Direitas israelenses

Por Adelson Vidal Alves 

 Ze'ev Jabotinsky é um importante nome da história de Israel. Orador brilhante, filósofo e pensador, foi responsável por influenciar e criar uma série de organizações de autodefesa israelense. Ele integrou o chamado sionismo revisionista e conservava um aparente paradoxo. Era adepto da ideologia da "Grande Israel" e um defensor ferrenho do liberalismo e dos direitos humanos. Pregava um maximalismo territorial e um Estado de maioria judaica, e criticou duramente os regimes coletivistas, sendo um apaixonado apologista das liberdades individuais. Apesar de defender uma imensa pátria judaica, não organizou suas ideias em cima de promessas bíblicas, mas sim a partir dos compromissos assumidos pela comunidade internacional. 

A direita liberal de Ze'ev Jabotinsky se difere do sionismo messiânico que o sucedeu, sobretudo a partir da Guerra dos Seis Dias, em 1967. Para Micah Goodman, pesquisador do Instituto Shalon Hartman, foi este acontecimento histórico que produziu e alimentou interpretações messiânicas da história, produzindo uma nova direita israelense: religiosa, fanática e fatalista. 


Os rumos da direita sionista, alicerçados nos acontecimentos de 1967, se caracterizam pela perda de força do sionismo secular e o triunfo de um olhar histórico messiânico e determinista. Quando Israel enfrentou e venceu de forma extraordinária os árabes, foi fácil para muitos ideólogos desta direita ligarem os fatos históricos a alguma interferência divina. Eram os tempos da Redenção. 


O pensamento do rabino Isaac Kook e seu filho alimentaram esta percepção teleológica da história de Israel. A nova direita que surgia via a vitória na guerra e a expansão territorial a prova de que o Plano de Deus se cumpria. Pensar em devolver as terras tomadas no conflito para os palestinos seria alterar o projeto divino destinado ao seu povo escolhido.

As coisas começaram a mudar em 2005. Ainda segundo Goodman, a desocupação de Gaza significou um golpe na visão fatalista dos tempos da Redenção. Israel perdia território, o que ia contra à interpretação fundamentalista de que Deus controlava progressivamente a história de Israel. Diante de tal retrocesso, como sustentar esta filosofia? 

De uma direita liberal, passando por uma direita messiânica e religiosa, a direita israelense hoje conhece sua faceta mais perigosa. O governo do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu coleciona adjetivos que vão do populismo ao supremacismo judaico. Depois de defender dois Estados, mas com o lado palestino desmilitarizado, Netanyahu hoje fala de controle total da Palestina histórica. Bibi arquitetou retirar poderes da Suprema Corte israelense, no que significaria destruir a única democracia do Oriente Médio. Sua atuação autocrática (para dentro), e seu incentivo aos assentamentos judaicos na Cisjordânia (para fora) formaram um contexto trágico para a própria segurança de Israel. O Estado de Israel hoje é ameaçado em seu formato liberal-democrático e também na sua existência. Netanyahu tem muita culpa nisso. 

A retomada da influência de uma direita liberal, democrática e secular em Israel ajudaria muito na recomposição da imagem do seu povo e Estado. Ela deve somar forças com todos os grupos que querem retirar do poder Netanyahu e tudo que ele significa. Aí então, teríamos as condições para pensar numa solução de paz com os palestinos e definitivamente consolidar a forma ocidental da democracia israelense, tão ameaçada pela direita populista. 


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