Moralidade evangélica beneficia os mais pobres

 

Por Adelson Vidal Alves 

Confesso. Tenho meus preconceitos com os evangélicos, particularmente os protestantes pentecostais e neopentecostais. Sou tentado a reduzí-los a um punhado de ignorantes moralistas que atrapalham o progresso do país. Ainda que enxergue alguma  verdade nisso tudo, ela é, no mínimo, parcial.

O antropólogo Juliano Spyer é hoje um dos principais estudiosos deste grupo. Em "O Povo de Deus" ele defende que a ida dos mais pobres para as novas igrejas evangélicas está diretamente ligada aos benefícios que é possivel colher através da vida moral que passam a ter. "O crescimento do cristianismo evangélico no Brasil tem menos a ver com pastores oportunistas e carismáticos e mais com a influência das igrejas para melhorar as condições de vida dos mais pobres. (...) As igrejas evangélicas funcionam como Estado de bem-estar social informal, ocupando espaços abandonados pelo poder público", escreveu Spyer. 

Comentando o livro, o economista Samuel Pessoa escreveu em artigo na Folha de São Paulo:  "Há uma ética conservadora nas igrejas evangélicas. Para elas, "a pobreza é um problema individual". Independentemente de essa visão de mundo descrever bem ou não os fatos, ela parece ser mais produtiva, para os pobres, como meio de progresso do que a visão coletivista da Igreja Católica"

De fato, a moralidade evangélica não responsabiliza o sistema pelos problemas das pessoas. Elas são pobres porque levam vidas promíscuas e desreguladas, não porque um capitalista malvado as explora no trabalho. Com isso, prossegue Pessoa: "A atuação dos evangélicos, em relação à caridade, é bem diferente da dos católicos. Em vez de ajudar materialmente, o evangélico atua promovendo a conversão, para que a pessoa em condição de rua, por exemplo, ganhe hábitos novos e mude de vida". 

Adam Smith, filósofo da moral e pai do liberalismo econômico, analisou a relação entre moralidade e as relações sociais. Em "A Riqueza das nações", escreveu que nas sociedades civilizadas duas formas de moral coexistem. No primeiro modelo, há uma conduta mais austera, rígida e conservadora, tal modelo é "geralmente admirado e respeitado pela gente comum". Já o segundo modelo, liberal, é mais adotado por "pessoas de distinção". Smith, então, conclui que é compreensível o aparecimento de seitas religiosas de moralismo rígido entre os mais pobres, já que há uma relação entre essa forma de moralidade e o bem estar social. Já dizia a historiadora Gertrude Himmelfarb que "o povo sabe que o desregramento de uma única semana pode arruinar um pobre trabalhador para sempre". Enquanto os ricos podem desfrutar da boêmia sem grandes prejuízos para o seu futuro.

É claro que há vários aspectos envolvidos na atração das camadas mais pobres pelas novas seitas protestantes. A mística, o apego pelo sobrenatural, o conforto espiritual diante da existência miserável, colaboram. Porém, parece evidente que há uma relação entre a moralidade conservadora de tais igrejas e o restabelecimento social e psicológico dos seus membros. Alguém afundado em dívidas que se converte, abandona os vícios e a vida de noitadas, vendo seu dinheiro sobrar no final do mês. 

O incentivo à iniciativa também faz com que muitos evangélicos deixem a dependência do Estado antes de outros grupos. Se a culpa da pobreza é dele, e não do sistema, então é hora de reagir. Isso traz resultados. 

Se o conservadorismo moral deste grupo tem efeitos negativos indiscutíveis em questões caras à nação, como nos direitos da comunidade gay e a legalização do aborto, por outro lado o crescimento evangélico pode e deve ser analisado pelo fato de que a conversão melhora a vida dos seus membros. Há uma relação entre uma vida mais digna e a fé que vivem e professam.

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