Evangélicos sionistas

 

Por Adelson Vidal Alves 

Acabo de ler "O Estado judeu" do jornalista Theodor Herzl. O livro é considerado por muitos a grande inspiração sionista para a reocupação da Palestina pelo povo judeu. Herzl narra com detalhes todo o sofrimento judaico na Europa, uma perseguição verdadeira e insana contra um povo disperso e sem pátria. O autor traz um plano para a construção de um Estado judeu, que seria laico, tendo uma república aristocrática e um exército moderno. O local? Pensou Herzl na Argentina e na Palestina, vindo  a prevalecer a segunda. Em 1897 realiza-se na Suíça o Congressio sionista.

O sonho judeu de uma pátria, sabemos, se concretizou em maio de 1948, tendo a participação do brasileiro Oswaldo Aranha. A resolução 181 da ONU garantiu a instituição de um  Estado judeu, mas também um Estado palestino. Apenas o primeiro saiu, e só se consolidou com uma "guerra de independência" onde centenas de milhares de palestinos foram expulsos e migraram para regiões onde estão até hoje. O expansionismo sionista é criticado pela comunidade internacional, que sempre trabalhou pela neutralidade em relação a Jerusalém. O sionismo a tem como sua. Os judeus ocuparam a região com apoio britânico, e se moveram por uma perspectiva religiosa literalista, olhando as promessas divinas narradas na Torá. 

Algumas igrejas evangélicas neopentecostais substituiram a cruz cristã pela estrela de Davi. Muitas delas expõem a bandeira de Israel em seus púlpitos, fazem festas judaicas, seus membros usam kipa. Essa "judeização" dos evangelicos parece estranho, e é estranho, visto que o judaísmo rejeita Jesus como o Messias. Mas para esses evangelicos sionistas, Israel é o povo escolhido, o mesmo da aliança entre Abraão e Javé. Orar e defender Israel é defender as revelações biblicas contra os inimigos da promessa divina. Daí que os palestinos passam à categoria de guerreiros que lutam contra o povo de Deus, como os antigos, derrotados em chacinas ordenadas pelo próprio Jeová.

O Israel moderno nada tem a ver com o Israel bíblico. Se formou a partir de demandas seculares, se tornou forte não porque Deus quis, mas porque interessava ao Ocidente ter um aliado poderoso em meio a uma terra de hostilidades ao mundo ocidental. É geopolítica pura, nada a ver com escatologia biblica. 

Mas os evangélicos sionistas não se interessam pelo mundo real, preferem achar que estão dentro de uma história manipulada e controlada por Deus, os homens são só marionetes nessa novela divina. Cada bomba que cai no Oriente Médio é so a bíblia se cumprindo. Cabe então aos evangélicos sionistasapenas orarem por Jerusalém. Que se dane o Estado palestino. 


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