Alexandre Habibe. O cara na última eleição ficou atrás da candidatura despretensiosa do inexpressivo PSOL. O candidato, nas redes sociais, prefere atacar o Estado de Israel e namorar o terrorismo do Hamas, ao invés de falar dos problemas de volta Redonda. 

Eis as alternativas que temos até agora. Uma demonstração fúnebre do futuro de Volta Redonda. Cidade que foi celeiro de lutas sociais, e hoje virou um grande latifúndio com covardes puxando saco do coronel e um punhado de caricaturas folclóricas a animar o circo eleitoral da cidade. Talvez em Outubro seja melhor ficar em casa ao invés de ir votar. A luz no fim do túnel é o trem na contramão. 

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