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Mostrando postagens de abril, 2024

A ciência não está aqui para fazer a gente se sentir bem

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Por Adelson Vidal Alves  Em 1978, quando participava de uma conferência, o biólogo norte-americano Edward O. Wilson recebeu um jarro de água gelada na cabeça. Era um ato de protesto contra as opiniões de Wilson, que defendeu em um de seus livros que muitos comportamentos humanos tidos como reprováveis são na verdade apenas reprodução das determinações genéticas. Os manifestantes e a esquerda em geral se recusam a aceitar que suas utopias igualitárias podem não caber em nossos genes.  Criador da sociobiologia, Edward enxergava o egoísmo como aspecto definitivo dos nossos traços genéticos. Para ele, nem mesmo nossas práticas de altruísmo seriam capaz de testemunhar a favor de alguma benevolência natural humana, pois "o altruista espera reciprocidade da sociedade".  Outro biólogo renomado que se aproximou das teses de Wilson foi Richard Dawkins, que quando não fala de Deus é sempre brilhante. Em seu livro clássico "O gene egoísta" escreveu: "O argumento deste livr

China copiou o capitalismo ocidental e colheu frutos econômicos

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Por Adelson Vidal Alves  Para alguns economistas a China já superou os EUA no que toca à economia. A  força do crescimento econômico chinês nas últimas décadas impressiona e redesenha a geopolítica mundial. Mas como uma nação agrária que sofreu com milhões de mortes debaixo do comunismo maoista se transformou em uma potência? Há algum conceito capaz de dar conta do particularíssimo caso chinês?  A revolução socialista chinesa destoou teoricamente do marxismo. Enquanto neste é o operariado fabril o protagonista revolucionário, no pensamento de Mao Tsé-Tung seriam os camponeses os principais agentes das grandes transformações do país. No poder, o comunismo chinês se orientou politicamente por ditaduras, e economicamente se prendeu à planificação da economia. Em 1957, Mao lançou o "Grande Salto Adiante", um ambicioso planejamento que projetou a economia chinesa superando a Europa em 15 anos. O projeto implementado pelo Estado chinês era impiedoso com o campo, se apropriando até

Da Suécia a Margaret Thatcher o liberalismo se mostra o melhor caminho

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Por Adelson Vidal Alves  Não precisamos ler "O caminho da servidão" de Friedrich Hayek para saber que a planificação econômica é um desastre. Quando o Estado dita como e quanto as empresas devem produzir, dispensando os mecanismos de mercado, o resultado sempre será escassez de produtos, mesmo que algum tipo de crescimento econômico aconteça temporariamente. A experiência sovietica é uma aula sobre tudo isso.  Porém, acreditar em leis mágicas e autoregulaforas do mercado também é um equívoco. A aula da história vem da crise de 1929. Nossa preocupação, então, passa ser qual teoria econômica resolverá nossa procura por bem estar social. Keynes ou Smith? Não há uma única resposta, nem solução universal. Às vezes doses de capitalismo podem salvar o socialismo, como fez a NEP (Nova Política Econômica) a concessão capitalista feita por Lênin na URSS. Às vezes doses de intervenção estatal podem salvar o capitalismo, tal como fez o New Deal de Franklin Roosevelt.  Me parece, porém, q

A esquerda entre o universalismo iluminista e o tribalismo woke

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Por Adelson Vidal Alves  Em "Comunidades imaginadas", Benedict Anderson defende que o sentimento nacional é pura invenção. Fora de pequenos vilarejos, as pessoas se conhecem e se conectam por valores e personagens imaginários que os ligam, como a língua, os mitos e heróis.  A direita conservadora sempre valorizou as lealdades nacionais; o compromisso com sua terra e seu lar. Nas formas mais radicais apareceu em seu meio a xenofobia e o racismo. A esquerda era diferente, velando pela herança universalista do iluminismo. O marxismo chamava por solidariedade internacional, compreendendo que a aliança com os explorados do mundo não pode ter pátria. Tudo isso está mudando.  Acaba de chegar ao Brasil "A esquerda não é woke", de Susan Neiman. O livro enfrenta a questão da relação entre o wokismo e o patrimônio político da esquerda. Neiman lembra que as pautas do identitarismo estão ancoradas no sentimento histórico dos progressistas em defesa dos mais fracos. Tomar lado de

Quatro lições de Sêneca

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Por Adelson Vidal Alves  Em tempos onde as massas caminham desesperadas atrás de soluções simples para problemas complexos, leio que os estóicos estão voltando para as livrarias. É uma boa notícia, já que o sucesso dos picaretas de TikTok só servem para afundar ainda mais a nossa ignorante geração. Ler Sêneca é muito mais útil do que pagar fortunas para ouvir Pablo Marçal. O romano conselheiro do imperador Nero me fez refletir nestes momentos de drama pessoal. Trago alguns de seus conselhos.  "Devemos deixar de lado as coisas que não podem acontecer ou só podem ser realizadas com dificuldade, e seguir aquelas que estão ao alcance de nossas esperanças" Apesar do meu charme, Paola Oliveira jamais olhará para mim. Apesar de ter sido um bom meia direita nos tempos de juventude, não dá mais para me tornar um novo Arrascaeta. Seria um tolo se caísse na conversinha mole de quem acha que tudo podemos, bastando apenas acreditar em nós mesmos. Melhor é focar na realidade, no que dá pra

A esquerda pode ser parceira da extrema-direita

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Por Adelson Vidal Alves  Entre 1918 e 1933, a Alemanha foi governada pela social-democracia, na chamada República de Weimar. Tratava-se de uma esquerda que pretendia o socialismo por vias institucionais, conservando a pluralidade de partidos e a liberdade individual, em alinhamento com o ordenamento liberal-democrático. Mas o sectarismo comunista se levantou contra esta experiência, pela liderança de Rosa Luxemburgo e Karl Liebknecht, que tentaram um golpe de Estado. A derrota do levante se deu com ajuda dos chamados freikorps, milícia de extrema-direita. O voluntarismo golpista dos comunistas causaram um racha na esquerda alemã, facilitando a ascensão de Hitler na década de 30.  Stalin, o autocrata soviético, liderou a tese esdrúxula do "social-fascismo". Para ele e seus seguidores, a social-democracia seria parte integrante das variantes do fascismo, até mesmo mais perigosa que o fascismo em si. Comunistas e social-democratas, assim, não conseguiriam firmar uma aliança cont