Um livro espetacular de V. S Naipaul


Por Adelson Vidal Alves 

V.S Naipaul, Nobel de literatura em 2001, é vítima constante de calúnias por parte dos seus detratores. Ele só se tornou escritor, afirma o mesmo, quando deixou a África e foi para a Europa. Ele é acusado de traidor de suas origens (nasceu em Trinidad e Tobago) e visto como um colonizador a desqualificar os povos colonizados. Naipaul é autor de um romance espetacular, que acabo de ler. 

"Uma curva no rio" conta a história de uma África em processo de descolonização. Salim, protagonista e narrador da trama, é um indiano muçulmano que se torna comerciante em um fictício país africano. Do seu armazém, convivendo com o antigo escravo da família, estabelece relações com diversos personagens que trazem à tona temas diversos, como violência, nacionalismo, modernização etc. 

O romance se dá na década de 60, num cenário pós-colonial. Primeiro vem a prosperidade africana, o boom comercial, depois de rebeliões e carneficinas. O presidente, tratado como o "Grande homem", cria um centro cultural de convivência, onde se estabelece um "choque de cultura". Populista e autoritário, adere a um nacionalismo radical. Em seu discurso, o apelo por "sacrifícios", o retorno ao passado socialista da África e à medicina tradicional e natural dos antepassados. O "Grande homem" defende a revolução "impopular entre os negros que sonhavam em um dia acordarem brancos".

A África que prosperou retorna aos conflitos tribais, ao vandalismo, à desordem. Tudo em meio a um ambiente povoado de corrupção, culto à personalidade e intensas crises políticas. 

Primeiro vieram os árabes, que tinham a escravidão como uma peça natural da vida. Depois vieram os europeus, que abominavam tal prática. As afirmações de Naipaul, assim como sua conduta literária, lhe renderam variadas acusações de depreciação das nações colonizadas. No entanto, se a África de "Uma curva no rio" revela sua instabilidade, também sobra para a Europa a qualificação de alguém que "já não governava", era "medíocre, vil e repugnante". O livro é na verdade um grande debate sobre passado e futuro, o moderno eao atrasado, sobre a busca individual e coletiva por identidade. 



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