Em busca de uma esquerda democrática

Por Adelson Vidal Alves 

Maduro trapaceou e diz que venceu a eleição presidencial da Venezuela. Quase ninguém acredita no resultado. Tirando, é claro, algumas republiquetas e as ditaduras amigas do regime ditatorial de Maduro. Entre os que saudaram a fraude estão partidos e movimentos socias de esquerda no Brasil. 

O sempre caricato PCO diz que Maduro "Derrota o imperialismo", e alerta sobre um golpe em curso, mas contra o ditador. O MST assina com outros movimentos sociais uma carta intitulada "Movimentos populares defendem a vitória do povo venezuelano com a reeleição” de Maduro. E o PT parabeniza o fraudulento pleito como uma "jornada pacífica, democrática e soberana".

O processo eleitoral de domingo está comprometido faz tempo. O regime proibiu a principal candidata da oposição de partipar da eleição, e hoje a ameaça de prisão com acusações de terrorismo. A UE foi proibida de observar a eleição, as atas de votação foram escondidas, urnas foram retiradas dos locais de votação e o CNE (Conselho Nacional Eleitoral) deu vitória a Maduro sem apresentar uma única prova. Só mesmo Celso Amorim, assessor de Lula, para achar que a oposição precisa provar que venceu, quando quem está dizendo ao mundo que foi vitorioso e até já se auto-diplomou presidente foi Maduro, sem apresentar provas e nem ao menos deixar a oposição participar da apuração, que pelas leis venezuelanas deveria ser pública. Quem apoia essa farsa, como parte da esquerda brasileira, rejeita publicamente a democracia, colocando suas pretensões ideológicas no lugar da vontade popular. 

O filósofo Rui Fausto, em um dos seus últimos escritos, alertava para a degeneração da esquerda em nostalgias totalitárias. Do PSTU ao PT haveriam saudosistas e admiradores de autocracias ditas progressistas, alimentados teoricamente por pensadores neototalitários como Slavoj Zizek e Alain Badiou. 

No Brasil, essa mesma esquerda cultiva uma verdadeira paranoia anti-americana. O imperialismo dos EUA deveria ser freado, mesmo que por ditaduras reacionárias ou grupos terroristas. A invasão russa na Ucrânia e as leis homofóbicas de Putin não incomodaram essa esquerda, já que o autocrata russo é hoje um inimigo declarado do Ocidente. O ataque terrorista do Hamas que rendeu estupro, sequestro e torturas bárbaras a mulheres judias não foi capaz de constranger militantes de esquerda que vestiram a camisa do grupo terrorista e cantaram músicas antissemitas em acampamentos universitários.

Tal esquerda, alinhada ao terror e a ditaduras, não está à altura dos desafios contemporâneos. Uma esquerda para o nosso tempo deve tratar a democracia como valor universal, a Constituição como seu programa político, o reformismo como estratégia e a igualdade de oportunidades seu objetivo. Uma esquerda republicana, que se constrói com dificuldades em meio a uma constelação de partidos totalitários. A tarefa é árdua.

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