Incompatibilidade civilizacional


Por Adelson Vidal Alves 

A versão oficial de Israel para o êxodo de centenas de milhares de palestinos durante a guerra de 1948 é a seguinte: eles deixaram suas casas voluntariamente, a pedido de suas lideranças. 

Na década de 1980, Benny Morris, historiador integrante do grupo conhecido como "Novos Historiadores" trouxe uma narrativa bem diferente. Deixando de lado a exclusividade da memória e apostando em fontes documentais, desafiou a historiografia judaica tradicional. Ele revelou a expulsão de uma multidão de palestinos através de atrocidades cometidas pelas forças israelenses.  

A Folha de São Paulo entrou recentemente nesse debate através de dois textos. Arlene Clemesha, professora de história árabe da USP, defendeu que a Nakba (catástrofe) é fruto de um plano original de Israel de querer se livrar dos palestinos. A réplica veio de Leonardo Avritzer, professor titular do Departamento de Ciência Política da UFMG, que retrucou as acusações de Clemesha e alertou para um importante ponto: os palestinos vem sucessivamente recusando as propostas de partilha. 

De fato, em 1937, através do Plano Peel e em 1947, com a proposta da ONU, o mundo teve duas chances de ver a existência de dois Estados (judeu e palestino) na região histórica da Palestina. Os dois planos foram rejeitados pelos palestinos.

Mesmo Benny Morris, o revisionista que desontruiu a narrativa sionista oficial de 1948, hoje é bastante pessimista frente algum acordo de paz, por conta dos palestinos. Morris entende que dificilmente algum Plano de partilha funcionará, pois os palestinos querem na verdade toda a região. Este é o Plano do Hamas e outras organizações terroristas, e também de antissemitas no mundo todo, que atacam o Estado de Israel mas na verdade se escondem atrás de um profundo sentimento racista, como estamos vendo acontecer na Europa, com a estrela de Davi marcada na porta da casa dos judeus. Na Irlanda ouve-se nas ruas gritos de "Um Estado palestino do Rio ao mar", a declaração de destruição do Estado de Israel. 

Palestinos e israelenses são divididos não apenas pela marca da fé e da história. Há um visível choque de civilizações que impede qualquer sonho maluco de um único Estado na região. O Estado de Israel incorporou os valores de liberdade e democracia do Ocidente. Já a Palestina islâmica bebe na Sharia, a lei política muçulmana que pune severamente quem descumpre as diretrizes islâmicas. Israel foi fundado com 160 mil muçulmanos no seu território, quando é impensável uma única sinagoga segura em Gaza. 

Os direitos humanos são tratados vamo valor universal no Ocidente, assim como a igualdade de gênero. No Islã, mulheres são inferiorizadas e obrigadas a casar contra suas vontades, sofrem com mutilização genital e violência doméstica permitida. Gays podem ser punidos com a morte, hereges pagam com a vida o abandono da religião. Há uma incompatibilidade civilizacional entre o islã e o Ocidente. Como Israel é claramente uma sociedade de tipo ocidental no meio do Oriente Médio, difícil imaginar uma convivência pacífica com quem tanto odeia sua história e cultura. Se o islã não se modernizar, judeus e palestinos só poderão existir separados, de preferência, bem longe um dos outros. 

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