Uma escola de elite

 


Por Adelson Vidal Alves 

Mudar de opinião é próprio de quem não se guia por dogmas, e mantém o espírito aberto a novos fatos ou mesmo pronto para percepções que se modificam com a experiência. Eu mudei minha visão sobre muita coisa, um giro da esquerda para a direita. Mais precisamente da utopia para a realidade. 

Sobre a educação, fui um defensor aberto da experiência libertária da Escola da Ponte, que ainda me fascina, mas que só pode funcionar em determinados ambientes, com determinados alunos. Não acho que gestores e professores tenham poderes transformadores, não tanto como pensa a utopia freirista. Quando o educador adentra um espaço de famílias estáveis  e de tranquilidade social mínima ele pode abusar das ideias e dos projetos. Quando o que encontra é pura anomia social (conceito do sociólogo francês Émile Durkheim) só se pode pensar na redução de danos. Em resumo, a educação não tem poder de construir espaços igualitários, não é capaz de ajudar todo mundo e nem de revolucionar a sociedade. Apresento a seguir meu projeto de escola contemporânea.

Se eu for ministro da educação um dia, irei criar dois modelos escolares: a Escola Vocacional dos Excelentes (EVE) e a Escola de Redução de Efeitos Sociais (ERES). O Estado irá fazer uma seleção rigorosa dos melhores alunos, os mais capacitados serão subordinados a testes cognitivos, passarão por avaliações sociais de sua situação familiar, serão testados em provas e entrevistas por especialistas. Os mais aptos em inteligência, sociabilidade, capacidade de acatar regras, espírito de competição e poder de absorver e transmitir o conhecimento herdado que compõe a alta cultura da civilização farão parte da primeira escola. Dela sairá a classe dirigente, os novos professores, políticos e os responsáveis pelas tarefas mais complexas. É a elite cultural minuciosamente separada e preparada. 

Na segunda escola ficarão os grupos de menor capacidade de aprendizagem, insubordináveis, oriundos de ambientes sociais inadequados, e que precisarão passar por metodologias de adequação pedagógica para a vida em sociedade. A meta principal é recuperar o que dá pra ser recuperado, elevar ao máximo suas habilidades e incutir civilidade no seu espírito. Não serão jamais da classe dirigente, mas podem contribuir enormemente para a sociedade em outras tantas funções nobres, formar famílias, terem uma existência digna e respeitada. 

O modelo atual, quando estão todos os alunos misturados, mostra a experiência que alunos de grande poder educacional são prejudicados por didáticas que são obrigadas a serem dirigidas para a maioria, que quase sempre é intelectualmente inferior às pequenas elites. Os alunos brilhantes acabam por serem penalizados pelos medíocres, e o nível educacional final prejudica a todos. Há por trás das nossas escolas a falsa concepção de que todo mundo pode aprender a mesma coisa e a educação tem o poder de elevar cada aluno aos mesmos patamares. Isso não é verdade em todos os sentidos. 

Há quem me acusará de elitista e segregador. Tudo bem. Ainda conservo minha esperança na escola como a produtora de cidadãos críticos, e acredito que nosso esforço nesse sentido deve ser o nosso guia maior. Porém, a história mostra o quanto fracassamos nesse sentido por conta de uma pedagogia massificada, chata e cheia de burocracia mentirosa pra inglês ver. Passei do meu tempo igualitarista, hoje aceito o papel das hierarquias para o bom funcionamento social.

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