A esquerda pode ser parceira da extrema-direita

Por Adelson Vidal Alves 

Entre 1918 e 1933, a Alemanha foi governada pela social-democracia, na chamada República de Weimar. Tratava-se de uma esquerda que pretendia o socialismo por vias institucionais, conservando a pluralidade de partidos e a liberdade individual, em alinhamento com o ordenamento liberal-democrático. Mas o sectarismo comunista se levantou contra esta experiência, pela liderança de Rosa Luxemburgo e Karl Liebknecht, que tentaram um golpe de Estado. A derrota do levante se deu com ajuda dos chamados freikorps, milícia de extrema-direita. O voluntarismo golpista dos comunistas causaram um racha na esquerda alemã, facilitando a ascensão de Hitler na década de 30. 

Stalin, o autocrata soviético, liderou a tese esdrúxula do "social-fascismo". Para ele e seus seguidores, a social-democracia seria parte integrante das variantes do fascismo, até mesmo mais perigosa que o fascismo em si. Comunistas e social-democratas, assim, não conseguiriam firmar uma aliança contra o nazi-fascismo. A esquerda, mais uma vez, se dividia pelo seu irremediável dogmatismo, a exemplo do que foi a Guerra Civil espanhola, quando estalinistas mataram trotskystas e anarquistas lutaram contra todo mundo. A vida da aliança tradicionalista conservadora foi bastante facilitada. 

No Brasil do PT e de Lula, a esquerda tambem embarca em fantasias delirantes, importantes para manter coesa a militância, mas extremamente prejudicial para a consolidação da estrutura democrática da institucionalidade brasileira. Para muitos, somente o lulismo é força legitimada para enfrentar o bolsonarismo. Quem dele se afasta colabora com o bolsonarismo. Criticar o PT já não é exercício essencial na conservação da governança democrática, mas traição, dissidência que fortalece o inimigo a ser batido. Bolsonaro é o mal, Lula é o bem. Na batalha maniqueista da esquerda brasileira, não há salvação para o centro. 

Há ainda espaço para colaboração direta entre esquerda e extrema-direita. O PT emitiu uma nota histórica de felicitações a Putin, o ditador russo reacionário que implementa na Ucrânia uma guerra de conquista. Ele foi reeleito como presidente da Rússia, depois de assassinar concorrentes e criminalizar manifestações de oposição. O PT não viu nada demais em tamanha fraude, afinal, o neoczar russo é o principal inimigo dos EUA e do Ocidente, os grandes demônios na peça montada pela esquerda patologicamente anti-americana. 

A extrema-direita se alimenta do sectarismo esquerdista, assim testemunha a história. A derrota dos movimentos conservadores autoritáriosse dá quase sempre por alianças amplas, nem que sejam pontuais. Os nazistas caíram pela força das armas soviéticas e americanas. A ditadura militar brasileira foi derrotada por liberais e moderados agindo nas brechas do sistema, enquanto a luta armada tombava e dava justificativas para o acirramento da violência estatal. Bolsonaro perdeu a eleição por pequena margem de votos. Isto porque o centro moderado, de liberais a conservadores democráticos, logo ingressou na candidatura de Lula. O presidente eleito prometeu uma frente ampla, mas não cumpriu. No poder, voltou-se para seu incurável populismo sectário. De certa forma, dá vida ao bolsonarismo, em mais uma prova de que a esquerda pode ser parceira da extrema-direita 


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