Antirracismo não pode ser uma declaração de guerra contra os brancos

Por Adelson Vidal Alves 

"(...) a supremacia branca não se refere às pessoas brancas individualmente e as suas ações ou intenções individuais, mas um sistema de dominação política, econômica e social abrangente. Repito, o racismo é uma estrutura, não um acontecimento isolado". Este raciocínio vem de Robin DiAngelo, autora de "Não basta não ser racista: sejamos antirracista". 

DiAngelo apenas reforça a tese do racismo estrutural, ou seja, o racismo não como fruto de comportamentos individuais condenáveis, (uma perversão particular de alguns), mas resultado de estruturas dominantes. A malandragem por trás da ideia é simples: se há estruturas e instituições operando contra negros e a favor dos brancos, logo não pode haver negros racistas, apenas brancos racistas. 

Ela ainda é dona do conceito de "Fragilidade branca". Segundo DiAngelo, brancos protegidos por seus naturais privilégios de raça não conseguem suportar o estresse racial no qual muitas vezes são expostos. Frágeis, preferem o silêncio e a negação da realidade como instrumento de defesa. Segundo Robin, eles deveriam assumir que são inevitavelmente racistas, pois carregam o pecado original da cor. A própria autora também presta consultoria a várias empresas, responsável por ensinar brancos a se assumirem como inevitáveis opressores, seja lá como tenham se comportado ultimamente. 

O movimento antirracista carrega em seu nome uma causa nobre: o combate ao racismo. Mas, na prática, opta por uma ofensiva racial igualmente racista, com uma profunda hostilade contra pessoas brancas. Estas seriam beneficiadas por seus privilégios, desde o nascimento destinadas a uma vida bem mais confortável do que a das pessoas não brancas. Em uma sociedade de classes tão desigual como o Brasil, o que oferece verdadeiramente vantagens a alguém é a conta bancária, não a cor. O acesso às coisas boas da vida não encontra barreiras na cor da pele, mas na falta de grana. A barreira é social, não racial. Porém, o antirracismo entende que brancos pobres são privilegiados pela sorte biológica de sua raça, destinadas a uma existência vantajosa.

John McWhorter, autor de "Racismo woke: como a militância traiu o movimento antirracista" elabora uma interessante crítica ao identitarismo militante negrista. Ele entende que atravessamos três ondas do antirracismo, a exemplo do feminismo. Começou de forma nobre, na luta contra a escravidão, e hoje se encontra como uma artimanha nefasta de busca por poder. McWhorter entende que aqui foi fundada uma religião, com direito a pecado original, a clero, dogmas e um grupo de Eleitos.

De fato, os tempos atuais são de um avanço do vitimismo identitario que demoniza grupos em nome do "empoderamento" das minorias. Tudo que vem dos negros só pode ser bom, um estereótipo onde pretos devem ser poupados de crítica. Quem critica a obra de um negro só pode ser racista. Se Vinicius Jr não ganhar a bola de outro é por culpa do racismo. 

Negros, ainda, detém o monopólio da virtude. Caso alguém de cor acuse um branco de racismo ele é automaticamente tratado como dono da verdade, pois é negro e sabe o que é o sofrimento negro. Aquele velho papo de leis e direito à defesa é subordinado ao sentimento do acusador, elevado ao patamar de portador indiscutível da verdade. A cor da pele determina o modo do julgamento e quem é o culpado.

Na fábula do racismo estrutural não é o racista como indivíduo a ser observado, mas a sociedade estruturada no poder branco. Todos os brancos são privilegiados e cúmplices da vergonha racista. Como diz DiAngelo, negar o seu racismo é a maior prova de que você é racista. Não há alternativa.

Lutar contra o racismo é um dever da sociedade civilizada. E esta luta acontece, rendendo frutos positivos para a promoção da diversidade e a inclusão social dos negros. Mas o antirracismo da terceira onda prefere dizer que está tudo como antes ou pior. O pessimismo é pura estratégia de luta pra dizer que negros seguem tão vítimas hoje como eram antes. 

Só assim pode se falar de reparações históricas, em políticas afirmativas, em cotas e monopólios da narrativa. O negro sofre e precisa ser ouvido, enquanto brancos tem privilégios e precisam ser calados. O pior é que muitos brancos aceitam sua eterna punição, e acabam virando serviçais da causa negrista, um jeito que arranjaram para amenizar sua própria culpa.

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