O identitarismo de mãos dadas com o conservadorismo e o fascismo

 


Por Adelson Vidal Alves 

A Nação do Islã nasceu na década de 30 do século XX reivindicando um nacionalismo negro. Seu supremacismo negrista tratava brancos como "demônios de olhos azuis" e "descendentes do mal". Em seu discurso público tentou justificar o holocausto nazista, e por várias vezes culpou os judeus por degenerarem a sociedade. George Lincoln Rockwell, do Partido Nazista Americano, foi convidado a discursar em uma de suas reuniões. Algo semelhante aconteceu com o panafricanista Marcus Garvey, admirador de Hitler e Mussolini, que se sentou à mesa com Edward Young Clarke, líder da Ku Klux Klan. Em comum o fato de ambos estarem convencidos que brancos e negros não podem conviver juntos. 

Na mesma década de 30 é criada no Brasil a FNB (Frente Negra Brasileira). O grupo usava o lema "Deus, Pátria, Raça e Família" e se manifestou em defesa de Hitler, comparado a Zumbi dos Palmares, o "Fuher do Ébano". Além disso, a Frente apoiou a ditadura varguista do Estado Novo, de nítida influência fascista. O fascismo ainda esteve presente nas cabeças de lideranças negras importantes do período, como Abdias de Nascimento, integralista que afirmou ser a miscigenação um ato de genocídio dos pretos, ainda que o próprio tenha se casado como uma não-negra. A tese de Abdias acompanha o racismo científico do século XIX.

O identitarismo flerta oficialmente com posições conservadoras, quando localizadas à direita e geralmente assumindo a identidade da religião e da nação. Só que, como vimos, o movimento negro, compreendido geralmente no seio da esquerda, pode namorar posições da direita e da extrema-direita. 

Podemos também analisar o feminismo e sua estranha relação com o conservadorismo. Na década de 1960 as feministas protestaram pelo seu direito ao prazer, pela posse do seu corpo, pelo sexo sem ser meramente reprodutivo. Mas o feminismo de hoje é moralista e paranóico. A autonomia feminina e a liberdade individual são substituídas por um código de conduta que incentiva o denuncismo contra homens, muitas vezes entendidos como estupradores em potencial. O feminismo lésbico vai além, e trata a relação heterossexual como inevitavelmente abusiva. Mesmo na cama, deve-se rejeitar posições que insinuam a superioridade do macho. Há de se optar pelo gozo por cima, olhando no olho do opressor.

O puritanismo neofeminista se repete entre os negros. Sabemos nós que as seitas protestantes que influenciaram na colonização inglesa das 13 colônias introduziu elementos conservadores na vivência da cultura dos negros, agora totalmente descolados do que é a religiosidade e a vida na África. Como sempre, coube aos pensadores negros importar esse puritanismo frio da matriz do Norte, e fazer dos pretos brasileiros "sem gingado, sem capoeira, sem samba e sem sensualidade", usando as palavras do antropólogo Antonio Riserio. 

O identitarismo destes tempos pós-modernos é basicamente progressista, ou pelo menos é assim que se reconhece. Mas na prática e na história, há muito de conservador e direitista nas reivindicações das minorias militantes do multiculturalismo.  Falo do puritanismo moral, da frieza, e até formas de supremacismo. Vou além, e lembro que a democracia liberal, da liberdade individual e de expressão, também não caiu no gosto militante identitário. Aqui, optaram por uma patrulha fascista violenta contra todos que pensam diferente. Trata-se de um encontro indecente que passa despercebido por aqueles que acreditam estar defendendo os oprimidos. 

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