Teologia da Libertação, o marxismo que envenenou a Igreja católica

Por Adelson Vidal Alves 

Na juventude, enquanto católico, atuei nas CEBs (Comunidades Eclesiais de Base). Trabalhei com educação popular através do CEBI (Centro de Estudos Bíblicos) e participei de círculos de estudos bíblicos, sempre olhando os textos sagrados a partir da ótica dos pobres, compromissado com a práxis da libertação social, sem o qual seria impossível ser salvo. 

Por anos fui influenciado pela Teologia da Libertação, criada pelo Padre Gustavo Gutierrez e que tinha na opção preferencial pelos pobres seu eixo fundador. São os pobres e sua realidade social o elemento estruturante desta teologia, não Cristo. Este ponto rendeu uma rigorosa crítica de um dos seus principais expoentes, o Frei Clodovis Boff. Clodovis é um teólogo renomado, irmão do ex-frei franciscano Leonardo Boff, que foi silenciado em Roma por conta de suas ideias críticas à Igreja. Depois de atuar como militante da TdL, Clodovis reviu suas posições e em 2007 escreveu um longo artigo se propondo a corrigir as distorções epistemológicas da Teologia da Libertação.

Parte das reflexões de Clodovis está no livro " A crise da Igreja Católica e a Teologia da Libertação", que foi um dos meus objetos de reflexão durante o carnaval. Nele o Frei acusa a TdL de colocar os pobres no lugar de Jesus e de ser uma teologia confusa e contraditória. "A prioridade do pobre e de sua libertação se tornou na TdL um pressuposto quase que "evidente por si mesmo". Aí está posto sem problemas. Contudo, está posto de modo teoricamente indeciso e confuso, permitindo ambiguidades, equívocos e reduções", escreveu o autor. 

De fato, a TdL é confusa e ambígua, principalmente para os leigos. Mas seu principal problema, e o maior mal causado à Igreja, é a instrumentalização política e ideológica da fé. Em bom português, é o marxismo envenenando a Igreja. Sua contribuição para o êxodo de fiéis católicos para o protestantismo carismático foi a conversão do que é espiritual para o que é material e histórico. O transcendente vira imanente, os textos sagrados são interpretados a partir de uma ótica sociológica, metáforas da realidade social oprimida do pobre. A salvação, os milagres, o Reino de Deus, tudo se transforma em alegorias mundanas. 

A sede espiritual presente em qualquer religião não pode ser saciada pela pura linguagem social e política. A dimensão do êxtase, da experiência sobrenatural são aspectos fundamentais para o crente, que não se contenta apenas em ver Deus no pobre. Com a TdL a teologia virou antropologia e Deus perdeu a centralidade, que passou a ser do homem, particularmente o homem pobre. 

Como agnóstico e humanista, eu poderia até estar contente com a infiltração da modernidade no seio da religião. A TdL pode ser vista como sabotagem secular a uma instituição dogmática e milenar. Mas não considero honesto. Não tenho nenhuma intenção de destruir as religiões, ainda que não ache uma má ideia um mundo sem religiões no futuro. 

A fé quando se limita a fantasias espiritualistas, e que se aliena do mundo concreto, acaba por ser apenas uma fuga covarde da realidade. Uma Igreja assim é pobre e inútil. Mas também não é saudável (para a igreja) uma teologia que elimina as utópias sagradas, retira a dimensão mágica e transcendente da fé. Frei Clodovis propõe a dialética, o resgate da TdL e de seus bons frutos. A opção por Cristo que leva aos pobres, e não o contrário. 

O sucesso da TdL na década de 60, no contexto de  ditaduras na América Latina, fez muito bem para a Igreja. Mas não demorou muito para que seu apelo por compromisso social se confundisse com militância política. Católicos acolheram o dogma revolucionário da luta de classes, participaram de revoltas e movimentos sociais, muitos deles nascidos a partir desta militância, como é o caso do MST. O excesso de politização sem espaço para a contemplação tradicional da fé eclesiástica fez esgotar a mobilização popular das bases. Com o tempo os teólogos da libertação passaram literalmente para o lado de ditadores da esquerda latina, sendo incapazes de incorporar às suas reflexões o elemento da democracia como valor universal. 

Em uma conclusão dura, posso dizer que a TdL envenenou a Igreja para depois contaminar a esquerda com seu marxismo terceiro-mundista. De uma teologia oportuna, como certa vez disse um papa, passou a uma ideologia arcaica, cheia de ressentimentos de classe. A boa notícia é que ela está quase morta. Os antigos teólogos da libertação hoje falam mais de ecologia do que de revolução social. Menos mal.

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