Negacionismo climático e liberdade de expressão

 

Por Adelson Vidal Alves 

John Clauser afirmou recentemente que não existe crise climática e que a temperatura da Terra é determinada pela cobertura de nuvens. Poderia ser apenas mais uma afirmação louca de algum negacionista das mudanças climáticas, mas não é. O dono destas palavras é Prêmio Nobel de Física de 2022. E ele não está sozinho quando o assunto é especialistas que rejeitam a tese do aquecimento global.

"Os objetivos [de quem fala em mudanças climáticas] são congelar os países em desenvolvimento. O Brasil é o principal foco dessas operações que envolvem meio ambiente e clima. A ideia da mudança climática e dessas questões ambientais são para segurar o nosso desenvolvimento", afirmou o meteorologista Ricardo Felicio, professor da USP 

"A diferença fundamental entre o IPCC e nós é que eles dizem que essas alterações são provocadas pela atividade humana. Enquanto nós apresentamos evidências físicas de que a variabilidade é natural. O homem não tem nada a ver com a ocorrência dessas alterações" disse o meteorologista Luiz Carlos Molion em audiência no Senado. 

Diante de vozes qualificadas a questionar o que muitos consideram um consenso científico, o que fazer? Considerando que ao negar a gravidade climática eles estariam comprometendo nosso futuro não seria o caso de censurá-los? Caso a resposta seja sim, cabe outra pergunta: a fim de salvar o planeta vale a pena abrirmos mão de uma das grandes conquistas do mundo livre, ou seja, a liberdade de expressão?

O escritor e ambientalista Mark Lynas certa vez escreveu: "Eu me pergunto quais sentenças os juízes darão nos tribunais criminais do futuro, para aqueles diretamente responsáveis por milhões de mortos pela fome e doenças nas proximas décadas". Sua visão é de literalmente responsabilizar criminalmente quem negou os problemas ambientais do planeta. Molion, Felício e Clauser estariam encrencados. 

Durante a pandemia de Covid-19 fui radical: quem levantar duvidas sobre a vacina merece a cadeia. A ignorância dessa gente não pode comprometer vidas. O mesmo poderia dizer dos negacionistas climáticos, mas considero hoje que fui altamente emotivo. É preciso tolerar a liberdade de expressão com seus devidos limites, tentando vencer os negacionistas com a persuasão. 

O problema é que a estratégia midiática sobre a crise ambiental do planeta é péssima, como foi na época da pandemia. Lá tivemos doses diárias de terror, onde deveríamos ficar apavorados, estado de medo indispensável para que obedecêssemos às determinações sanitárias dos governos. Com o aquecimento global o terror é o mesmo, e aqui mora o grande equívoco. 

O filósofo Pascal Bruckner, autor de "O fanatismo do Apocalipse" defende que o catastrofismo tende a levar as pessoas ao desalento. Dizer que o mundo vai acabar faz com que a população simplesmente ignore o problema do fim, já que ele é inevitável. Seria melhor olhar para os acordos internacionais e as novas leis assim como o avanço da consciencia ambiental como provas de que a humanidade pode mudar e salvar o planeta. É contraditório o discurso da neurótica adolescente Greta Thunberg, que diz que as sociedades são um absoluto desastre e ao mesmo tempo pede que os homens dessa sociedade impeçam a extinção da vida na Terra. 

Os garotos propaganda também não ajudam. A própria Greta, uma adolescente que sofre de asperger e se resume a discursos histéricos a culpar as velhas gerações pelos sofrimentos da sua, gera muito mais compaixão e susto do que consciência. E o Greenpeace? O terrorismo climático tem nome, e só ultra-radicais e ingênuos com crise de consciência são capazes de apostar em estratégias extremistas como a da ONG de origem canadense.

Se por um lado temos o extremismo, por outro há a ingenuidade mística. São os neo-hippies ou algo assim que atribuem consciência à natureza. O aquecimento global seria a reação da Mãe Terra contra a ganância da humanidade. Assim como a mentalidade medieval atribuía os problemas naturais aos pecados do homem, então punidos por seus erros, há hoje ainda quem veja uma revanche da natureza contra nossos pecados. Nada disso pode ser levado à sério por pessoas minimamente racionais.

Enfim, o debate deve estar sempre aberto. Os negacionistas do clima devem ser vencidos no debate público. A censura como argumento utilitarista é demais até para um utilitarista como eu.

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