Livro detona Homeopatia, Psicanálise, Curas naturais e outras "bobagens"

Por Adelson Vidal Alves 

No ano de 1790 o médico alemão Samuel Hahnemann acreditou ter desenvolvido um novo método de tratamento médico, a homeopatia. Basicamente, este método se configura no uso diluído de substâncias que causam uma doença, e que em doses menores poderiam curar essa mesma doença. Simplificando, é como se café pudesse curar a insônia, ou pimenta curar hemorróidas. Em mais de dois séculos de testes e pesquisas não há nada que sustente a eficácia desse tratamento, ao contrário, estudos recentes e abundantes mostram que a homeopatia não tem qualquer efeito clínico. Puro placebo. No entanto, o Conselho Federal de Medicina brasileiro continua legitimando essa besteira, e milhares de pessoas insistem no seu uso. A boa notícia é que países como França, Inglaterra e EUA já rejeitam o tratamento homeopático de várias formas.

A homeopatia faz parte de uma longa lista de tratamentos alternativos que são detonados no livro "Que bobagem! Pseudociências e outros absurdos que não merecem ser levados a sério"(Editora Contexto), da microbiologista Natália Pasternak e do jornalista Carlos Orsi. Em linguagem relativamente simples, os autores atacam com evidências e bons argumentos um conjunto de pseudociências que lucram milhões de reais a custa de falsas ilusões e promessas mágicas e mirabolantes. 

O livro inicia com uma afirmação que pode gerar debates. Nas primeiras linhas da obra os autores afirmam que a ciência é epistemologicamente a melhor forma de se desvendar a realidade factual. Isso em um mundo de relativismos, que nega a verdade objetiva e onde pipocam ideias pretensamente descolonizadoras que colocam formas alternativas de conhecimento no mesmo patamar do crédito científico. Ainda que a ciência não resolva todos os problemas da vida e seja falível, ela é a melhor bússola a nos direcionar nas grandes questões que a natureza nos impõe. 

Mas há problemas no livro. Ainda que os autores façam questão de fazer uma divisão nos objetos analisados, não acho justo colocar no mesmo balaio a Psicanálise e a astrologia. A primeira pode não ter efeitos científicos de cura, como propõem as terapias freudianas, mas pode provocar amplos debates filosóficos e de autoconhecimento altamente produtivos. Já a astrologia não passa de picaretagem onde pessoas desinformadas e desesperadas recorrem. 

Pasternak e Orsi são duros com Freud, atribuindo-lhe fraudes. Pode até ser que o pai da psicanálise tenha recorrido a manipulações, mas sua obra é revolucionária, seu pensamento é complexo e provocador. Está bem distante de deuses astronautas e discos voadores, fenômenos demolidos no livro. Os livros de Freud soam pra mim como lindas metáforas do ser humano e seus dilemas frente à sociedade. Não contem comigo para deitar em um divã, contudo, indico com prazer a leitura de um "O futuro de uma ilusão" e "O mal estar na civilização".

Há ainda um bom debate em torno de pontos que, confesso, tinha e ainda tenho dúvidas. Bem sei que algumas dietas são absurdas e podem até matar, mas devo admitir que estava entre aqueles que demonizava carboidratos e glúten. Os autores fazem uma brilhante desmistificação desta ideia, apontando que o equilíbrio é tudo. Orsi e Pasternack também colaboram para destruir o mito naturalista. O papo de que o que é natural é sempre melhor não passa de uma mística pré-histórica e sem amparo na ciência. A hostilidade aos remédios convencionais como sendo maléficos para o corpo matou muita gente, que poderia estar viva caso tivessem aceitado tratamento pelos métodos cientificamente sérios. 

Há doses de positivismo e cientificismo no livro, é verdade, além de linguagem ofensiva, a começar pelo título. Os próprios autores fazem questão de admitir que esse título e certas narrativas são propositais. Eles visam provocar mesmo, pedir atenção para temas sérios. Concordo plenamente com esse marketing, já que a ideia não é falar para dentro do mundo científico, e sim alcançar um público amplo. No final, o livro traz contribuições fundamentais na luta contra os charlatães, a ignorância e o obscurantismo. Vale muito a leitura.



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