Os intelectuais e a violência

 

Por Adelson Vidal Alves

Daud Abdullah, pesquisador britânico, foi acusado de defender ataques à Marinha real inglesa caso esta atrapalhasse o esquema de contrabando e armamento do grupo terrorista Hamas. Ele ainda está entre os líderes muçulmanos que boicotaram o Dia Memorial do Holocausto e que assinaram um manifesto em Istambul onde se exorta os muçulmanos a "continuar com a jihad e a resistência contra o ocupante até à libertação de toda a Palestina". 

Dauad é autor do livro "Engajando o mundo: a construção da política externa do Hamas", basicamente um acumulado de argumentos tentando mostrar que o Hamas é um movimento com vocação diplomática, sendo Israel e a agora moderada OLP inimigos da causa palestina. O autor sabe e admite que o Hamas não aceita dividir a Palestina histórica, isto é, quer a destruição de Israel. Mesmo assim é "solidário" ao grupo terrorista, como admite Clare Short, autora do prefácio à edição inglesa. 

O atual assessor especial de Lula para assuntos intermacionais e ex-ministro das relações exteriores Celso Amorim leu o livro, e fez o seguinte comentario: " fiquei muito encorajado com as palavras finais do autor: através de maiores esforços diplomáticos e alianças globais, o Hamas pode desempenhar um papel central na restauração dos direitos palestinos“. Um dos principais nomes por trás da política externa do Brasil vê no Hamas um interlocutor legítimo para a causa palestina. 

O terrorismo é uma forma criminosa e bárbara de ativismo politico. No entanto, é legitimidado por muitos intelectuais que glorificam a violencia. Leonardo Boff, teólogo e filósofo ligado ao PT, tratou o terror como a "guerra dos ofendidos" e disse: "Talvez o terrorismo seja a guerra possivel no mundo globalizado, a unica capaz de ser levada a efeito e eventualmente ganha pelos fracos e periféricos, aqueles que insurgem por serem ofendidos em sua cultura e religião". Breno Altman, do site esquerdista Opera Mundi, é um dos entusiastas da violência islâmica contra Israel, tratando o Hamas como "parte decisiva da resistência palestina contra o Estado colonial de Israel". 

Frantz Fanon, idolatrado intelectual negro anti-colonialista, justificou a violência como unico recurso de resistência do colonizado contra o colonizador, no contexto da guerra de independência argelina. Fanon via na própria violência alimento criativo, escreveu ele: "ninguém pode negar que todo o sangue derramado na Argélia definitivamente servirá como fermento para a grande nação africana".

Talvez Georges Sorel seja o grande teórico e propagandista da violência. Autor de "Reflexões sobre a violência" ele foi simpático a iniciativas de enfrentamento direto, principalmente a greve geral. Desde que partindo dos trabalhadores, a violência teria elementos benéficos para toda a humanidade na construção do socialismo. "A violência proletária, exercida como pura e simples manifestação da luta de classes possui um caráter belo e heroico. Serve aos interesses primordiais da Civilização e, até mesmo quando não se configura como uma via adequada para a realização de determinadas aspirações materiais imediatas, tem o potencial de salvar o mundo da barbárie: […] é o tipo de violência da qual o socialismo extrai os mais altos valores morais, através dos quais vêm a salvação do mundo moderno […]".

Não estou entre os que se iludem com a possibilidade de uma paz perpétua. A violência parece ser algo inato em nossa natureza. No entanto, o processo civilizatório foi capaz de erguer instituições e pactos capazes de criar regras minimamente humanitárias mesmo dentro das guerras. Defender o terror e a violência revolucionária, assim, são parte de uma visão atrasada e rústica frente aos valores de civilidade e democracia que persistimos em cultivar diante dos desastrosos exemplos beligerantes da história do século XX. A paz nem sempre é possivel, mas a arquitetura teórica do terror não pode ter validade para os que pensam um mundo mais ordeiro e pacífico.

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