Sou agnóstico, mas defendo o cristianismo por razões civilizatórias

 


Por Adelson Vidal Alves 

Sou agnóstico. Ou seja, não creio na existência de um deus, mas não posso provar sua inexistência, assim como não se pode provar sua existência. O agnóstico, antes de tudo, reconhece nossa incapacidade de resolver questões metafísicas. 

Mas há razões que me fazem defender o cristianismo e seu legado. Mesmo não crendo que deus exista como fenômeno literal na natureza, sua existência social se faz presente na influência que as religiões exercem sobre as sociedades. De qual deus estamos falando, então, é uma questão importante na hora de análises sociológicas que consideram valores como liberdade, igualdade e direitos humanos. 

O premiado historiador britânico Tom Holland, autor de "Domínio" entre outras grandes obras, defende que o cristianismo ajudou a moldar as instituições inclusivas do mundo ocidental. Ele lembra que a ideia de que todos são filhos de Deus e portadores de igualdade não está presente na antiguidade, e a perspectiva de mobilidade social (os últimos serão os primeiros) contribuiu para o desenvolvimento social dos mais pobres. 

Além disso, é notório que os valores protestantes contribuíram para a formação de uma ética que gera prosperidade no capitalismo, e onde eles prevaleceram, como entre as 13 colônias, houve aumento da riqueza com a valorização do trabalho. Mesmo que o catolicismo tenha sido menos propenso a uma cultura de desenvolvimento econômico, mesmo ele foi capaz de incorporar conquistas civilizatórias das democracias liberais, como a separação do Estado e Igreja. O mesmo não aconteceu em religiões como o islamismo. 

Ayaan Hirsi Ali, escritora e ativista, integrou no passado a Irmandade Muçulmana. Ela foi vítima da crueldade deste grupo extremista, e recentemente anunciou sua conversão ao cristinianismo. Entre as razões, ela aponta a necessidade de defendermos um legado civilizacional comum como forma de defesa da nossa cultura. Ela aponta forças inimigas do Ocidente a serem combatidas, e argumenta: "(...) não podemos combater estas forças formidáveis ​​a menos que possamos responder à pergunta: o que é que nos une? A resposta de que “Deus está morto!” parece insuficiente. O mesmo acontece com a tentativa de encontrar consolo na “ordem internacional liberal baseada em regras”. A única resposta credível, creio eu, reside no nosso desejo de defender o legado da tradição judaico-cristã:"

Não me converti ao cristianismo, mas reconheço que ele moldou os nossos valores, de modo que defendê-lo é lutar pela sobrevivência de nossa civilização, do nosso modo de viver e de nossas instituições. 

Apesar de ainda haver fundamentalismo, fanatismo e obscurantismo entre os cristãos, os países de maioria cristã não precisam conviver com teocracias, salvo o Vaticano, claro. Bem diferente são as nações que convivem com maiorias e até minorias influentes de muçulmanos. Ali a democracia liberal enfrenta dificuldades, e valores civilizatorios como os direitos humanos e a liberdade individual inexistem. A conservação do cristianismo e seus valores trazem benefícios para a manutenção da nossa civilização.

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